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Baladas de SP abolem lista VIP por conta de crise

“As pessoas querem entrada grátis, van grátis até o evento, droga grátis… Não tem como.”

Era de lei: toda sexta-feira a caixa de entrada da designer Amanda Sérgio recebia uma enxurrada de convites para festas no fim de semana. “Tudo VIP, eu nunca pagava para entrar”, lembra ela. “Mas faz uns meses que pararam de chegar. E eu parei de sair, quase.”

Não é impressão de Amanda. Produtores de festas paulistanas de diferentes estilos confirmam que a crise, tanto a financeira por que passa o país quanto uma queda de 20% a 30% no número de pessoas que vão a essas festas, encurtou as listas VIP.

Faz pouco mais de um mês que um dos maiores empresários da noite brasileira decidiu mudar a regra dos seus estabelecimentos. Sócio de baladas como Cine Joia, Lions e Yatch, Cacá Ribeiro fez as contas o custo VIP para seu Club Jerome, em Higienópolis. “São R$ 15, entre água, luz, papel higiênico e pessoal por cada pessoa que entra sem pagar.”

“Acho injusto com quem paga e com quem trabalha”, diz Ribeiro, que afirma que, em algumas das suas casas, havia 250 VIPs em uma noite de 800 pessoas na pista de dança. “Tem outras festas por aí que tem mais VIP do que pagante.”

Foi aí que ele aboliu o VIP zero zero — aquele em que o cliente entra de graça. “A pessoa mais VIP gasta R$ 15.” Alguns clientes perceberam, e foram tirar satisfação. “É lógico que tem gente que reclama, gente das antigas que acha o fim da picada. Num primeiro momento, essas pessoas podem até deixar de sair. Mas uma hora elas vão voltar. E vão ter que pagar.”

"Van de graça, droga de graça"

A crise assolou também a noite alternativa. Flavio Ghidalevich, produtor de festas como a Carlos Capslock, a Boiler Room e a nova Heimatlos, teve de rever sua planilha de VIPs nos últimos tempos. “A festa custava R$ 10 mil pra fazer, cinco anos atrás, agora custa R$ 20 mil. Foi preciso fazer cortes.”

Depois de anos de bonança na noite, ele explica, uma fatia grande do público se acostumou a ser VIP, e passou a se recusar a pagar para entrar na festa.

“As pessoas querem entrada grátis, van grátis até o evento, droga grátis… Não tem como.” No fim de 2017, Flavio enxugou seu mailing.

“E parei com VIP de graça. A pessoa que é importante para a festa agora paga menos. Paga o preço do primeiro lote, por exemplo. Se na porta custa R$ 40, o VIP vai pagar R$ 20. Mas não vai entrar de graça.”

A Pilantragi, festa de música brasileira que existe há 10 anos, voltou a acontecer semanalmente, depois de um hiato de alguns meses. E regressou sem lista VIP. Ou quase. “Tem uma lista com cinco, seis, sete, oito nomes de aniversariantes. E só”, diz o DJ Rodrigo Bento. Para ele, os VIPs são outras pessoas. “É quem trabalha na festa, e merece ser pago direito.”

Para Bento, a diminuir a arrecadação da porta prejudica não só os DJs, cenógrafos, seguranças e faxineiros. “É o dinheiro que vai sustentar não só a festa, mas também as ações sociais, como aula de percussão, que rolam o ano todo.”

Ainda tem VIP

Mas não precisa desistir de fazer parte de um mailing: nem todas as festas acabaram com a lista de gratuidade.

Adipe Neto, produtor por trás de festas como a Lunática, a Santo Forte e a Boho SP, não deixou de usar a lista VIP. “Sempre existiu essa ferramenta, tanto para divulgar quanto para atrair gente, se seu foco é o consumo do bar”, diz ele, que controla os bares das suas festas.

“Como negócio, o VIP não é bom para ninguém. Mas ainda é uma estratégia de divulgação”, pondera. “Você transforma qualquer um que recebe o e-mail em divulgador, e toda festa precisa de divulgação, em maior ou menor medida.” Ainda mais num ano em que a entrada nas festas caiu entre 20% e 30%.

Além da queda de frequentadores, diminuiu também o tíquete médio, ou o que um consumidor tende a gastar dentro da balada. Hoje, ele vai de R$ 35, na Santo Forte, a R$ 60, na Lunática. “Antes, era R$ 80. Com essa quebra financeira as pessoas não têm mais grana pra sair; são R$ 30 de Uber, mais R$ 40 para entrar, mais R$ 40 de dois drinks...”

O contexto que ele pinta é similar ao problema de Amanda, a designer que parou de receber convites VIP: “Se antes eu já entrava no vermelho todo fim de semana, sem pagar para ir para a balada, o que vai ser do meu extrato bancário agora?”.

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