O que sabemos até agora sobre operação que prendeu ex-ministro Paulo Bernardo
Ex-ministro foi preso no apartamento funcional da mulher, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).
Batizada de Custo Brasil, a operação que resultou na prisão do ex-ministro Paulo Bernardo apura o pagamento de R$ 100 milhões em propina em contratos para a gestão de crédito consignado na folha de pagamentos de funcionários públicos.
Ueslei Marcelino / Reuters
Paulo Bernardo foi preso em Brasília. Ele estava no apartamento funcional de sua mulher, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). Ele é suspeito de ter recebido propina da Consist, empresa que geria empréstimos consignados dos servidores federais.
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Policiais federais em frente ao prédio onde ex-ministro Paulo Bernardo e senadora Gleisi vivem em Brasília
- Paulo Bernardo foi ministro do Planejamento de Lula e depois, sob Dilma, assumiu a pasta das Comunicações. Esquema começou quando ele era ministro do Planejamento.
- O dinheiro saia da empresa Consist, que transferia dinheiro a empresas de fachada e então era distribuído a políticos e operadores.
- Ele é suspeito de receber ao menos R$ 7 milhões do esquema.
- Investigadores têm indícios de que esquema de corrupção irrigou campanhas eleitorais do PT.
- Indícios de que senadora Gleisi Hoffmann foi beneficiada pelo esquema foram remetidos ao STF (Supremo Tribunal Federal).
- O procurador Andrey Borges afirmou: "Havia uma organização criminosa no coração do Ministério do Planejamento".
- Preso em Brasília, o ex-ministro será transferido para a carceragem da PF em São Paulo na noite de quinta-feira (23).
Também foram alvos de condução judicial o ex-ministro da Previdência Carlos Gabas, o secretário municipal de gestão da prefeitura de São Paulo, Valter Correia, e o jornalista Leonardo Attuch, dono do Brasil 247.
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Ex-ministro Carlos Gabas, da Previdência.
- Ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira, ligado a Paulo Bernardo, também foi alvo da operação. Ele é suspeito de ter recebido propina da Consist através de um escritório de advocacia. Ele não encontrado em casa e a polícia o considera foragido.
- João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT que está preso desde o ano passado em Curitiba, teve novo pedido de prisão decretado pela Justiça Federal de São Paulo. Veja mais aqui.
- Advogado de Paulo Bernardo e da campanha de Gleisi, Guilherme Gonçalves está em Portugal e é considerado foragido. Ele foi incluído no alerta da Interpol.
O BuzzFeed Brasil localizou o ex-tesoureiro do PT, Paulo Ferreira, que é considerado foragido, por telefone em Brasília. Ele disse que aguarda orientação de seu advogado para se apresentar à polícia. Ele disse que não foi localizado porque mudou de endereço.
“Soube que tem um mandado de prisão expedido. Pela mudança de endereço eles não devem ter me encontrado. Estou à disposição. É um envolvimento completamente indevido por parte desse delator. Não tenho motivo para não me apresentar à Justiça”, disse Ferreira ao BuzzFeed Brasil.
Policiais federais estiveram na sede do PT em São Paulo. Só havia seguranças quando os agentes chegaram. O advogado Luis Bueno, do partido, acompanhou os procedimentos.
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O esquema funcionava assim: de cada R$ 1 de taxa cobrada a cada prestação de empréstimo consignado, 70 centavos iam para a organização criminosa, segundo os investigadores.
O valor mensal descontado em folha era de R$ 1,25.
Em agosto do ano passado, as investigações da 18ª fase da Operação Lava Jato mirou num esquema de propinas através da Consist, empresa que administrava o software de controle dos empréstimos consignados.
Em setembro de 2015, por ordem do Supremo Tribunal Federal, a investigação foi desmembrada dos inquéritos que corriam na vara do juiz Sergio Moro e remetida para a Justiça Federal de São Paulo.
A empresa recebia um percentual para cada empréstimo concedido. Naquela época, a PF estimou que ao menos R$ 52 milhões, entre 2010 e 2015, foram destinados ao PT.
Um dos operadores da Consist preso no ano passado, o advogado e ex-vereador Alexandre Romano fez acordo de delação premiada.
Como desdobramento desta primeira investigação, a senadora Gleisi passou a ser investigada pela Procuradoria-Geral da República. Veja mais aqui.
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Paulo Bernardo e Carlos Gabas ainda não se manifestaram. Por meio de nota, a Editora 247 disse que Leonardo Attuch foi "convidado" a depor e foi "espontaneamente".
Em seu site, o PT divulgou uma nota de repúdio à ação da PF na sede do partido, em que considerou "desnecessária e midiática" a busca e apreensão no imóvel. "Em meio à sucessão de fatos e denúncias envolvendo políticos e empresários acusados de corrupção, monta-se uma operação diversionista na tentativa renovada de criminalizar o PT", afirma o texto.
Nesta sexta-feira (25), o ex-tesoureiro do PT e ex-deputado Paulo Ferreira se entregou à Justiça em São Paulo. Ele havia explicado ao BuzzFeed Brasil que a Polícia Federal não o encontrou em Brasília porque ele mudou de endereço.
Ferreira é marido da ex-ministra de Dilma Tereza Campello que, com o afastamento da presidente, teve de deixar o apartamento funcional do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
Na audiência de custódia, o juiz substituto da 6ª Vara Federal Criminal, Paulo Bueno de Azevedo, manteve a prisão preventiva do petista.
Paulo Bernardo também ficará preso em São Paulo.
João Cruz/Agência Brasil