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Se o candidato se opusesse ao tema do Enem, ele zeraria a prova?
BuzzFeed Brasil falou com professores sobre a proposta de redação, criticada nas redes sociais de ter viés feminista e esquerdista.
Flora Paul
Há 9 anos
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O tema da redação do Enem 2015, que foi aplicado neste domingo, foi “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”.
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E teve também aqueles que ficaram ofendidos.
Surgiu até um novo Tumblr, o machistinhadoenem.tumblr.com.
Mas será que o Enem estava "obrigando" as pessoas a serem feministas?
nao to entendendo a polemica por causa da redaçao do enem tem que ser feminista pra concordar que bater em mulher é errado?
O BuzzFeed Brasil conversou com três professores sobre a redação: Simone Motta, coordenadora de português do cursinho Etapa; Henrique Braga, supervisor de português e redação do cursinho Anglo; e Claudio Caus, professor de português e redação do Cursinho da Poli.
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Não, segundo os três professores ouvidos pelo site. “Muitos com discursos anti-direitos humanos vão reduzir o debate a uma questão feminista, mas ele era exatamente sobre direitos humanos", diz Claudio.
se vocês tem dificuldade de argumentar contra um tema proposto pelo ENEM sem violar os direitos humanos, tem algo errado né amiguinhos...
"Não tem um viés, é um tema que cobra do aluno o respeito", disse Simone. "Foi isso que criou o alvoroço. Mas a gente não vê como esquerdista, é um tema como qualquer outro que trabalhe com respeito", fala a professora.
Não é novidade: a redação do Enem sempre elege um problema discutido na mídia e no dia a dia da sociedade e pede que o candidato proponha soluções.
A redação do ENEM é sempre um assunto atual... Violência contra a mulher, um tema sempre bem atual. É triste essa realidade.
Nos últimos anos foram abordados temas como terceira idade, trabalho infantil e Lei Seca. "Em algumas propostas fica mais explícito, em outras menos, mas sempre tem a questão de fundo do respeito ao próximo", diz Henrique.
"A lógica do Enem não é avaliar se o participante adquiriu uma série de conceitos que fizeram dele muito erudito, a prova quer avaliar a cidadania do candidato, o quanto a pessoa consegue olhar para o mundo em que está inserida, identificar questões e se sentir parte dele", completa ele.
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Os três professores concordam que é difícil argumentar contra o tema sem ferir os direitos humanos.
O ENEM não é feminista por abordar a violência contra a mulher, gente! Afinal, essa luta não é exclusiva de quem faz parte do movimento.
Exemplos como o de que a mulher que sofre violência "estava pedindo" vão contra a premissa de respeitar os direitos humanos. "Isso não é opinião contrária. Neste caso, você pode zerar por desrespeito aos direitos humanos", fala Simone.
Também não há muita chance para quem resolveu minimizar a questão fazendo uma comparação com problemas enfrentados por outros grupos: "Eu não encontro uma brecha para solucionar a questão sendo contrário a ela. Mesmo se o candidato oferecesse outros indicadores e dados apontando outros grupos que sofrem por determinadas questões, ele provavelmente fugiria da proposta", diz Carlos.
"Alguém que de fato não veja a violência contra a mulher como problema e naturalize a questão, sequer conseguindo colocar uma máscara nas opiniões, corre sim o risco de zerar", fala Henrique.
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"O candidato não pode recorrer à Justiça devido ao tema porque a prova deixa claro o respeito aos direitos humanos", diz Henrique.
E o professor ainda destaca: "Não é uma questão da prova, o país é signatário da Declaração Universal dos Direitos Humanos."
Para Claudio, o tema foi uma boa forma de selecionar os candidatos: "É um tema que ajuda no processo de traçar o perfil de quem deve entrar em boas universidades públicas, um futuro formador de opinião", explica.
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