O guia do homem hétero e branco para o século 21

    Um manual para o cavalheiro moderno.

    Para o cavalheiro moderno, o século 21 pode ser um campo minado. Um cenário camaleônico de acertos, erros e regras em que desavisados e relutantes são submetidos a admoestações jubilosas e vergonha pública. Um campo minado, indubitavelmente!

    Mas não temei. Se a antiga pérola “não seja um idiota” não for suficiente para você, eis um pequeno manual para a boa convivência com o restante da humanidade. E para que não sejas um idiota.

    Como se sentar em nome do INTERESSE PÚBLICO!


    Ora, ora, camaradas, sei que vocês têm culhões (e ainda por cima dos grandes, aposto!), mas a posse de esferas de respeito não os exime dos princípios do decoro cavalheiresco.

    Sim, suas pernas se acomodam naturalmente dessa maneira – mas você é capaz de manter-se na vertical apesar de toda essa gravidade, correto? Mas é claro que sim! E, ademais, há maneiras melhores para o homem se expressar além de obrigar estranhos a fitar suas partes.

    Transporte público é compartilhado: um pouco mais de empatia e um pouco menos de espaço para as pernas fazem uma grande diferença.

    Manter as pernas unidas não exige esforço algum! Você vai ter de acionar seus impressionantes músculos das coxas. Ora, considere as loas! “Olhe este rapazola”, dirão, “que controle das coxas!”.

    Nenhum de nós foi abençoado com esferas volumosas a ponto de fisicamente impedir o fechamento das pernas. E, se o chassi estiver assim tão inflamado, melhor procurar o médico!

    Oferecendo explicações enquanto homem

    O decoro aqui é simples: cavalheiros jamais explicam.

    Se alguém lhe pedir explicações, inquira se têm certeza e prossiga com cautela e laconismo. Ninguém gosta de enfado! Se não for capaz de resumir em uma ou duas frases, decline educadamente e sugira que façam o download de um Google.

    Cavalheiros, afinal de contas, jamais explicam.*

    * Exceto nas situações em que é indispensável.**

    ** Você identificará a ocasião em que a explicação for absolutamente necessária, pois ela será cobrada.

    Sobre o uso de linguagem apimentada

    Xingar é lindo para caralho, então não permita que aqueles filhos de uma égua te digam o contrário! Envide esforços, todavia, para evitar esse tipo de vocabulário na presença de crianças.

    O repertório desses merdinhas está repleto de insultos tirados do fundo do cu e são ainda mais esmerdeados.

    Você vai parecer um tolo.

    Sobre a arte do retrato genital

    Sejamos sinceros, cavalheiros, quem nunca ousou tirar uma foto do seu próprio Bráulio para posteriormente enviá-la a uma sortuda dama? Que alma galante entre nós, num arroubo de loucura luxuriante, não transmitiu eletronicamente imagens de suas áreas pubianas!?

    Assumo aqui minha culpa! Não há um par de olhos deste lado de Swindon que não tenha se fechado, num surto de risadas, ao receber em sua caixa de entrada uma imagem da minha modesta reputação. Saudações à sua progenitora e assim por diante.

    Bem, ao que tudo indica, essas jovens debutantes reagem com horror ao receber fotos do seu melhor amigo! A notícia me espanta deveras, mas é o que sói acontecer!

    Então, em nome do bem público, cavalheiros, evitem tais transmissões. Mantenham os celulares no bolso, e o Bráulio em sua jaula. Declare moratória para seu membro.

    Existem exceções, entretanto. Se uma jovem pretendente demandar seu curriculum vitae, seja ele curto ou longo, não se faça de rogado e envie as requeridas referências. Mas eis aqui o ponto crucial: é mister esperar o pedido!

    Mas, oh, que infortúnio: tal clamor pode nunca vir a se manifestar. São circunstâncias penosas com as quais todos estamos familiarizados.

    Sobre a expressão da curiosidade em público

    Cavalheiros devem ser vistos, não ouvidos. Não se trata de crítica; pelo contrário, é um conselho inestimável!

    Caso encontre-se em convescote no qual o palestrador convida os presentes a formular inquirições, jamais o faça. Se tiver alguma incerteza, aguarde! Alguém mais pode expressá-la. Manter-se em silêncio em público traz consigo muitas vantagens. Você vai evitar a vergonha, e seu silêncio convida questionamentos.

    Caso necessite sobremaneira dirimir uma dúvida, esgote todas as possibilidades antes de erguer a mão. Questione-se: minha pergunta começa com “Não é exatamente uma questão, mas uma afirmação”? Estou levantando a mão para exibir meu intelecto?

    Quero mostrar a todos que sou o maioral?

    Ou estou erguendo a mão porque tenho uma dúvida genuína, produto de minha curiosidade infinita? Se não for este o caso, mantenha a mão abaixada.

    Um adendo: se tiver a sorte de presidir um fórum público e abrir espaço para os espectadores, procure alguém que não seja nada parecido com você e conceda-lhe a palavra.

    Isso sim é uma ideia novidadeira!

    Sobre a coexistência de sandálias e meias

    Muito pode-se dizer sobre alfaiates e os inestimáveis serviços por eles prestados à causa da moda masculina, mas, no fim das contas (e talvez infelizmente!), por melhores que sejam os conselhos recebidos vis-à-vis sobre as tendências do momento, sua opinião é a que conta. Seja calçar sandálias com meias, shorts cargo no inverno e que tais.

    Em assuntos de estilo pessoal, a palavra final é sua, meu caro cavalheiro.

    Nem TODOS os homens...


    Por mais difícil que seja ouvir críticas, ou mesmo clamores pelo “banimento dos homens” e similares, o cavalheiro deve ficar embaraçado caso venha a pronunciar as desprezíveis palavras: “Nem todos os homens”.

    Encaremos a realidade, camaradas: como recorte demográfico, temos nos comportado de maneira terrível para com outros gêneros, raças e orientações sexuais ao longo dos milênios – e eles têm a mais completa razão em se sentir ofendidos!

    Pode parecer tolice, afinal sempre fomos incentivados a dizer o que pensamos, mas é melhor manter o silêncio. Uma irrupção equivale a um culpado proclamando sua inocência aos quatro ventos, mesmo depois de ter sido flagrado com a boca na botija. Tais protestos não lhe cairão bem!

    Eis uma ideia: ouça. Abaixe as orelhas, retuíte. Seja forte e aceite que não estão falando de você. Nem sempre, ao menos. Porque a verdade é que – prepare-se! – às vezes, sim, estão falando de você!

    E tudo bem. Ninguém é perfeito! Críticas são oportunidades para aprender, crescer e melhorar. Quem aqui é perfeito? Só os mentirosos, eu digo!

    Caso ainda esteja ofendido, espere até estar em minoria durante milhares de anos. Então, e só então, prepare seu cavalo espacial e venha até minhas acomodações lunares; suplicarei às nossas chefes supremas que parem de dizer coisas vis sobre nós, pobre homens.

    Lembre-se: dar a voz ao outro não anula a sua! Igualdade às vezes significa ter menos para que os outros tenham mais. E assim seremos todos mais ricos, prometo!

    Sobre ter opiniões próprias

    Sendo um homem culto, você é especialista em algum assunto, tenho certeza! Mas ninguém pode ser especialista em tudo! Saber quando sua opinião é necessária e quando é hora de ficar quieto é o auge do decoro.

    Eis o truque: você tem um número limitado de cartas na mão, e deve jogá-las cuidadosamente. Não adianta nada colocar todas na mesa de uma só vez. Os amigos da jogatina podem ser todos tolos, mas o homem que sabe segurar suas cartas não o é.

    De um cavalheiro para o outro, sua mão jamais deve conter uma opinião cujo objetivo é silenciar ou culpar outra pessoa por seus infortúnios. Se você, senhor, é da opinião de que mulheres, LGBTQ, pessoas não brancas ou outras minorias são o problema, é provável que na realidade o problema seja você!

    E já que estamos falando disso: ser do contra não significa ter opinião; é justamente o oposto! Tomar uma posição só por tomar é a maneira mais simples de tornar-se um chato. O Advogado do Diabo é o filme estrelado por Keanu Reeves. Melhor deixar assim.

    Então não tuíte aquela resposta. Não deixe aquele comentário. Não comece frases com “mas” ou “bem, na verdade”. Não conte aquela piada óbvia. Não tente marcar pontos! (Não entendo muito de esportes, mas fazer um gol contra um time que já marcou vários não fará de você um vencedor!)

    Não expressar opiniões costuma ser a resposta certa na maior parte dos casos, especialmente em assuntos que não são da sua conta, como o corpo das mulheres, dos LGTBQ e das pessoas não brancas.

    Se estiver na dúvida, peça opiniões! Procure pessoas de outras comunidades para saber suas ideias e não comece discussões. A vida não é um clube de debate da escola, meu caro camarada.

    Sobre não assediar outros humanos!


    É uma verdade universalmente reconhecida (entre os homens, pelo menos) que uma mulher solteira de posse de suas faculdades mentais deve estar querendo um elogio. Então você pode imaginar meu queixo no chão quando descobri que isso é uma grande falácia!

    Permita-me tentar explicar por quê: na realidade, nós homens, com nossas coxas majestosas, ombros largos e estatura olímpica, somos ameaçadores para as mulheres. É verdade!

    Imagine, se puder, ser uma jovem caminhando sozinha pela rua quando um grupo de camaradas decide começar a gritar com você, te seguir, te assediar. Naturalmente você se sentiria ameaçado. Arregaçaria as mangas para uma boa briga!

    Bem, sendo no geral menos intimidante do que um grupo de homenzarrões, a maioria das mulheres reputa esses “elogios” e comportamentos como incrivelmente ameaçadores. E não estamos falando só de grupos aqui. Isso inclui homens sozinhos, em pares – todos os homens!

    Se estiver pensando “Certamente, mas eu não? Sou o bastão da etiqueta e da moral!”, então você deveria se lembrar do seguinte: sim, você. Temos uma responsabilidade coletiva.

    As mulheres não servem para alimentar seus desejos. Elas são seres humanos que têm o direito de levar suas vidas sem ameaças ou ofensas. Não é pedir muito, correto? Não esperamos o mesmo para nós mesmos?!

    Suas intenções têm pouca relevância. Viver nessa sociedade ensinou às mulheres que todo homem é um risco em potencial, um agressor em potencial. Não é preciso esforçar-se muito para ouvir essas preocupações e evitar comportamentos ameaçadores.

    A propósito, da próxima vez que vir um de seus colegas de esquadrão cercando uma mulher na rua, faça um favor para todos e corte as asinhas do sujeito.

    Sobre a corte na era do Tinder!

    Um livro espera para ser escrito, mas em nome da brevidade serei conciso:

    1. Sem negatividade. Jamais. Se sua ideia de conversar com outro ser humano é trazê-los para sua alcova por meio de humilhações, então o senhor não merece andar acompanhado. Elogie as pessoas.

    2. Esteja no Tinder, no email, no Whatsapp, nas DMs: não comece a conversa proclamando seu amor pelo mergulho nas virilhas, tampouco ofereça seu rosto como banquinho onde ela pode repousar seu corpo. Fale com ela como um ser humano. Faça perguntas. Demonstre interesse. Seja interessante!

    3. Você não tem o direito de sair com ninguém. As mulheres não lhe devem seu tempo nem sua companhia. E não, Hollywood não te estragou com a ideia de que superioridade moral vai te conquistar a mocinha: qualquer parvo entende a diferença entre vida real e ficção.

    4. As palavras para riscar do seu vocabulário incluem, mas não estão restritas a: “vaca”, “vadia”, “puta” ou qualquer outra que implique um ódio profundo de mulheres. Não funciona. Palavras têm força – use-as sabiamente!

    5. A vida não é justa. Não seja legal só porque quer alguma coisa. Ninguém sobe ao pódio só por ser decente, meu camarada.

    Na verdade, esqueça “ser legal”. Seja fabuloso. A vida é curta demais para todo o resto.

    Sobre consentimento e a arte de voar em dupla!

    Nada deveria deixar o cavalheiro moderno mais intumescido que o consentimento ativo.

    Um “sim” retumbante ou até mesmo um celestial “por favor” de uma parte interessada deveria inchar a glândula em questão como um zepelin, atravessando os céus de brigadeiro das preliminares antes de se dedicar às manobras complexas e consensuais do acoplamento!

    O moderno piloto de zepelins deveria agir com graça e charme, e de maneira nenhuma tecer comentários sobre a pista na qual pretendem pousar. Criticar o comprimento da grama (ou a falta dela) é atitude antiesportiva!

    Lembre-se: consenso para uma atividade não é consenso para todas as atividades subsequentes! Peça permissão sempre. Boa comunicação é o maior patrimônio do piloto.

    E, sim, parar para pedir permissão e acionar os protocolos de segurança retarda um pouco as coisas, é verdade. Mas devagar vai-se ao longe!

    Sobre erros e aceitação

    As mais belas palavras que um homem pode pronunciar: “Eu estava errado, me desculpe”. Entalhe-as em seu coração e em suas lápides, cavalheiros. Somos a geração que admite seus erros, pede desculpas sinceras e faz de tudo para não repetir os erros!

    Permita-me dar um conselho top aqui: as mulheres adoram um homem capaz de reconhecer os próprios erros e de pedir desculpas. Na verdade, nada melhor para despertar enlevo que uma demonstração de sinceridade e vulnerabilidade. Um pedido de desculpas é um ótimo começo!

    Veja também: “Desculpas”, “obrigado” e dar crédito quando for necessário.

    Soltando a bomba atômica

    Rapazes, vocês sabem que amo hip-hop. É uma cultura cheia de poesia e graves que batem fundo. Mas ela também pode ser um arsenal de N-words! Permita-me ser franco e direto: não é nem nunca foi adequado para um cavalheiro branco soltar uma bomba dessas, mesmo que esteja cantando junto com seu rapper predileto!

    E nada de dizer: “Bom, se eles estão falando, também posso!” Caso você perca a carteira de motorista por dirigir perigosamente, não poderá assumir o volante de seu veículo automotor só porque seus vizinhos continuam dirigindo! Você está proibido, camarada. Permissão revogada. (Especialmente se sua família estava usando aquele veículo automotor para a centenária opressão e subjugação de um povo.)

    Você pode não ter dirigido na época, como aponta corretamente. Mas, no interesse da coexistência e do respeito, melhor deixar esse veículo na garagem.

    Veja também: usar qualquer termo do vernáculo inglês afro-americano sem entender o contexto ou significado. Apropriação é crime suficiente sem o insulto adicional do uso incorreto!

    Sobre autodepreciação e HUMOR!

    A vida é espúria, não séria. Aprender a rir de si mesmo pode ser uma provação, mas tem sua recompensa. Conheço bem essa luta: já fui um sujeito sério, extremamente sensível e dado a ataques de raiva. Todo comentário era uma afronta, toda crítica, um ataque.

    Viver era uma penúria, uma tortura. Noites mal dormidas, remoendo e cultivando mágoas. Isso não é vida! Quando aprendi a rir de mim mesmo, o mundo abraçou a mim e às minhas falhas.

    Na realidade, e talvez você queira tomar nota disso, não esperam que você tenha peitorais perfeitos e bíceps volumosos. (Para registro, Magic Mike é um filme, não um manual, e sentir-se atacado pessoalmente não significa opressão cultural!)

    Ser humano é ter falhas. O restante é marketing. Melhor desassociar-se daqueles que querem te ver no fundo do poço. Leveza, camaradas! Ria! Deleite-se nos campos da curiosidade e do deslumbramento! Estamos aqui só de passagem, a vida tem de ser curtida!

    Se você tirar alguma coisa dessas palavras, cavalheiros, que seja o seguinte: compaixão é mais útil que raiva, empatia traz mais recompensas que o ódio e um belo par de sapatos é um dos melhores investimentos a fazer na vida.

    Finalmente, como disseram dois sábios: sejam excelentes uns com os outros.

    Veja também:

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    Este post foi traduzido do inglês por Sérgio Teixeira Jr. e editado por Luísa Pessoa.

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