A batalha para retomar a mais importante fortaleza do Estado Islâmico

Finalmente tem início a ofensiva para conquistar Mossul, a segunda maior cidade do Iraque. O repórter Mike Giglio, do BuzzFeed News, faz seu relato da linha de frente.

Warzer Jaff for BuzzFeed News

Um comboio de soldados peshmerga (curdos) em direção a aldeias próximas de Mosul.

Khazir, Iraque — A tão esperada ofensiva para tirar a cidade de Mossul das mãos da facção terrorista Estado Islâmico começou no início desta segunda-feira (17).

A especulação sobre quando teria início esse ataque durou mais de um ano, com líderes políticos competindo por influência na batalha iminente. Agora, mais de dois anos após o Estado Islâmico se apoderar da segunda maior cidade do Iraque, os soldados do país dizem estar ansiosos para tomá-la de volta. "Esperamos que seja o fim deles", diz Hazem Khaled, de 33 anos, enquanto se preparava para conduzir um Humvee (veículo militar) para a batalha.

Os soldados curdos avançaram em um comboio que chegaria ao leste de Mossul, e soldados iraquianos estavam em posição para lançar sua ofensiva no sul da cidade. Ataques aéreos retumbaram durante todo o dia. O objetivo é coordenar um cerco à cidade. O governo iraquiano disse que 45 mil de seus soldados vão participar da ofensiva.

Mossul, lar de cerca de 1 milhão de civis, é a cidade mais importante que o Estado Islâmico tem sob seu poder. A facção terrorista ganhou notoriedade internacional quando tomou a cidade em junho de 2014 e declarou um califado.

Dada a importância da cidade para os terroristas, alguns soldados se prepararam para uma luta difícil. "Este não é um exército convencional. Não se pode adivinhar o resultado", disse um veterano das forças especiais do Iraque. "Eles [o EI] estão planejando nos levar ao inferno no início da operação, para que percamos a vontade de lutar."

Um ex-comandante do Estado Islâmico que desertou no ano passado e que hoje vive na Turquia disse que os militantes do EI não desistirão facilmente da cidade. "Mossul é o reservatório humano e moral do Estado Islâmico e uma ligação estratégica entre a Síria e o Iraque. Eles dependem de Mossul", disse. "Mossul tem um grande significado no coração dos combatentes. Eles lutarão ferozmente."

Os trabalhadores humanitários foram preparados para a chegada de uma nova maré humana, com muitos civis fugindo do conflito. Os médicos atrás das linhas de frente criaram um centro de trauma improvisado perto de Khazir já à espera de vítimas.

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Forças de peshmerga passam a noite na linha de frente do lado de fora de Mosul.

Conforme avançavam e se distanciavam de Khazir, as forças curdas eram ameaçadas pelo fogo de morteiros do EI. Uma fumaça listrava o céu, vinda de pilhas de pneus em chamas em Bartella, pequena aldeia também sob o controle do EI que estava sendo alvo de ataques aéreos liderados pelos EUA. Rajadas de tiros de metralhadoras soavam à medida que o Estado Islâmico lutava contra o avanço curdo.

No entanto, essas eram as táticas de um exército insurgente em retirada. A imensa quantidade de soldados curdos era o suficiente para esmagar os militantes distribuídos nas pequenas cidades. Dezenas de veículos passaram em sucessão pela estrada sinuosa: Humvees armados, metralhadoras montadas em caminhões, ônibus blindados cheios de soldados. "Nosso objetivo é limitar nossas baixas", disse Said Omar, coronel curdo. "Estamos indo para cercar as aldeias. Se houver integrantes do Estado Islâmico, vamos encurralá-los com nossa artilharia."

A ofensiva coordenada é resultado de mais de dois anos de esforços dos EUA para enfraquecer o Estado Islâmico com ataques aéreos – permitindo que as forças locais retomem o território – e com a ajuda de tropas norte-americanas nas linhas de frente. O plano montado para a retomada de Mossul conta com uma ampla aliança, de combatentes peshmerga (curdos) ao exército iraquiano, até combatentes tribais sunitas à milícia xiita do Irã.

Apesar da cooperação estratégica, as desconfianças perduram. "Agora temos um bom relacionamento com os iraquianos", disse um oficial sênior peshmerga que trabalhou estreitamente com os militares iraquianos para a ofensiva, falando sob condição de anonimato. "Mas não vai durar."

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Colaborou Munzer al-Awad, na Turquia.

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