Na última sexta-feira (03), dia do início da audiência pública da discussão do aborto pelo Supremo Tribunal Federal, alguns usuários perceberam que a hashtag #AbortoÉCrime começou a aparecer não só na lista de assuntos mais comentados do Brasil, o que seria natural, mas também na de países como Ucrânia, Vietnã, Suíça e Noruega.
O mesmo fenômeno foi percebido pelos usuários no sábado (04), dia da sabatina de pré-candidatos à presidência na Globo News. A hashtag #BolsonaroNaGloboNews começou a aparecer na lista de assuntos mais comentados no Twitter de países como Bielorrússia, Bahrein, Dinamarca, Áustria, Emirados Árabes e Vietnã.
O usuário @ofabriicio rebateu a acusação do uso de robôs dizendo que a lista de assuntos mais comentados no Twitter muitas vezes reflete Trending Topics que sejam mundiais.
A qual Leandro Demori, diretor executivo do Intercept e diretor da Abraji, rebateu relacionando que tanto a hashtag #AbortoÉCrime quanto a #BolsonaroNaGloboNews entraram nos assuntos mais comentados praticamente de uma mesma lista de países.
André Miceli, coordenador de digital business da FGV e especialista em sociedade digital, acha que é muito provável que realmente seja uma ação de robôs dada a falta de uma relação histórica muito grande com os países listados.
Ele afirma que estudo da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV – DAPP) aponta que 20% do debate político já é feito por bots no Brasil.
Outro especialista, Fabricio Benevenuto, professor de Ciência da Computação da UFMG e pesquisador de redes sociais, também acredita ser grande a probabilidade de serem bots.
Ele explica que um estudo recente identificou o uso de bots nas eleições presidenciais da França em 2017. Várias das contas não eram da França e sim de países do exterior. Ele afirma que é possível que algo semelhante esteja acontecendo no Brasil.
O pesquisador também destaca que lhe parece estranho que um debate dentro TV fechada, com acesso restrito mesmo entre os brasileiros, tenha atingido o Trending Topics de vários países.
Ele é um dos idealizadores do projeto Eleições Sem Fake da UFMG que vem monitorando a presença de bots nos trending topics do Brasil.
Para ele, a estratégia de usar contas no exterior, pode ser uma resposta aos esforços de monitoramento de bots no Brasil.
Entramos em contato com a assessoria do Twitter sobre as acusações e eles repetiram os argumentos do usuário @ofabriicio.
"Os “Assuntos do Momento” (Trending Topics) são determinados por um algoritmo que identifica os tópicos populares da atualidade de acordo com uma série de variáveis. É possível que a aceleração do uso das hashtags em um período concentrado tenha levado o algoritmo a entender que os assuntos relacionados fossem de interesse de outros países (como é de costume aparecerem hashtags em outros idiomas nos Trending Topics no Brasil, por exemplo). Além disso, a listagem dessas hashtags entre os Assuntos do Momento dos países citados também pode ser motivada pelo menor volume total de conversas no Twitter nos mercados em questão, o que torna mais usual a presença de hashtags estrangeiras em seus Trending Topics".
A empresa confirmou que existe, sim, a ação de bots na rede, mas se defenderam afirmando que o Twitter já está sendo bem sucedido em coibir sua ação de forma que suas atividades não chegam a atingir o usuário comum.
ATUALIZAÇÃO:
O post foi atualizado com a opinião do especialista Fabricio Benevenuto.