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A entrevista de Regina Duarte à CNN teve menosprezo às mortes de artistas e terminou em briga

Secretária de Cultura citou Hitler e Stálin, fora de contexto, para sustentar que "tortura sempre teve", disse que não se manifestou sobre mortes de artistas porque não queria que sua pasta virasse "obituário" e brigou com apresentadores.

Um dia após acertar a permanência no governo com o presidente Jair Bolsonaro, a a secretária de Cultura, Regina Duarte, concedeu uma entrevista à CNN Brasil em que relativizou crimes de Estado cometidos durante a ditadura militar (1964-1985), citou Hitler e Stálin fora de contexto para assinalar que "tortura sempre teve".

Num trecho, Regina Duarte chegou a cantarolar "Pra frente Brasil", música tema da campanha vitoriosa da seleção na Copa de 1970, mas identificada com o período em que a ditadura embicou para o período mais feroz de perseguição, tortura e assassinato de opositores políticos. "Não era bom quando a gente cantava isso?".

Na entrevista, Regina Duarte também que preferiu não se manifestar sobre as mortes recentes de artistas como Aldir Blanc, Moraes Moreira e Flávio Migliaccio porque não queria que sua secretaria virasse "obituário".

Ao ser perguntada sobre críticas em compor o governo de Jair Bolsonaro (sem partido), que já fez elogios ao torturador reconhecido pela Justiça Federal Carlos Alberto Brilhante Ustra, condenado por crimes na ditadura militar, Regina minimizou o assunto.

"'Ah, mas ele [Bolsonaro] fez isso, ele fez aquilo'. Não quero ficar olhando para trás. Se eu ficar olhando para o retrovisor eu vou dar trombada. Tem que olhar para frente, tem que ser construtivo, amar o país. Ficar cobrando coisas que aconteceram nos anos 60, 70, 80? Gente, vambora. Pra frente!".

Nesse momento, a secretária começou a cantarolar "Pra Frente Brasil" e disse que era bom quando as pessoas cantavam essa música. Foi interrompida pelo repórter Daniel Adjuto, que lembrou das mortes naquele período da ditadura.

"Cara, desculpa. Na humanidade, não para de morrer. Se voce falar vida, do lado tem morte. Por que as pessoas "oooh" (fazendo cara de espanto)?"

Novamente o repórter interrompe: "Porque houve tortura".

"Mas sempre houve tortura. Stalin, Hitler... Quantas mortes? Se a gente for ficar trazendo...Desculpa, não quero arrastar um cemitério de mortos na minhas costas. Sou leve, estou viva. Estamos vivos. Vamos ficar vivos. Por que olhar pra trás? Não vive quem fica arrastando cordéis de caixões. Eu acho que tem uma morbidade nesse momento, o Covid tá trazendo uma morbidez insuportável, isso é perigoso para cabeça das pessoas, não está legal".

Antes, ao ser perguntada pela apresentadora Daniela Lima sobre as mortes recentes de artistas importantes na cultura brasileira, como Aldir Blanc e Flavio Miglaccio.

"A minha assessoria, desde a primeira perda, me cobrou uma divulgação. Eu optei por mandar uma mensagem para as famílias das pessoas que perdemos nos últimos tempos. Eu imaginei: será que a secretária vai virar um obituário? O reconhecimento existe ou não existe. O Aldir Blanc, eu admiro muito, mas nunca estive com ele. O país está cultuando a memória deles, não precisam da secretaria da Cultura".

Regina Duarte ficou visivelmente nervosa e encerrou bruscamente a entrevista quando foi mostrado um vídeo da atriz Maitê Proença desta quinta-feira (7), criticando o presidente Jair Bolsonaro e a secretária por não se manifestar sobre as mortes recentes de artistas.

Regina Duarte ficou muito nervosa: "Eu vi, eu vi, precisei dar um chilique aqui. O telespectador me desculpe".

O repórter explicou que os telespectadores não ouviram o que a secretária dizia enquanto era veiculado o vídeo de Maitê Proença e criticou a emissora por veicular o vídeo da Maitê Proença "de dois meses atrás". O vídeo é de hoje.

"Vocês estão desenterrando mortos, vocês estão carregando um cemitério nas costas", reclamou a secretária da Cultura de Bolsonaro.

O clima escalou em tensão, o repórter Adjuto tentou encerrar a entrevista, não sem antes ser interrompido pela apresentadora Daniela Lima: "Não estamos desenterrando mortos, estamos enterrando mortos, entre eles alguns dos seus colegas. Daniel Adjuto, pode ficar à vontade para agora encerrar a entrevista".

Uma voz surge ao fundo, provavelmente um assessor da secretária: "Isso é uma falta de respeito".

Regina completa: "Não foi combinado nada disso".

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