Mulheres compartilham histórias de assédio em agências de publicidade

Todos os relatos são do Tumblr Liga das Heroínas.

Algumas pessoas estão compartilhando nas redes socias o Tumblr Liga das Heroínas, que reúne histórias de publicitárias que convivem com machismo todos os dias. "É um problema tão comum quanto urgente", diz Luíse Bello, criadora do projeto.

Em entrevista ao BuzzFeed Brasil, Luíse, que é gerente de conteúdo da ONG Think Olga, disse que a ideia surgiu quando ela viu o blog Heróis da Criação, que homenageia grandes nomes do mercado publicitário. "Senti falta de ver mulheres ali. Horas depois, saiu no Meio & Mensagem a lista dos CEOs das maiores agências do país. Só homem. Foi quando eu tive uma epifania muito forte de que, realmente, não existe uma publicitária tão conhecida quanto esses caras.

Enquanto isso, as publicitárias que trabalham em agência convivem com machismo todos os dias. Daí eu resolvi reverter a lógica do Tumblr dos heróis e chamar de heroínas as mulheres das agências, criando um espaço onde pudéssemos reunir suas histórias e, assim, mostrar como esse problema é tão comum quanto urgente", disse Luíse.

Os relatos abaixo foram todos postados no Tumblr, e vão de roubo de ideia à ofensas misóginas. Leia algumas das histórias:

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Roubo de ideias.

Tive ideias roubadas. Fora coisas pequenas do dia a dia por exemplo eu querer consertar meu iPhone e meu chefe "deixa que eu vou com você pra eles verem que tem homem e não te roubarem". E claro, as pérolas "que coisa de mulherzinha", "que gay", "tudo rosinha, que coisa de menininha" (sobre layouts para marcas de cosméticos, por exemplo). No trabalho é uma luta ser ouvida. Já dei ideias e, como sempre, a primeira resposta foi um "não". No dia seguinte o diretor de arte dá a mesma ideia e todos aplaudirem sua criatividade.

Abertura de mercado.

Em uma reunião da gerência e diretoria da empresa (eu era a única mulher) a pauta era abertura de mercado e metas de vendas. Quando chegamos a uma estratégia que decidimos ser o caminho do projeto, um diretor solta a pérola: "depois dessa, o mercado vai abrir as pernas pra gente que nem puta abre quando vê dinheiro!".

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Stalking de candidatas.

Em uma agência estávamos fazendo a seleção [para uma vaga]. Assim que uma das menians que estava participando foi embora, foram stalkear o Facebook e encontraram um photoshoot dela na praia de biquíni. Meus chefes pararam a agência toda pra ficar olhando e comentando as fotos e o slut shaming comeu solto. Nem chamaram a menina pra entrevista. Eu fiquei arrasada.

TPM.

Quando eu era analista de marketing, um dos caras que sentava do meu lado me achou ~muito estressadinha~ um dia e resolveu anotar "todo dia 10" em um post-it, colar no monitor dele e dizer: "pronto, pra eu me preparar pra sua TPM".

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Bonita e de boa presença.

Essa aconteceu com uma grande amiga. Ela tinha acabado de voltar de Londres, onde foi fazer curso de inglês, e foi fazer entrevista na antiga agência na qual ela trabalhou como atendimento de uma grande conta. O diretor de atendimento, que já tinha trabalhado com ela, disse que estavam procurando alguém "como ela", bonita e de boa presença, para agradar o cliente. Ela não aceitou a "grande proposta".

Sexta de ouro.

É fácil saber quando a gente passa por um departamento de criação, especialmente em agências grandes. Trabalhei em uma em que toda semana tinha a "sexta de ouro", também conhecida como "troféu sainha". Os caras da criação usavam um grupo secreto no Facebook para fazer uma votação da gostosa da semana. Uma vez eleita, eles davam um jeito de surpreender a menina e uns 30 caras cercavam ela, colocavam uma música alta e aplaudiam, gritando "gostosa", "merece" etc, e entregando o troféu. Cheguei a ouvir um dos caras gritando "essa eu até estuprava". Todos riam.

Era constrangedor, mas era de conhecimento geral da agência, com aprovação risonha da diretoria, e ser contra era mal-visto "coisa de recalcada". Claro que algumas meninas levavam na brincadeira, mas várias se sentiam constrangidas e vi até uma sair chorando. Soube que uma delas finalmente denunciou pro RH e foi ridicularizada. Sua queixa só foi levada em conta quando ela ameaçou reportar para a gerência dos EUA.

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Aquela sacudida.

Mulheres que engravidam são mal vistas aqui e já vi várias serem demitidas ao voltarem da licença-maternidade. Em outra agência, uma amiga redatora foi assediada por um diretor de criação, que sempre que ia ao banheiro parava antes na mesa dela e perguntava se ela não queria acompanhá-lo para dar aquela sacudida.

Você tem alguma história parecida? Conta pra gente embaixo nos comentários abaixo ou deixe sua contribuição lá na Liga das Heroínas.

A Liga também tem uma página no Facebook e um e-mail: [email protected].

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