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Acusado de agressão, dono de hotel de luxo faz posts políticos patrocinados nas redes sociais do cinco estrelas

Foto do mar azul de Ilhabela visto da varanda de uma suíte do DPNY: 77 likes. Post apoiando Alckmin e Doria: 283 mil reações.

Uma foto do mar azul de Ilhabela visto da varanda de uma suíte: 77 likes. Uma imagem aérea de uma piscina no meio da areia branca: 2.700 likes. Um post apoiando a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência e de João Doria (PSDB) ao governo do Estado de São Paulo: 283 mil reações, entre likes, corações, caras bravas e assustadas.

Este é o cardápio de posts da página do Facebook de um cinco estrelas do litoral norte paulista, com diárias de até R$ 5.000. O dono do spa e hotel DPNY, e patrocinador das cartas abertas de teor político na página — de 492 mil seguidores —, é Wolfgang Ingo Napirei, alemão que já foi acusado de agredir hóspedes (o que ele nega).

Em 22 de junho, Napirei divulgou na página a carta “Prospera, Brasil”, em que fazia campanha por Alckmin e Doria. Foi o post das 283 mil reações. A carta é sucinta: “Geraldo Alckmin é uma força política, um exemplo de confiança, um homem sério, íntegro e honesto. João Doria é um homem com espírito empresarial, experiência política e com visão de como o país necessita prosperar”.

Uma carta aberta anterior, também de junho, dizia que "precisamos de um novo presidente e de uma liderança com atitudes apropriadas que sirvam ao nosso país".

"Talvez, anterior ao período das eleições, os militares ocupem os cargos destinados ao presidente da República e aos ministros, isto em caso de as instituições não conseguirem fazer valer a Lei", dizia a carta.

O empresário, que já teve antiquários e agências de publicidade na Europa, confirma que patrocinou as publicações. “Prefiro não comentar valores.”

O público-alvo do seu texto político, afirma Napirei, são pessoas entre 25 e 55 anos, de classe A e B. “A mesma estratégia de venda do hotel utilizamos para nossas Cartas Abertas”, diz o dono do lugar.

Os textos, que ele publica desde 2014, versam sobre política municipal, meio-ambiente e crise econômica. Mas este ano estão chegando a mais gente do que nunca, graças ao patrocínio.

A carta trouxe comentários tanto positivos quanto negativos. E faz parte do jogo, acredita Napirei. “Apoiar um candidato é uma opinião pessoal minha, sou consciente do fato de não agradar a todos, mas este é o intuito de gerar questionamentos aos leitores para que na próxima eleição tenhamos mais sucesso para o futuro do Brasil.”

O empresário diz que, até agora, a prática não fez mal aos negócios. “Sei que nossos atos podem afastar clientes, mas tenho certeza que atraímos muito mais do que afastamos.”

Comentários que contestam seu ponto de vista são respondidos, ele afirma. “Fazemos apenas a remoção de posicionamentos discriminatórios e agressivos.”

Quanto custa o like?

Um profissional que trabalha comprando mídia para marcas em uma das maiores agências de publicidade explica que é difícil estimar o quanto se gasta para se conseguir chegar a tanta gente: “Um like pode custar dois centavos ou R$ 1,20, varia muito da segmentação e do interesse que o post vai despertar”. O profissional afirma que calcular cada reação em R$ 0,05 é uma conta bem generosa. Nesse caso, o hotel teria gasto R$ 14 mil só no post pró-Alckmin e Doria.

“Dá para ver que eles privilegiam o patrocínio de posts políticos”, diz o analista de mídia, que só topou comentar o caso se não fosse nomeado. O profissional aponta que um post feito um dia antes da carta eleitoral, sobre as férias de julho no resort, teve 7.400 reações — 30 vezes menos do que o de cunho político.

“Juro que estou tentando entender pq vcs estão publicando coisas sobre política!!!”, comentou a internauta Gi Giseli. O comentário dela recebeu como resposta do hotel uma outra carta aberta, intitulada “Somos Todos Brasil!!” (um trecho da carta diz: “Vamos focar no futuro, num futuro muito melhor, vamos todos ‘tocar o nosso próprio nariz’ e tentar mudar esse cenário, com o máximo de honestidade, transparência, criatividade, inovação, num espírito de cooperação e não de confrontação.”).

O empresário, porém, já deu um passo atrás nas suas opiniões. Em junho de 2017, a página publicou (e patrocinou) uma carta de nome “Dilma, por favor renuncie”. O post teve 3.500 reações antes de ser deletado, por conta da polêmica que causou.

Acusações de agressão

Se hoje o nome de Napirei está na coluna de opinião política, na década passada ele esteve nas páginas policiais dos jornais.

Em 2009, um grupo de hóspedes afirmou ter sido agredido pelo homem que hoje redige cartas abertas sobre o rumo do Brasil. O empresário, que também ataca de DJ, teria pedido que uma turma de quatro pessoas falasse mais baixo na praia, e parasse de beber. Minutos depois, teria voltado com 15 seguranças e agredido os hóspedes, segundo o boletim de ocorrência.

Uma reportagem da “Veja São Paulo” mostrou que, na época, havia pelo menos 11 boletins de ocorrência contra Napirei na delegacia de Ilhabela. Todos relatavam algum tipo de agressão. Napirei sempre negou qualquer má conduta.

Em 2018, um hóspede veio a público dizer que foi chamado de “pobre” por um funcionário do hotel, após reclamar que o quarto em que lhe puseram era inferior a o que havia pago, e que o ar-condicionado estava enguiçado. O DPNY nega.

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