"O que estamos vivendo é desumano" - moradores do Amapá relatam as dificuldades que ainda enfrentam após nove dias de apagão

O BuzzFeed Brasil conversou com pessoas atingidas pela falta de energia elétrica no estado.

A falta de energia foi apenas o início dos diversos problemas que a população do estado segue enfrentando. As redes de internet e celular estão operando com falhas, o abastecimento de água foi prejudicado e os mercados estão com a prateleiras vazias.

Freezer desligado com vários alimentos dentro. É possível observar que as comidas não estão refrigeradas.
Freezer desligado com vários alimentos dentro. É possível observar que as comidas não estão refrigeradas.

Luiza Nobre / Getty Images

Esta foto tirada no dia 8 de novembro mostra um refrigerador fora de funcionamento em uma padaria de Macapá. Donos de mercados e açougues também relataram grandes perdas de alimentos perecíveis.

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Nesta quarta (11), após nove dias de caos e transtornos causados pela falta de eletricidade, a situação continua longe de melhorar. O rodízio implementado pelo governo é ineficaz, e as pessoas estão passando por períodos de até 12 horas sem energia elétrica.

Homem segurando dois sacos de gelo derretido.
Homem segurando dois sacos de gelo derretido.

Luiza Nobre / Getty Images

Desde o primeiro dia de apagão a procura por gelo disparou. É a forma que as pessoas encontraram para tentar preservar os alimentos.

Para entender melhor o que está acontecendo e expor a gravidade da situação, o BuzzFeed Brasil conversou com alguns moradores do Amapá. Eles nos contaram como estão sobrevivendo em meio a essa crise.

Imagem da subestação de Macapá que foi atingida pelo incêndio.
Imagem da subestação de Macapá que foi atingida pelo incêndio.

Getty Images

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O jornalista Danilo Santos, que mora em Macapá, contou que após uma semana de apagão pouca coisa melhorou.

"Teve uma pequena mudança por conta do racionamento, temos energia de seis em seis horas. Dá tempo de gelar algumas coisas, como garrafas de água, além de produzir gelo".

Segundo Danilo, o rodízio também ajuda em algumas questões como volta do acesso à internet em alguns locais e a possibilidade de carregar a bateria de celulares e outros equipamentos. Porém, os horários estabelecidos pelo governo não estão beneficiando toda a população.

Protestantes seguram uma placa escrito "gelo".
Protestantes seguram uma placa escrito "gelo".

Danilo Santos

"Na minha casa eu tenho energia durante a madrugada, então posso dormir com conforto. Mas muita gente não consegue dormir por conta do calor", disse Danilo.

Na imagem acima feita por ele, vemos um protesto de moradores que aconteceu na Rodovia do Curiaú. Eles afirmam que o rodízio de energia elétrica apresenta falhas e não está acontecendo nos horários previstos.

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Neste vídeo publicado ontem, uma moradora do bairro do Buritizal diz que a sua região está há mais de 16 horas sem energia.

Francy Rodrigues / Via Instagram: @francyrodrigues

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Esse sentimento também é compartilhado por Matheus Mont’Alverne, outro morador de Macapá que conversou com o BuzzFeed Brasil. "Estados do sul e sudeste já passaram por situações semelhantes e foram notícia diariamente e quase que o tempo inteiro. É um descaso", disse.

Matheus também nos contou sobre como a falta de energia elétrica afeta sua família. "Minhas avós não estão dormindo e nem se alimentando direito em razão de tudo que está acontecendo, por causa de problemas de saúde e do excesso de calor quando não há energia elétrica ou fornecimento de água potável.".

"O que estamos vivendo é desumano. Pessoas estão passando sede! O preços dos produtos aumentaram muito, o fornecimento de água não está funcionando em muitos locais e as pessoas estão buscando água em até no rio Amazonas", completou Matheus.

Neste vídeo, publicado há três dias, moradores dizem que estão buscando água diretamente no Rio Amazonas.

Francy Rodrigues / Via Instagram: @francyrodrigues

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Morador da periferia de Macapá, o jornalista Fernando Carneiro Pereira conta que as pessoas da proximidades estão passando por dificuldades graves. "A gente vê muita gente pedindo comida, muita gente pedindo água. Quando chegam os caminhões pipa ou doações, tudo se esgota muito rápido."

"Ao mesmo tempo em que vemos muita solidariedade por parte do amapaense que tem condições de doar, a gente também vê muita coisa ruim, como brigas por insumos básicos."

Na imagem, a catadora Raimunda. Ela é uma das milhares de pessoas que estão sobrevivendo através de doações.

Francy Rodrigues / Via Instagram: @francyrodrigues

Fernando concorda que a crise não está recebendo o destaque merecido. "A impressão que a gente tem como amapaense é que o apagão não é uma pauta interessante quanto outros assuntos", afirma.

Ele considera que "A imprensa nacional foi omissa. Ela só teve interesse em pautar, pelo menos na minha visão, quando as pessoas foram nas redes sociais fazer barulho".

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Até ontem, 60% da energia estava recuperada. Mas isso ainda não é suficiente. "É muito importante que entendam que o problema não foi solucionado, a gente precisa ter essa energia 100% recuperada", disse Fernando.

Uma senhora mostra a caixa de isopor onde ela está armazenando água.
Uma senhora mostra a caixa de isopor onde ela está armazenando água.

Luiza Nobre / Getty Images

O jornalista completou: "A gente vê notas e comunicados do governo federal falando que o problema no Amapá foi solucionado, e não é assim. A verdade é que esse problema não está resolvido, porque ainda temos a questão dos alimentos, a questão da água tratada... Muitas famílias não vão ter o que comer ou o que beber esse mês. Se não fossem os movimentos de ações sociais de dentro do estados, acho que muita gente ia morrer de fome e de sede".

Para contribuir com doações, você pode acessar a vaquinha promovida pela organização Amapá Solidário.

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E este post no Instagram também indica lugares confiáveis que estão recebendo doações.

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O BuzzFeed Brasil segue acompanhando a crise do Amapá.

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