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Pode existir um Twitter imparcial, mas ele nunca será perfeito, diz CEO da plataforma

"Existe mais de um Twitter... mas, atualmente, nosso produto não permite que você veja isso."

O CEO do Twitter, Jack Dorsey, não tem todas as respostas. Por exemplo, ele não tem certeza se você deve apagar seus tuítes antigos. Ele mesmo apagou alguns — mas só por causa de violações de direitos autorais. Em entrevista para o BuzzFeed News, Dorsey discutiu o papel único e perigoso do Twitter como condutor de debates políticos e culturais. Ele falou sobre seu esforço recente de cortejar os conservadores dos Estados Unidos, apesar das fortes críticas da esquerda. Dorsey também falou sobre os erros iniciais do Twitter, incluindo a falta de diversidade de seus fundadores, e se pode existir um Twitter realmente imparcial.

Sobre a tendência recente de desenterrar tuítes antigos e se as pessoas devem apagar seus tuítes:

Preciso pensar muito mais sobre isso. Não tenho pensado nisso tanto quanto deveria. Mas quero viver em um mundo onde as pessoas possam tuitar algo que persista, porque é importante ver como evoluímos e crescemos, mas que isso não seja considerado quem essa pessoa é. Que as pessoas tenham a liberdade de esclarecer, de crescer, de melhorar e que você realmente possa ver melhorias significativas por causa dos tuítes do passado.

Então não quero necessariamente mudar para um mundo onde tudo o que dizemos é completamente efêmero, porque acho que o registro público permite que o mundo entenda as decisões tomadas no passado e os erros — ou os benefícios — dessas decisões. Acabar com esse arquivo parece desperdiçar uma oportunidade de aprender, mas reconheço o fato de que pessoas estão utilizando o passado para mudar as ações no presente, e, agora, não sei como construir um mundo ou um produto que permita mais esclarecimentos sobre uma mentalidade de aprendizado que as pessoas possam assumir.

Sobre apagar seus próprios tuítes antigos:

Eu não apaguei. Bem, a não ser que tivesse sido obrigado. Uma vez, tuitei e recebi uma violação de direitos autorais da Disney.

Sobre se o Twitter torna a política e o diálogo tóxicos:

Acho que pode tornar. E é aí que precisamos analisar melhor o que incentivamos. Se quisermos nos concentrar nas conversas, precisamos garantir que isso seja extremamente rápido e fluido. Um bom exemplo disso é a mudança de 140 para 280 caracteres. Não vimos uma alteração do comprimento total dos tuítes em relação a essa mudança, mas acho que 280 é muito importante porque permite maiores nuances nas respostas. O fato de as pessoas poderem responder com mais caracteres permitiu muito mais nuances nos debates e muito mais espaço para pensar e construir um pensamento e articulá-lo.

Não é um ponto final de jeito nenhum, mas há coisas que podemos fazer para chegar a uma discussão com muito mais contornos e nuances, o que nosso produto não permite atualmente. Eu olharia com mais atenção para os incentivos que estamos oferecendo às pessoas. No momento, nossos incentivos são principalmente em relação a postar e depois comentar, em comparação ao que achamos que realmente é nosso superpoder, que é a conversa.

O produto não incentiva um caráter de conversa. É necessário trabalhar para que isso flua, e não acho que possamos atingir uma meta de discussão política empoderadora e enriquecedora — ou qualquer discussão—, a menos que realmente comecemos a questionar e avancemos em relação a isso.

Sobre se pode existir um Twitter imparcial:

Acho que um produto imparcial, uma política imparcial e um cumprimento de regras imparcial podem existir. Com imparcial, quero dizer que não vamos forçar nossa inclinação específica, que não faremos ações impróprias para favorecer uma pessoa em relação a outra, e acho que isso pode existir com a quantidade certa de transparência, mas nunca será perfeito. Então, o único antídoto que conheço é falar mais sobre o assunto.

Sobre o que ele está tentando corrigir atualmente:

Existe mais de um Twitter... mas, atualmente, nosso produto não permite que você veja isso. Ele não foi construído para fazer isso. Nosso produto não foi construído para seguir tópicos e interesses. Deveria ser, e é isso que vamos fazer, mas atualmente não é. Quer dizer, você está no comando de uma conta que pode ter múltiplos interesses, mas que está sempre confirmando uma coisa ou arrastando você para algo que pode não representar um panorama mais amplo ou ser de seu maior interesse. Então, demos apenas ferramentas muito grosseiras para as pessoas gerenciarem suas experiências. Seguir contas é a número um, e precisamos acabar com isso.

Sobre se há uma linha que o presidente Trump pode cruzar que pode fazê-lo ser banido do Twitter:

Dorsey: Acho que essa linha está em torno dos cidadãos privados. Acredito que os cidadãos privados merecem mais nossa proteção do que as figuras públicas, mas isso tem que ser feito no contexto de como efetivamente estamos vendo nossos líderes globais. Acreditamos que é importante que as pessoas vejam e possam se comunicar em torno de como agem, como pensam e como tratam as outras pessoas.

[Vijaya Gadde, chefe do Departamento Jurídico, de Política e Confiança e Segurança do Twitter, acrescenta esclarecimentos.]

Gadde: Sim. Acho que está certo. Acho que se você me perguntasse bem diretamente, tipo “Tudo o que o presidente diz faz parte do interesse público?”, eu diria que não, mas, se você me perguntasse o que não faz parte, acho que isso seria avaliado caso a caso, usando os critérios que estabelecemos. Concordo que isso é subjetivo e tem suas nuances, e eu gostaria de criar mais contexto em torno disso para que tenhamos uma maneira mais consistente de cumprir as regras no futuro.

Sobre os erros iniciais do Twitter que levaram a casos de assédio:

Construímos algo que era extremamente aberto e observamos que as pessoas o estavam usando — com um símbolo @ antes dos nomes para se referirem uns aos outros — com a intenção subjacente de ter uma conversa, de responder às pessoas. Facilitamos um pouco mais e depois criamos um novo vetor para qualquer um entrar, para qualquer pessoa no mundo se dirigir a você.

Com certeza deveríamos ter tornado a marcação de pessoas mais fácil e acessível para todos, mas não sei se necessariamente consideramos tanto quanto deveríamos as abordagens negativas ou as abordagens de assédio que isso possibilita. Outro exemplo disso são as tendências, descobrimos uma empresa pequena que estava analisando nossa API, fazendo análise de sentimentos, buscando tendências. [...] Isso nos mostra o que as pessoas estão pensando. Naquela época, não pensamos sobre como as pessoas poderiam manipular e artificialmente amplificar essas tendências, e não sei se estávamos preparados para isso.

Dorsey também abordou as alegações de que a liderança homogênea — hétero, branca e masculina — inicial do Twitter levou a uma falha de 10 anos para abordar o assédio:

Acho que provavelmente poderíamos ter reconhecido as ameaças muito mais rapidamente, mas não sei. Acho que o valor de construir uma liderança diversificada é a perspectiva e ouvir a comunidade, mas, ao mesmo tempo, também poderíamos ter sido melhores ouvintes sobre o que estava acontecendo dentro do serviço. Provavelmente, há muitas coisas que eventualmente ignoramos ou não priorizamos.

Sobre se ele acha que está sendo manipulado por conservadores que acusam a empresa de censura:

Só se em nossas ações nos permitimos ser manipulados. Acho que é muito importante que nós, e estou chegando à conclusão de que mais e mais especialmente eu, preciso me afastar. Por exemplo, quero reconhecer meu viés e também quero reconhecer que existe uma separação entre mim e nossa empresa e como agimos. Precisamos ser muito mais transparentes, precisamos mostrar isso em nosso produto, precisamos mostrar isso em nossa política e precisamos mostrar isso em nosso cumprimento de regras, e acho que temos isso nos três itens, mas vale a pena repetir várias vezes. A razão pela qual estamos conversando com mais conservadores é só porque no passado não conversamos muito. Pelo menos eu não conversei.

Sobre por que ele escolheu dar uma entrevista para Sean Hannity, que promove teorias da conspiração:

Não estou lá em uma entrevista com Sean Hannity, falando com Sean Hannity, estou falando com as pessoas que o ouvem. Meu pai costumava ouvi-lo. Meu pai é republicano, quem ele ouvia todos os dias era Rush Limbaugh. Não posso parar e dizer: 'Ah, Sean Hannity, ele disse x, y e z, então não posso falar com ele'. Porque não estou falando com ele, estou falando com quem o ouve. São essas pessoas que precisamos alcançar e é com essas pessoas que precisamos discutir. É aí que estão nossos clientes. Precisamos encontrá-las onde elas estão, e podemos não concordar com os canais que elas estão ouvindo, mas, se eu tiver uma oportunidade de alcançá-las nesse canal, ainda poderei controlar a conversa.

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Este post foi traduzido do inglês.

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