14 pessoas LGBTQ contam que escola elas gostariam de ter frequentado

E como estamos longe de chegar lá.

BuzzFeed / Getty

Perguntamos aos membros do grupo do BuzzFeed Brasil no Facebook que escola eles gostariam de ter frequentado. Aqui vão algumas respostas:

O texto pode ter sido alterado para concisão e clareza.

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1. "Quando outras crianças me chamavam de bicha a reação das professoras era me dizer: 'É só falar que você não é!'"

"Eu queria ter frequentado uma escola onde os educadores me mostrassem que eles eram parte da solução, não do problema. Quando outras crianças me chamavam de bicha, viado ou gay, a reação imediata das professoras era me dizer: 'É só falar que você não é!'. Ou seja, concordavam que não é algo bom de ser, em vez de tentar educar as outras crianças falando que ser gay não é uma ofensa, que se eu fosse ou não, isso não era da conta deles." - Clayton Silva

2. "Na visão da diretora, a culpa era minha pois eu não 'consertava o meu jeito'".

"Sofri absurdos de bullying na escola e infelizmente os professores e a direção sempre foram omissos. Na visão da diretora, a culpa era minha pois eu não 'consertava o meu jeito'. Os outros meninos ficavam enfurecidos pelo fato de eu ser afeminado e andar com as meninas e por isso pegavam pesadíssimo. Hoje em dia tenho orgulho de ser professor e combater esse bullying em sala de aula. Pelo menos na escola pública onde eu trabalho, os alunos LGBTQs dançam k-pop na sala de aula livremente." - Anônimo

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3. "Deles eu conseguia me defender do meu jeito. Só que veio o maldito professor de química".

"Ser um adolescente gay nos anos 90 era um desafio e tanto. E, para piorar, ainda tinha a turma do fundão no colégio sempre pronta para fazer aquele bullying. Mas, deles, eu conseguia me defender do meu jeito. Só que veio o maldito professor de química. Na hora da chamada, na frente da lousa e com microfone na mão, ele chamava meu nome de forma enfática. Quando eu respondia, ele enchia a mão e pegava no pau dizendo: 'DAI A CEZAR, O QUE É DE CEZAR'. A sala inteira caía no riso e começava a gritar: 'BICHA, BICHA!'

Isso se repetiu ao longo de todo o 2º ano e eu não sabia mais o que fazer. Minha única alternativa era me esconder na cabine do banheiro na hora do intervalo e esperar passar. O resultado? Desenvolvi síndrome do pânico aos 16 anos, em uma época que nem diagnóstico para isso existia. Meus pais achavam que era problema espiritual, meu irmão achava que era frescura e os amigos mais próximos nem sabiam o que estava rolando. Sobrevivi a isso tudo, mas até hoje tenho que lidar com a tal síndrome que reaparece como um fantasma datado." - Cezar Rego

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4. "Eu fui vista pela diretoria como um problema e fui chamada para passar por acompanhamento com a psicóloga".

"A primeira vez que eu gostei de uma menina eu tinha 14 anos e estudava em uma escola católica. Eu contei para algumas amigas sobre achar ela linda, coisa normal da idade, mas ao abrir a minha boca a escola inteira ficou sabendo e pessoas que eu nem conhecia vinham me perguntar sobre isso. Por ser uma escola católica, eu fui vista pela diretoria como um problema e fui chamada para passar por acompanhamento com a psicóloga de lá (hoje eu sei que é proibido, mas na época não sabia).

Na época, tive depressão e até me submeti a namorar um rapaz de quem nem gostava, tudo para ser vista como normal. Eu desejo que ninguém passe por isso, que todas as pessoas possam gostar de outras sem serem vistas como problema e esse assunto seja tratado como algo normal, explicando para todos os alunos que podem amar qualquer um independente de ser homem ou mulher. Por isso acredito que é tão importante falar sobre gênero e sexualidade com crianças, com uma linguagem de acordo com a idade e seus conhecimentos." - Monica Gonçalez

5. "É como se nunca tivesse existido a possibilidade de ser algo que não fosse heterossexual".

"Eu não sofri preconceito na escola, mas sinto que ela não me deu abertura para eu ser quem eu realmente era. É como se nunca tivesse existido a possibilidade de ser algo que não fosse heterossexual. Eu queria ter tido oportunidades dentro da escola para me sentir mais acolhida como bissexual (eu e muitos outros colegas, como descobri depois que nos formamos). Os professores e docentes esquecem que tem gente que não vai seguir o padrão, e acho isso o mais triste." - Malu Assumpção

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6. "Eu mesma cheguei a ouvir de um professor que eu era 'o filho homem que o meu pai esperava'".

"Eu estudei em um colégio particular mega tradicional de Mogi. Naquela época não haviam políticas para inclusão - ou você era hétero ou era aquele apontado, cuspido e chamado de viado por todos os lados. Eu mesma cheguei a ouvir de um professor que eu era 'o filho homem que o meu pai esperava'. O colégio que nossas crianças precisam é de muito respaldo em relação a gênero. Quantos adultos melhor resolvidos não teríamos hoje, né? Quanta gente homofóbica deixaria de existir? Seguimos na fé de que nossas crianças não passem pelo que já passamos." - Paula Portes

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7. "Acho que a importância da educação sexual seria justamente para que eu conseguisse identificar um ato como este naquela época".

"Eu ACHO que um professor já se mostrou pra mim na 8ª série no banheiro. Hoje eu lembro e parece que sim, mas na época eu fiquei meio sem entender. Eu entrei no banheiro e ele estava no mictório. Fui para as cabines e na hora que eu saí ele virou pra mim com o pau pra fora, meio que mexendo, conversando normalmente. Eu saí com aquele nervoso no estômago e muita vergonha, mas tenho dúvidas porque depois ele nunca mais tentou nada. Acho que a importância da educação sexual, por exemplo, seria justamente para que eu conseguisse identificar um ato como este naquela época." - Anônimo

8. "Eu só queria ter estudado numa escola tranquila que respeitasse as diferenças".

"Na real, eu só queria ter estudado numa escola tranquila que respeitasse as diferenças, porque até professora já parou minha mãe no mercado para falar que eu era 'estranho', que os outros alunos me xingavam e que era pra ela conversar comigo. Teve uma vez em específico que um professor estava conversando sobre macarrão na sala e todos estavam falando quais eram seus favoritos. Eu na inocência levantei a mão e falei: 'Meu favorito é spaghetti'. E na hora ele falou: 'Não é penne, Higor?' - referindo-se a pênis. A sala toda gargalhou e eu fiquei super sem graça. Eu era apenas uma criança na 8ª série." - Higor Christovam Piccoli

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9. "Tenho certeza que se a gente tratasse de homofobia nas escolas, meus ex-colegas não seriam hoje pessoas preconceituosas".

"Se eu tivesse aprendido sobre as diversas pessoas LGBTQ da história, ou tivesse esclarecimento sobre sexualidades diferentes em uma aula de educação sexual, por exemplo, o processo de sair do armário teria sido bem mais rápido e prático. Além disso, tenho certeza que se a gente tratasse de homofobia nas escolas, meus ex-colegas não seriam hoje pessoas preconceituosas. Tive sorte de entrar numa escola federal no ensino médio, onde a cabeça das pessoas é mais aberta. Se não fosse por isso, talvez eu ainda estivesse me reprimindo e acreditando que havia algo de errado comigo." - Eduarda Manzke

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10. "Durante a escola foi um inferno, enquanto as meninas ficavam conversando sobre os garotos e sobre namoro, eu só queria estudar e jogar video game".

"Sou assexual e só descobri que eu não era um alienígena e que é normal não sentir atração sexual pelos outros depois de adulta. Durante a escola foi um inferno, enquanto as meninas ficavam conversando sobre os garotos e sobre namoro, eu só queria estudar e jogar video game. Eu era considerada estranha e anormal e jogavam isso na minha cara constantemente. Aos 17 anos, um garoto se declarou pra mim na sala de aula, todos ouviram e logo se espalhou pela escola. Todos, incluindo alguns professores, se meteram dizendo que eu TINHA que sair com o garoto e dar uma chance pra ele. Por causa da pressão, e também movida pela necessidade de me enquadrar, cometi a tolice de dar uma chance pra ele. Foi horrível. Me senti um cocô. Ele não teve culpa, coitado, mas eu sentia verdadeiro nojo do contato dele e não entendia o porquê.

Na época eu ainda não sabia sobre a existência dos assexuais e achei que EU era o problema. Por que não conseguia me sentir atraída por rapazes? E as pessoas em volta me pressionando, achando que eu era lésbica só por estar sempre solteira? Se a escola ensinasse desde cedo sobre diversidade sexual, incluindo a existência dos assexuais, teria me poupado MUITO sofrimento na adolescência e começo da vida adulta. Queria que as pessoas entendessem isso. As escolas precisam falar sobre isso." - Anônima

11. "No 1º ano, eu ainda não tinha me entendido bi, mas comecei a ser chamada de nomes e NINGUÉM fez nada contra esse comportamento dos alunos".

"No ensino médio, eu estudei numa escola cujo dono era ex-militar e todos os alunos eram (e ainda são) tratados como números. Os mais ricos eram tratados melhor e os menos ricos eram tratados pior. No 1º ano, eu ainda não tinha me entendido bi, mas comecei a ser chamada de nomes e NINGUÉM fez nada contra esse comportamento dos alunos. E ainda teve um professor que embarcou na 'brincadeira'. Se eu pudesse voltar atrás e mudar alguma coisa, seria ter aulas sobre diversidade, tanto sexual quanto de gênero, e que isso não fosse tratado como uma coisa chata que vai cair em prova, mas com o mínimo de respeito com outro ser humano." - Carol De Sá Leitão

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12. "Eu que sempre estudei lá demorei muito pra me assumir, sentia vergonha, não queria ser assim".

"Minha escola era aquela na qual não se via claramente a homofobia, porém quando uma pessoa trans queria usar o banheiro ou usar as próprias roupas, ela era ridicularizada e até documento pedindo para ela parar fizeram. Uma menina assumidamente lésbica foi estudar lá e ela foi altamente perseguida e humilhada. Eu que sempre estudei lá demorei muito pra me assumir, sentia vergonha, não queria ser assim. Eu queria muito poder ter vivido minha sexualidade de forma leve, poder trocar selinhos entre os corredores, namorar e andar de mãos dadas, ser um dos casais mais fofinhos da escola, mas infelizmente não foi assim. Eu ainda tenho pesadelos de que estou na escola e isso é um dos assuntos da minha análise." - Gabriela Nunes

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13. "Pra mim o que mais pesava eram as aulas - de biologia em especial".

"Eu nunca consegui me assumir como trans na minha escola. Tinha vários LGBTs estudando lá e mesmo assim eu morria de medo de me assumir. O caso mais memorável que me aconteceu foi quando uma menina cismou que eu era lésbica e hermafrodita (termo pejorativo para pessoas intersexo) e resolveu erguer minha camiseta em pleno pátio.

Mas pra mim o que mais pesava eram as aulas - de biologia em especial. As malditas aulas sobre reprodução, com seus termos 'masculino' e 'feminino' e toda aquela normatividade cis e hétero, tipo 'os meninos começam a sentir atração pelas meninas', 'o contraceptivo feminino', etc. Nunca o assunto homossexualidade foi tocado nessas aulas e no fim cabia a mim a função de explicar pra colegas mais próximos que TODA PESSOA TEM TESTOSTERONA E ESTROGÊNIO, não são hormônios exclusivos de homens ou mulheres, porque o professor mesmo parece ter achado perfeitamente aceitável chamar de 'hormônio masculino' e 'hormônio feminino' e pronto.

Eu também detestava e sempre ficava com nervos à flor da pele com atividades separadas por meninos e meninas, porque não dava pra escapar. Se a sociedade é tão difícil de mudar, eu queria pelo menos ter tido aulas decentes e inclusivas de modo que pudesse aprender melhor sobre meu corpo sem me odiar tanto." - Narriman Chenfel

14. "Eu queria uma escola onde o professor pudesse lecionar e pudesse dizer livremente que meninos podem brincar de boneca e meninas brincar de carrinho se assim quiserem".

"Eu queria uma escola onde o professor pudesse lecionar e pudesse dizer livremente que meninos podem brincar de boneca e meninas brincar de carrinho se assim quiserem, sem ter medo de perder a turma por conta de pais loucos e preconceituosos. Ou uma escola onde eu, que sou professor e gay, pudesse lecionar para meus alunos de 4 e 5 anos sem que os pais me vissem como um possível estuprador. Um lugar onde eu não tivesse que me esforçar o dobro para driblar a desconfiança dos pais em deixar seus fios com um gay." - Anônimo

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