Deborah — Nyack, Nova York
As bruxas, há muito, têm sido representadas na cultura popular como seres sinistros e tenebrosos — às vezes, com narizes torcidos, pele esverdeada e vozes estridentes capazes de congelar o sangue. Mas para a fotógrafa Frances F. Denny, a palavra "bruxa" carrega uma conotação mais cordial e mais próxima da nossa vida cotidiana.
Para sua série de fotos Major Arcana: Witches in America, Frances viajou de costa a costa dos Estados Unidos para encontrar pessoas que se identificam como bruxas. E o que ela descobriu vai além dos estereótipos de como as bruxas são frequentemente representadas. Frances conversou com o BuzzFeed News sobre sua experiência de como foi conhecer essas bruxas e compartilhou com a gente uma seleção de algumas fotos que ajudam a quebrar os estereótipos que temos a respeito das bruxas hoje.
O que despertou seu interesse pelas bruxas?
Frances F. Denny: Há seis anos, eu estava pesquisando sobre a história e a ancestralidade da minha família na Nova Inglaterra, para um projeto que veio a ser minha monografia, que apresentei em 2016, Let Virtue Be Your Guide (deixe a virtude ser seu guia, em tradução livre). Enquanto eu olhava para árvore genealógica da minha família, eu descobri não só que um de meus ancestrais, Samuel Sewall, foi um dos principais juízes nos famosos julgamentos das bruxas de Salem, como também que uma nona avó minha, Mary Bliss Parsons, foi acusada de bruxaria cerca de 20 anos antes desses julgamentos, em Northampton, Massachusetts. Essa coincidência ancestral me pareceu bem significativa, e eu guardei isso em algum canto da minha mente para referências futuras.
Dia — Cidade de Nova York
Alguns anos depois, eu li o livro da historiadora Stacy Schiff sobre os julgamentos de Salem, e me lembrei do fato de que um dos personagens principais foi meu ancestral, Samuel Sewall. Em seu livro, Schiff traz de volta à vida a puritana Nova Inglaterra do século XVII — que lugar sombrio e tenebroso!
Minha imaginação criou asas a partir daí, e eu comecei a repensar o arquétipo da bruxa. Para isso, eu me baseei em 3 perguntas: O que significa a palavra "bruxa" para a mulher moderna? Quem se identifica com bruxa hoje em dia? E o que é a prática da bruxaria?
Como alguém conhece uma bruxa?
Eu odeio dizer isso, mas, de certa forma, esse projeto foi um massivo trabalho de networking. Eu conheci cada uma das modelos por meio de contatos informais e recomendações. Quando eu já havia fotografado umas 12 bruxas, o projeto começou a crescer organicamente. Eu encontrei minhas primeiras modelos através de conhecidos em comum e conversando com pessoas na WitchsFest de Nova York. Confesso que é um tanto esquisito chegar para uma pessoa completamente estranha e perguntar se ela é bruxa, mas funcionou.
Marie e Ebun — Cidade de Nova York
Quanto às sessões de fotos: mesmo que eu dê muitas direções durante a tomada, eu não mexo muito no estilo. Eu pergunto às minhas modelos onde elas gostariam de ser fotografadas e deixo que elas mesmas decidam o que vestir. É muito importante para mim que elas tenham voz quanto à maneira que querem ser representadas, especialmente no contexto desse projeto. E quase sempre começo as tomadas com uma entrevista rápida e informal para poder conhecê-las melhor e, assim espero, deixá-las tranquilas na frente da minha câmera.
Qualquer pessoa pode se tornar bruxa, ou isso é um dom que nasce com você?
Meu projeto inclui vários tipos de bruxas — não tem apenas uma maneira de ser uma, e não existem pré-requisitos ou regras formais para se tornar uma bruxa. No entanto, uma Bruxa Wicca tipicamente passa por certos passos para ganhar sua "iniciação".
A Wicca é uma religião neopagã; e são Bruxas, com B maiúsculo. Existem várias seitas praticantes da Wicca, e elas seguem algumas linhas gerais para se tornarem Bruxas. Mesmo que exista o conceito de "bruxa hereditária" no mundo da bruxaria, como aquela bruxa que vem de uma linhagem matrilinear de bruxas, essa característica não é muito relevante na maioria dos casos.
Simplesmente, não existe apenas uma forma de se tornar bruxa.
Kir — Brooklyn
Para mim, a bruxaria em todas as suas formas se trata de cultivar energia, visão ou poder interior. Esse poder pode ser tanto direcionado para dentro de si, como alguém que usa um feitiço de proteção para poder encarar algum desafio desconhecido, ou para outros, como as habilidades curativas fitoterápicas. A bruxaria pode ser uma prática solitária, ou feita em conjunto — como em um conciliábulo, mas nem sempre. A forma como ela é praticada depende de cada indivíduo.
Serpentessa — Esopus, Nova York
Como foi sua experiência com essas bruxas comparada às suas expectativas antes de começar o projeto?
Eu achei a comunidade bruxa supergenerosa com relação ao tempo, e elas também foram superabertas e confiaram bastante em mim. Minhas modelos pareciam genuinamente animadas em compartilhar esse aspecto de sua vida. Cada pessoa é diferente, mas eu adorei o processo de conhecer minhas modelos e representá-las na tela.
Mesmo tendo encontrado algumas com personalidades um pouco complicadas, foram poucas que me deixaram realmente desconfortáveis — uma delas confessou que era psicopata durante a entrevista. Mas, em sua maior parte, as pessoas que conheci neste projeto foram receptivas, hospitaleiras e incrivelmente generosas.
Como você espera que as pessoas se sintam com essas imagens?
Eu espero que essas minhas fotos ajudem a mudar a concepção das pessoas sobre quem e o que são as bruxas. Há muito mais a respeito das bruxas modernas do que os velhos estereótipos e equívocos passam — que as bruxas adoram a Satanás, que elas enfeitiçam os inimigos, e que estão sempre fazendo maldade, ou, do outro lado, que elas são todas um amorzinho. A beleza da bruxaria está na sua natureza individualizada e maleável.
Não é tudo uma coisa só, não importa como você olhe.
Shine — Cidade de Nova York
Maja — Los Angeles
Randy — Plainfield, Vermont
Wolf — Brooklyn
Leonore — Montpelier, Vermont
Keavy — Brooklyn
Karen — Brooklyn
Para conhecer mais do trabalho Major Arcana: Witches in America, de Frances D. Denny, visite francesfdenny.com.
Este post foi traduzido do inglês.