O beijo gay da novela não apagou os problemas dela
Até concluir que não existe cura gay, o núcleo LGBTQ de "O Outro Lado do Paraíso" teve toques de machismo, racismo e homofobia.
A gente já tinha deixado claro por aqui que não estávamos engolindo a trama da novela das 9:
Como explicamos no post "O Outro Lado do Paraíso" está tirando com a nossa cara.
Pode bater palma, sim, mas nem levanta para aplaudir porque tudo em volta deste núcleo foi uma série de equívocos:
Lá em outubro, no começo da novela, Samuel não aceitava sua própria sexualidade por medo da reação da mãe e se casou com Suzy para manter fachada.
Reprodução / TV Globo
Suzy e Samuel, como 99% dos casais da novela, assim que se casaram foram morar com a sogra.
Suzy, inclusive, foi chamada de piriguete o tempo todo e passou dez anos praticamente implorando para transar vez ou outra com o próprio marido, que a chamava de "enfermeira Suzana" mesmo dentro de casa.
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Primeiro que não vamos nem comentar o machismo de chamar uma mulher confortável com sua sexualidade de piriguete em pleno 2018. Segundo que, além de tudo, faz uns 12 anos que a gíria datou. E esquisito chamar a mulher pela profissão dentro de casa, né?
Sophia, a vilã, resolveu chantagear o médico para conseguir o laudo que levou a mocinha Clara a ser internada. Foi assim que Cido, motorista da vilã, apareceu na história: como o amante de Samuel.
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Ou seja, ele nunca teve muita chance de desenvolver uma personalidade, a função desde o início foi ser o amante negro sexualizado. Explicamos melhor em um post como esse papel é historicamente racista.
A sexualidade de Samuel desde sempre foi usada contra ele, através de chantagens, vinganças ou chacotas de vários personagens – inclusive de Cido.
- Como falamos, ele foi chantageado pela vilã para internar a mocinha.
- Depois, a mocinha resolveu expor a sexualidade dele para se vingar, levando Suzy para encontrar o marido com o amante.
- Suzy mudou o apelido de Samuel de Tigrão para Tigrete – porque, aparentemente, ser gay faz de Samuel uma mulher – e deu escândalo no ambiente do trabalho dos dois, contando da sexualidade do marido.
- Até mesmo Cido tinha atitudes homofóbicas: sempre que rolava alguma treta na família, chamava o namorado de bicha e falava "mãe de bicha" repetidamente, como ofensas. Ele só parou quando o público reclamou desse "apelido" nas redes sociais.
- Ah, e na verdade nem ficou muito claro se Samuel é gay, bissexual ou não quer rótulos
Entre idas e vindas, Samuel e Suzy transaram e ela engravidou. A mãe de Samuel passou a novela toda tramando para a "cura gay" do filho e achou que com a vinda da neta eles formariam uma "família tradicional". Não rolou, mas ela continuou tramando.
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Daí em diante foram meses de enrolação como se eles fossem um núcleo cômico. Até porque, nada mais engraçado que um casal gay, né?
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Quando a nenê nasceu, Cido não entrou no quarto e ficou claro que ele não poderia ter contato com a filha do namorado.
Enquanto isso, Samuel contou para Suzy quem seria seu novo marido.
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Sim, contou. Ela teve um lance com um médico nada a ver com nada, e aí Samuel resolveu que eles deviam casar. Sério.
E ontem, quando Cido finalmente cansou, pegou as malas e resolveu ir embora, Samuel se declarou. Eles decidiram continuar juntos e na casa da sogra, rolou o beijinho e a conclusão de que não há cura gay.
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Ou seja: legal que teve beijo gay interracial, mas a que custo. Globo, melhore!