Caíque, da banda Fly, diz que foi mal interpretado em comentário acusado de racista

Segundo o músico e a revista Atrevida, "ter cabelo ruim" se referia a acordar com os "cabelos rebeldes".

Publicado por Gaspar José e Clarissa Passos

Neste fim de semana, esta imagem dos meninos da banda Fly falando o que acham sobre usar tranças voltou à tona nas redes sociais.

O trecho foi retirado da edição de janeiro deste ano da revista "Atrevida", e tem outras opiniões dos garotos sobre temas diversos, como boné e biquíni.

Na foto, Caíque Gama diz que tranças são a salvação para "quem tem cabelo ruim". Depois que a declaração foi duramente criticada nas redes sociais, Caíque chegou a postar uma retratação em seu Instagram, Twitter e Facebook, mas depois apagou a mensagem.

Reprodução / Via Twitter: @bchartsbr

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Muitas pessoas começaram a retuitar posts antigos do Caíque com conteúdo discriminatório ou ofensivo, como este em que ele quer distância de gays, postado em 2010.

Reprodução / Via Twitter: @CaiqueGama

Embora ele tenha apoiado a aprovação do casamento gay nos EUA em junho, quando todo mundo trocou de avatar no Facebook e ele postou este tuíte.

Ou este, em que ele já dizia que "tudo bem, mas longe de mim".

Reprodução / Via Twitter: @CaiqueGama

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Também encontraram este, falando que mulheres decentes estão em falta -- o que mais tem é "vagabunda" que é atraída por uma "aliança no dedo".

Reprodução / Via Twitter: @CaiqueGama

Também surgiu um depoimento na página do Caíque no Facebook, assinado pela Esther Vieira. Ela conta que era colega de classe do Caíque no pré, e nunca esqueceu as vezes em que ele a chamava de "macaquinha".

Reprodução

O depoimento de Esther foi apagado da página.

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O BuzzFeed Brasil conversou com a Esther, que confirmou o depoimento e contou que decidiu compartilhar esta história para que cada vez menos pessoas se sintam oprimidas ou ofendidas como ela se sentiu.

Arquivo pessoal

Depois de contar sua história, Esther teve seu perfil do Facebook denunciado e recebeu uma onda de mensagens de fãs raivosas. Mas diz não se arrepender. "Também teve muita gente que me apoiou e me agradeceu por ter decidido falar", contou.

Também conversamos com a Bruna Roverão, que Esther cita no depoimento. Ela estudava na mesma escolinha que Caíque e Esther frequentavam na infância.

Arquivo pessoal

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Bruna se lembra do dia da festinha de aniversário de Esther, que acabou sendo o último dela na escolinha porque Caíque e outras crianças começaram a chamá-la de "macaca".

Arquivo pessoal

"Ela saiu da classe chorando e depois disso mudou de escola", relembra Bruna. "Eu tenho a pele branca e sou filha de negro, meu cabelo é crespo. Então eu tive que ouvir muitas vezes, não só dele mas de outras crianças, coisas como 'seu cabelo é ruim', 'parece bombril'. Quando eu tinha dez anos, pedi para a minha mãe alisar meu cabelo. Agora estou tentando deixá-lo natural de novo". Na foto acima, Bruna e Caíque em festinha na pré-escola.

Procuramos a Atrevida e o Caíque para ouvi-los também. A revista respondeu com um comunicado dizendo que "não teve intenção de ser preconceituosa ou machista" e que a expressão "cabelo ruim" foi usada como sinônimo de "bad hair day". Leia na íntegra:

"A Revista Atrevida esclarece que, a respeito do comentário em questão, publicado na edição de janeiro de 2015, não houve intenção da publicação ou dos entrevistados da banda Fly de ser preconceituosos ou machistas em suas colocações. Entendemos que a expressão "cabelo ruim", dita pelo cantor Caíque Gama, não é uma referência a cabelo afro, mas sim à conhecida expressão bad hair day, ou seja, aquele dia em que o cabelo está rebelde. Porém, mesmo não tendo sido nossa intenção, nos desculpamos com todas as pessoas que se sentiram de alguma forma ofendidas pelo texto. A Atrevida, há 21 anos no mercado editorial, jamais incentivou ou deu voz a discursos preconceituosos ou de ódio de qualquer tipo. A Atrevida tem como lema o "Você é única", sempre incentivando e estimulando o empoderamento das garotas através de matérias que reforcem a autoestima de cada uma das nossas leitoras e celebrem o fato delas serem únicas e tenham orgulho das suas características".

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Por meio de sua assessoria, Caíque disse que não vai se pronunciar e que endossa o comunicado da revista, reafirmando que "cabelo ruim" foi usado como sinônimo de "bad hair day".

Embora na publicação, na frase atribuída a ele, Caíque use o verbo "TER cabelo ruim" e não "ESTAR com cabelo ruim".

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