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A Mila deu uns toques sobre como tratar pessoas com deficiência que saíram pra se divertir
Não pegue os braços da pessoa para "ajudar" a dançar sem consentimento.
Susana Cristalli
Há 5 anos
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Depois de ir num show de pagode, a @milamesmo resolveu desabafar sobre como é ser uma pessoa com deficiência tentando se divertir em lugares com grande aglomeração de gente.
Eu preciso conversar sobre a forma como pessoas sem deficiência, muitas vezes, tratam nós, pessoas com deficiência, quando em shows, baladas, carnaval e afins. Eu vou tentar ser mais didática possível, porque realmente acho que preciso fazer isso ser ouvido por muita gente
Porque sim, não há nenhum motivo pelo qual uma pessoa com deficiência não poderia gostar de shows, baladas ou Carnaval.
O que ela tem a dizer não é sobre obstáculos físicos, mas sobre o comportamento das pessoas.
Cada vez que a gente resolve ir a algum evento, já passamos pelo desafio de descobrir se e quanto será acessível, mas eu vou pular essa parte que já tá batida. A gente dá nossos pulos e vai, tá lá curtindo o show como quer/como dá e chega os "bem intencionados" que chateiam.
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Pois, de acordo com o que ela relata, o excesso de boa vontade pode ser problemático.
Ontem teve de tudo um pouco, vou relatar cada um e caso vocês tenham dúvidas sobre o motivo desses comportamentos serem problemáticos, POR FAVOR, não hesitem em perguntar. Eu tô aqui pra falar na esperança que isso se espalhe e que as pessoas reflitam e parem com isso.
É normal pensar que chamar alguém de inspirador seja um elogio, mas a Mila explica que alguém com deficiência não está no rolê para inspirar ninguém.
Teve: 1- gente me parabenizando por estar ali, sendo uma inspiração/guerreira/uma luz (palavras utilizadas por eles, eu juro). Eu organizo minha saída com minhas amigas pra fazer a mesma coisa que todo mundo ali estava fazendo: me divertir. Não estou ali para ser inspiração.
"Se você estranha que pessoas com deficiência estejam ocupando esses espaços, pare para pensar por que vocês acreditam que aqueles espaços não nos pertencem? Se estamos ali é porque é algo mágico, fora do normal? Todo mundo devia ter direito a ir ao show de uma banda que gosta", ela escreveu.
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"Se já te incomoda que mexam no seu cabelo sem consentimento, com o fim de te dizer que tem interesse em você, imagina ter seu cabelo tocado apenas pra pessoa se sentir melhor consigo mesma, 'parabenizei aquele deficiente por tá fazendo o mesmo que eu'", ela também escreveu.
2- pessoas estranhas me abraçam e me beijam (geralmente na testa) como se estivessem comemorando, me consolando ou se emocionando com minha presença. Essas pessoas nunca ouviram falar de respeitar o espaço pessoal? Elas beijam pessoas sem deficiência estranhas na testa?
Alguém numa cadeira de rodas não é um bichinho fofo no qual pode fazer um carinho casualmente.
3- Ontem era show de Pagode, então eu tava lá me balançando do jeito que quero/posso, mas teve 2 pessoas estranhas que pegaram em meus braços para " me fazer dançar". Como se o jeito que eu dançasse não fosse suficiente, como se eu precisasse de ajuda. Lembrando, elas fazem isso
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Ao mesmo tempo em que muita gente se desdobra em gestos desnecessários, algo básico como fazer xixi segue sendo difícil para quem está numa cadeira de rodas.
Eu não costumo beber em festas pra não ter que fazer xixi (acessibilidade né), mas lembrem de me oferecer bebida alcoólica se vocês estão oferecendo a todo mundo, né? A thread ficou longa, mas peço que espalhem. Quero poder curtir sem que encham meu saco. E lembrem sempre:
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É verdade que nós pessoas sem deficiências raramente estamos preparados para lidar com essas situações.
@milamesmo Esses dias eu conheci o esposo de uma amiga e fomos beber num bar. Ele é cadeirante e eu confesso que fiquei sem saber como agir em diversas situações. Era um misto de querer ajudar com não querer ser invasivo. Sua thread me ajudou bastante!
A @send_noides, por exemplo, tinha algumas dúvidas.
@milamesmo Em que momento devo oferecer ajuda pra locomoção da pessoa sem ser invasiva ou ofensiva? Nem todos lugares têm acessibilidade. É falta de noção eu pedir p as pessoas darem licença pra cadeirante passar? Me irrita as pessoas não terem bom senso de darem licença seja pra quem for
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De maneira geral, Mila recomendou sempre observar o que está acontecendo, respeitar o espaço do outro e se questionar se seria mesmo uma "boa ação" ou apenas uma interferência.
@send_noldes Muitas vezes o melhor é observar, se a pessoa precisar de ajuda, ela pode pedir. Quanto a pedir licença, você pode pedir, como pediria para qualquer um que estivesse tentando passar sem conseguir, perguntar é sempre válido.
Talvez estes tuítes possam parecer rabugentos, afinal as pessoas só estavam tentando ser legais. Por isso ela é bem clara: só quer ser tratada como uma pessoa completa.
O inferno tá cheio de gente bem intencionada. Não sou uma chata, sou uma mulher de 31 anos que quer ser tratada como tal. Não infantilizada num show, que eu paguei pra ir, como todo mundo ali. Agradecida pela atenção :)
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