Na Olimpíada, samba no Morro do Vidigal vai custar 70 dólares
Moradores e empresários da favela mais cool do Rio dizem que as coisas ficam mais caras, sim, por causa dos gringos. Mas ainda há onde comer um PF a R$ 15.
Favela favorita de 10 entre 10 turistas que visitam o Rio, o Vidigal se prepara para um aumento generalizado de preços com a chegada da Olimpíada, assim como ocorreu na Copa.
Funcionária de um albergue no morro — onde também mora —, Victória Botelho diz que o primeiro sinal são as festas. "Fica muito mais caro pra ir, sem contar o preço das bebidas", afirma.
Alexandre Aragão / BuzzFeed
Victória trabalha no Vidigalhouse, um dos albergues da favela que mais recebem estrangeiros. Durante a Olimpíada, segundo ela, apenas três brasileiros se hospedarão ali — de resto, só gringos.
Apesar de ser uma favela, o Vidigal fica numa área nobre do Rio de Janeiro, próximo aos bairros de Leblon e São Conrado, e possui uma das mais belas vistas da cidade.
Desde 2012, o Vidigal tem uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), política pública implementada pelo Estado cujo objetivo era expulsar traficantes das áreas mais pobres do Rio — no Vidigal, até agora, tem dado certo.
Nos últimos tempos, as UPPs têm sido alvo de críticas, principalmente por causa da violência policial contra a população das favelas.
Ponto de encontro de globais no Vidigal, o Cafofo da Nêga está se preparando para receber os turistas com samba ao vivo. O preço: US$ 70 (R$ 229) por pessoa, com a comida incluída.
A dona do lugar, Mônica Assis — a Nêga —, diz que a alta dos preços no morro já ocorre há muito tempo. "Por conta dos gringos já está mais caro", diz ela, que também mora lá.
Na foto acima, a atriz da Globo Thaís Botelho (centro) posa ao lado de Nêga, durante a festa de aniversário da empresária, nesta semana — ela diz que foi um "evento teste" para receber os turistas.
O local está sendo reformulado para a Olimpíada, e Nêga espera receber entre 70 e 140 pessoas por show. São duas apresentações, uma roda de samba tradicional e um "samba show" com mulatas, feitas com o público dos Jogos em mente.
Normalmente, o Cafofo da Nêga cobra entradas populares para as festas e peças de teatro realizadas ali, entre R$ 10 e R$ 25 (mas sem a comida incluída).
Também empresário no morro, Anderson Lima diz que vai cobrar preços populares no Vidigal Pub & Boteco, cuja inauguração aconteceu no último sábado (30).
O local serve cervejas artesanais e comidinhas chiques, para atender os gringos. "Dava pra estourar o preço na Olimpíada e depois baixar, mas a gente quer fazer certo desde o início", diz.
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Segundo Lima, a entrada vai custar R$ 10, mas ele ressalva: "Eu podia cobrar R$ 50 aqui facinho". E a programação vai privilegiar os artistas do Vidigal.
O ator e músico Jonathan Haagensen, famoso por interpretar o bandido Cabeleira em "Cidade de Deus", será uma das primeiras atrações — ele é integrante do Melanina Carioca, grupo formado só por moradores do Vidigal.
O dono do imóvel em que fica o bar de Anderson é o comerciante Manuel Vicente da Silva, paraibano que chegou ao Vidigal em 1974 e construiu um mini-império por ali.
Ele admite que as coisas no morro já encareceram, mas promete não aumentar nada durante a Olimpíada. "Meu restaurante não tem balança e o almoço custa R$ 15."
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Manuel é dono de um restaurante, de um supermercado e de um albergue, além de imóveis alugados. "A gente tem que ganhar na quantidade, sem aumentar o preço", afirma o empresário.
O argentino Nacho Rolfi, que se mudou para o Vidigal em dezembro e trabalha em um hostel cujos donos também são estrangeiros, diz que o preço subiu, mas por um bom motivo.
"A gente trabalha com turismo de impacto social", afirma, antes de explicar que o albergue financia uma ONG que promove cursos de inglês, balé e futebol para crianças do Vidigal.
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Segundo ele, 40% da renda do Favela Experience vai para a ONG Ser Alzira de Aleluia, sediada no térreo do albergue. Eles oferecem os cursos gratuitamente para crianças do Vidigal.
Rolfi, um dia, já foi um dos gringos que ajudam a fazer o preço das coisas no Vidigal subirem. Em dezembro, quando se hospedou no local, ficou encantado. "Foi uma experiência transformadora na minha vida", conta — e por ali ficou.