17 pessoas compartilham suas histórias de relacionamento abusivo com alguém do mesmo sexo

"As agressões físicas rolaram soltas e acabei percebendo que as pessoas que presenciavam isso não levavam a agressão entre dois homens tão a sério."

O BuzzFeed Brasil pediu para que homens e mulheres compartilhassem suas histórias de relacionamentos abusivos com alguém do mesmo sexo.

Agradecemos a todos(as) que dividiram suas experiências com a gente. As respostas selecionadas podem ter sido editadas para concisão e clareza.


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Reprodução/Music Box Films / Via imdb.com

"Eu acreditei que mulheres automaticamente teriam mais cuidado com minha saúde mental. Porém, não foi isso que aconteceu."

"Eu não cheguei a namorar a menina, mas foi algo pesado que acabou destruindo meu psicológico. Nós ficamos numa festa e, logo depois, começamos a conversar. Tivemos uma conexão muito forte, éramos muito parecidas, tínhamos os mesmos pensamentos, etc. Ela sempre deixou claro que não queria nada sério, mas era sempre muito carinhosa e romântica. Ela tinha muitos problemas, e eu sempre tentava ajudar, até que comecei a notar que ela descontava eles em mim.

Ela brigava comigo, me tratava mal, era grossa, quando eu nem tinha nada a ver. No início, eu relevava e tentava 'entender' a situação, mas ao longo do tempo aquilo foi me deixando muito mal. Além disso, eu comecei a notar que ela dava em cima das minhas amigas, de pessoas à minha volta, sem ter o mínimo de respeito por mim ou pela nossa relação.

Eu fui guardando aquilo, ficando cada vez pior. Até que um dia resolvi reclamar da situação e dizer que ela estava me fazendo mal. Aí ela simplesmente inverteu tudo, disse que EU não fazia bem PRA ELA e quis terminar. Paramos de ficar e de nos falar, mas supostamente terminamos bem. Uns dias depois, ela veio falar comigo, dizendo que sentia minha falta, que queria ser minha amiga, que queria o meu bem, essas coisas.

Acreditando que ela realmente queria o melhor pra mim, eu pedi para ela abrir mão e se afastar, porque eu iria me machucar. Só que ela simplesmente surtou, me xingou muito, me fazendo ver que todo aquele discurso de querer meu bem era uma mentira. Ela tocou em fragilidades minhas só para me machucar. E foi aí que paramos de nos falar.

O que doeu mais é que eu sou feminista e não esperava nada disso. Eu acredito muito que mulheres devem respeitar umas às outras, e esperava que, automaticamente, elas teriam mais cuidado com a minha saúde mental. Porém, não foi isso que aconteceu. Eu fui pega de surpresa ao ser tratada daquela forma por outra mulher. Ela me machucou demais e essas feridas estão aqui até hoje." - Anônima, bissexual

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"As agressões físicas rolaram soltas e acabei percebendo que as pessoas que presenciavam isso não levavam a agressão entre dois homens tão a sério."

"Conheci a pessoa com quem tive um relacionamento abusivo na balada e durou um ano e dois meses. Eu com 21 anos, ele com 22 anos. Acreditem ou não, no segundo encontro já começamos a namorar. No terceiro, o 'ciúme fofo' começou a se manifestar.

Em menos de duas semanas tive de decidir entre manter o namoro ou ir a uma festa no Carnaval com meus amigos. Desisti do meu carnaval, ele não. Eu costumava colocar na cabeça que era por um bem maior: 'meu estudos'. Isso porque se aproximava um concurso para o qual eu havia me inscrito. O estudo, porém, não podia mais ser minha prioridade, pois nos vermos todos os dias era quase que uma condição para mantermos o namoro.

O tempo foi passando e minha rotina era entrar em, pelo menos, três grandes discussões por semana. Quando brigo eu não consigo comer, então eu perdi uns bons quilos nesse namoro. Meus amigos perguntavam se eu estava doente. Meu principal companheiro longe dele era meu celular. Se eu demorasse mais do que o costume para responder, era uma tarde inteira justificando a demora. Eu deixei de dormir no ônibus que pegava para ir pra Universidade, pois ele poderia achar que eu estava o traindo por não responder as mensagens.

O fundo do poço foram as agressões físicas. Elas rolaram soltas e acabei percebendo que as pessoas que presenciavam isso não levavam a agressão entre dois homens tão a sério. Era como se dois amigos ou irmãos estivessem se batendo, mas que logo voltariam a jogar videogame juntos.

Em novembro de 2016, decidi terminar. Mas a ideia só foi concretizada meses depois, em março de 2017." - Anônimo, gay

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"Eu só consegui me livrar dela pedindo que ela passasse alguns dias na casa da mãe e trocando todas as fechaduras da casa nesse período."

"Começamos com um relacionamento aberto e, do nada, ela resolveu que não era mais assim e que eu a estava traindo. A partir daí, começaram as agressões. E era por conta de literalmente qualquer coisa que fizesse menção a traição: cena de novela, filme, gente na rua etc. Ela me fez pedir demissão do meu emprego e me mudar com ela, de cidade e de estado, porque, segundo ela, eu estava 'dando' para a cidade toda.

Eu pensei que mudando pra cá com ela as coisas melhorariam, mas, além de piorar, ela não me deixava falar nem com a minha família. Ela também não aceitava nenhum tipo de término. Eu sou faixa preta de karatê, e, mesmo assim, nunca consegui me defender ou reagir de nenhuma forma. Na verdade, eu me senti como todas as outras mulheres que sofrem abuso.

Eu só consegui me livrar dela pedindo que ela passasse alguns dias na casa da mãe e trocando todas as fechaduras da casa nesse período. E, quando nos encontramos para conversar, alguns dias depois, ela já estava com outra. Até hoje ela fala que eu sou louca e doente." - Anônima, 30 anos, lésbica

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"Um dia eu me peguei com pensamentos suicidas. Na minha cabeça, a única saída daquele inferno era terminando a minha vida."

"Eu nunca fui de transar muito. Para mim, sexo duas vezes por semana era mais que o suficiente. Mas ele queria duas a três vezes ao dia. Depois do primeiro ano de namoro, ele começou a me agredir verbalmente e psicologicamente toda vez que eu recusava sexo. Ele era agressivo e eu, com medo, transava sem vontade para nada acontecer.

Fiquei mais um ano nesse relacionamento e as coisas pioraram, as agressões ficaram piores e eu me sentia a pior pessoa do mundo. Eu sou passivo, e quem é sabe que dar sem vontade é pior coisa do mundo. Eu sentia dores intermináveis. Quando completamos 2 anos de namoro, decidi terminar o relacionamento e as coisas só pioraram: toda vez que eu dizia que eu não aguentava mais, ele tentava se matar na minha frente para eu ficar com remorso. E, quando eu aceitava voltar, ele transava comigo enquanto eu ainda chorava.

Um dia eu me peguei com pensamentos suicidas. Na minha cabeça, a única saída daquele inferno era terminando a minha vida. Eu já tinha tudo planejado, mas, no dia, eu decidi ser forte. Liguei para a mãe dele e disse: 'eu vou embora, você tem 10 horas para chegar aqui. Se você não aparecer, eu não tenho como te garantir que ele não vá se matar. Me desculpe, mas é a vida dele, ou a minha.' Assim que ela chegou eu fui embora, não levei nem minhas roupas, só queria ficar livre.

Eu sei que é difícil, mas um dia você consegue a força que precisa para sair dessa situação. Pode não ser hoje, e nem amanhã, mas acredite que isso vai passar, vai acabar e você vai ficar bem." - Anônimo, gay

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Reprodução/Sundance Selects / Via imdb.com

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"Para ele, eu deveria continuar sempre com ele, pois nenhum outro conseguiria aguentar a pessoa 'inútil e sem atributos especiais' que eu era."

"Namoramos por 1 ano e 3 meses ao todo e tudo começou a mudar a partir dos 6 meses. Ele começou a me colocar para baixo, a me fazer acreditar que eu era uma pessoa ruim, que eu não tinha talentos e que todas as minhas conquistas eram 'mera sorte'. Para ele, eu deveria continuar sempre com ele, pois nenhum outro conseguiria aguentar a pessoa 'inútil e sem atributos especiais' que eu era.

Havíamos marcado uma viagem para comemorar um ano de namoro (viagem que foi marcada a contragosto por mim, mas ele conseguiu fazer a minha cabeça). Como fiquei desempregado alguns meses antes da viagem acontecer, e ele era desempregado também, e eu sempre custeava todas as nossas despesas, sugeri que deveríamos cancelar a viagem.

Foi aí que ele surtou, me falou coisas que até hoje não consigo esquecer e partiu para a violência física. Nesse momento, eu percebi que estava em um relacionamento abusivo e consegui me libertar de todas essas correntes em que ele havia me prendido.

É muito difícil perceber que você está num relacionamento assim, e quem mais te faz negar isso é você mesmo. Você fala para você mesmo que são apenas brigas, que o amor sempre vence tudo, mas, na verdade, você está acreditando que tudo que ele diz de ruim sobre você é verdade!

Mas é maravilhoso se libertar e perceber que você é merecedor e que você contribui positivamente para aqueles que o cercam. Aí tudo aquilo vira aprendizado e sua vida melhora como um todo." - Anônimo, 23 anos, gay


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"Eu achava que não tinha como piorar, até que uma noite ela simplesmente me sufocou com o travesseiro."

"Conheci minha ex no primeiro ano da faculdade. Ela é um semestre na minha frente e eu, sendo 'bixete', achei o máximo me relacionar com alguém mais velho. Foram três anos de relacionamento que se tornaram os piores anos da minha vida. No começo, parecia ser o relacionamento perfeito, até aparecerem as primeiras festas da faculdade.

O ciúmes era doentio. Ela não permitia que eu fosse a festa nenhuma, mesmo que acompanhada dos meus amigos. Ela não deixava que eu conversasse com ninguém além dela e dos amigos dela. Até que ela fez amizade com meus amigos como uma forma de me policiar. Parei de falar com todo mundo que conhecia, até chegar ao ponto de só ter ela pra conversar. Meus amigos se afastaram e me falaram que isso era abusivo, doentio e opressor. Mas eu não enxergava, acontece com outras pessoas, mas meu relacionamento era ótimo.

Eu achava que não tinha como piorar, até que uma noite eu fui dormir na casa dela, depois de uma longa 'D.R.', e ela simplesmente me sufocou com o travesseiro, tamanho era o ódio dela naquele momento.

Foi aí que, depois de três longos anos, uma depressão pesada e várias tentativas de suicídio, eu dei um basta. Foi a maior decisão que tomei para minha vida, porque eu sentia que estava perdendo tudo por causa de uma pessoa que não gostava de mim, e sim do controle que tinha sobre mim.

Me recuperei, conheci outra garota maravilhosa, que também veio de um relacionamento lixo e estamos planejando nosso noivado. Eu voltei a falar com todo mundo que perdi contato na época em que estava namorando. E eles foram essenciais para a minha recuperação." - Fernanda, 22 anos, lésbica


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"Começaram as ameaças de contar sobre a minha orientação sexual pra minha família, perfis falsos nas redes sociais ameaçando me expor e ameaçando suicídio."

"Eu mal tinha começado a me relacionar com a menina de fato e já comecei a me sentir sufocada e a não gostar de algumas atitudes dela. Então terminei tudo e, me considerando solteira, comecei a ficar com outras pessoas. Só que ela não aceitava, me mandava textos enormes, que eu não prestava, que usava as pessoas e agressões verbais mais pesadas.

Eu tentava me justificar, falando que não era nada disso, que eu apenas não queria ficar com ela. Até que eu conheci minha atual namorada, contei para a menina com a intenção de ela entender que eu estava com outra pessoa, mas, desde então, começaram as ameaças envolvendo suicídio. Ouvi absurdos, que se eu não ficasse com ela, ela se mataria por minha causa, que eu estava destruindo a vida dela e coisas assim. Depois começaram as ameaças de contar sobre a minha orientação sexual pra minha família, perfis falsos nas redes sociais ameaçando me expor e ameaçando suicídio.

Então tive que contar para a minha família sobre a minha sexualidade e tive uma recepção muito ruim. Não tenho mais redes sociais porque eu sinto um medo absurdo dela. Um curto relacionamento abusivo causou um estrago imenso na minha vida." - Anônima, bissexual


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"Eu finalmente notei que algo estava errado quando ele me deu um tapa na cara porque eu revirei os olhos pra ele."

"Fiquei quase dois anos com meu ex-namorado e nunca achei que fosse um relacionamento abusivo, apesar de me incomodar o fato de que ele sempre fazia com que eu me sentisse culpado por nossas brigas. Em certo ponto da relação, estávamos praticamente morando juntos, pois a mãe dele gostava muito de mim.

Eu finalmente notei que algo estava errado quando ele me deu um tapa na cara porque eu revirei os olhos pra ele – e ele odiava isso. Foi nesse momento que eu percebi que aquilo não era um relacionamento saudável, e que ele estava partindo para força física. Terminei uns meses depois desse acontecimento, e ainda tive que ouvir da mãe que eu era interesseiro e que só estava com ele pra ter onde morar (sendo que ela que me pedia ficar lá).

Acho que por ser um garoto com outro garoto, perde-se aquele medo de usar a força, porque as pessoas ainda têm aquela ideia idiota de que mulher é sexo frágil e o homem não. Como é a primeira vez que escrevo sobre isso, é um peso que sai das minhas costas. Falar disso é realmente uma terapia." - MJ, 23 anos, gay


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"Por ainda não me aceitar completamente como homossexual, aceitava tudo como se eu não fosse merecedor de algo melhor que aquilo."

"Quando eu estava com 22 anos, namorei um cara da mesma idade que eu. Desde o início, ele mostrava sinais de ciúme e possessividade, o que eu levava na brincadeira e até achava fofo. Sim, eu pensava isso.

Ele me colocava pra baixo, de forma que eu acreditasse que ele era tudo que eu tinha. Ele mentia descaradamente, e eu sabia, mas continuava ali. Ele me afastou da minha melhor amiga simplesmente porque fui à uma festa com ela na sua despedida do Brasil (ela iria morar 3 anos fora). Ele me fazia sentar no banco de trás do carro para o amigo sentar na frente e eles fazerem suas 'brincadeiras' de me humilhar.

Ele comentava frequentemente como o ex era uma pessoa incrível e indiretamente falava como todos os homens com quem ele se relacionou eram melhores que eu. Ele reclamava até da distância com que eu usava o mictório, porque eu 'estava muito longe só pra me mostrar pra outros homens'. Um dos cúmulos foi quando ele fez todo um drama pelo fato de eu não ser virgem e que eu era sujo para ele, afirmando que eu precisaria fazer muito para compensar isso. E eu acreditava e aceitava tudo!

Não sei de onde arranjei força de vontade para terminar com ele, mas graças a Deus, consegui dizer CHEGA e me afastei totalmente da criatura. Muitos não viram minha experiência como um abuso, já que 'os dois são homens e se falam de igual para igual!'

Admito que eu mesmo não pensava em relacionamento abusivo na época, e, por no fundo ainda não me aceitar completamente como homossexual, aceitava tudo como se eu não fosse capaz ou merecedor de algo melhor que aquilo." - Paulo, 27 anos, gay


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Reprodução/David Bornfriend / Via imdb.com

"Hoje eu sei que fui estuprada diversas vezes no meu relacionamento lésbico."

"Eu tive uma namorada que, aos olhos dos outros, era perfeita. Ela fazia tudo por mim, mas quando eu bebia e meio que apagava em casa, ela tirava minha roupa e fazia o que quisesse comigo. No outro dia, eu não lembrava de nada, acordava nua, largada de qualquer jeito na cama e louca por um banho. Se eu a olhasse estranho, ou tentasse esclarecer as coisas, ela me chamava de vadia e vagabunda, dizendo que de noite eu era uma puta. MAS EU TAVA APAGADA!

Na época, eu não pensava nisso. Mas hoje eu sei que fui estuprada diversas vezes no meu relacionamento lésbico. Às vezes, a gente acredita que relacionamento abusivo vem só do homem, e não vê que mulher também pode ser babaca. Terminamos, depois de eu tentar MUITAS vezes e ela sempre pedir mais uma chance." - G., 28 anos, lésbica

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"Esse meu ex se incomodava com a minha voz fina e meu jeito afeminado de dançar. Dentro do carro dele, por exemplo, eu era proibido."

"Ele era meu primeiro namorado e eu o terceiro dele. Além disso, havia uma diferença de 4 anos entre a gente. Ele usava da 'maturidade' dele contra mim, fazendo com que, em todas as nossas discussões, eu acabasse como o errado. Era muito comum eu terminar uma discussão procurando meu erro, mas, ao mesmo tempo, lembrando que era eu quem tinha iniciado a conversa com alguma queixa.

A desculpa era a mesma: eu era imaturo demais, ciumento demais, novinho demais. Uma coisa que incomodava especificamente esse meu ex era a minha voz fina e meu jeito afeminado de dançar. Dentro do carro dele, por exemplo, eu era proibido de fazer essas duas coisas que eu tanto amo.

Meu amigos e os próprios amigos dele me alertavam, mas eu deixava passar pelo simples medo de perdê-lo. Ele acabou me traindo e, como sempre, me disse que eu o levei a fazer isso, pois nosso relacionamento não estava indo bem. A traição para mim era um ponto final no relacionamento – eu era mais novo, mas nunca fui irresponsável." - Anônimo, gay

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"Ele utilizava da ideia de que o gay é promíscuo pra me oprimir."

"Começamos a namorar com 21 anos e ficamos 6 anos juntos. Desde o início, ele se mostrava extremamente ciumento em relação a meus amigos gays e fez eu me afastar de quase todos eles, alegando que eles eram más influências (inclusive o amigo que nos apresentou).

Todas as vezes em que eu me arrumava mais, iniciava na academia, pensava em fazer tatuagem, e compartilhava a idéia com ele, eu ouvia que eu estava querendo me mostrar pra outros caras. A palavra 'puta' foi constantemente usada durante esse tempo. Ele utilizava da ideia de que o gay é promíscuo pra me oprimir. Aos poucos, eu fui me tornando tão ciumento e abusivo quanto ele, mas sempre em situação inferior.

Depois que passamos a morar juntos, me tornei praticamente a mãe dele. Eu cuidava de tudo da vida doméstica, enquanto ele só pensava em trabalho/estudos. Ao menos era o que eu tentava acreditar. No final das contas, desconfiei de uma traição, a qual obviamente ele jamais admitia. Essa situação durou meses e eu desenvolvi depressão, enquanto ele, como profissional de saúde, assistia a tudo calado. Somente depois que consegui provar a traição, tomei coragem de me separar e mudar de cidade, ainda gostando dele.

Depois de um tempo, o vi, já como novo namorado e tocando a vida como se nada tivesse existido. Tentei suicídio naquele dia. Felizmente, não consegui concluir a tentativa, retornei à nova cidade e, com o apoio de amigos, familiares e terapia, consegui seguir a vida." - João, 27 anos, gay

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"Eu não contei pra ninguém o que eu passava porque não era assumida, e talvez isso tenha sido o meu maior erro."

"Quando tinha 19 anos, comecei a namorar uma guria de 18. Nosso relacionamento era à distância, mas nossas cidades não eram tão distantes – nos víamos de 15 em 15 dias. Nosso relacionamento durou 11 meses e, no começo, ela era tudo que eu sempre quis, a pessoa mais amável e atenciosa que eu já tinha conhecido.

Passaram-se alguns meses e o assédio psicológico começou. Coisas do tipo: 'você nunca vai achar alguém que te ame como eu', ou 'você sabe que se tu me deixar eu me mato'. Até que um dia ela veio me visitar e me forçou a transar, porque, segundo ela, 'a gente não se vê muito, tu tem que deixar'. Isso aconteceu mais três vezes, e eu achava que ela tava certa, a gente não se via muito mesmo, eu tinha que transar, ela tinha razão.

Eu não contei pra ninguém o que eu passava porque não era assumida e talvez isso tenha sido o meu maior erro. Quando vi, já estava no fundo do poço. Minha melhor amiga percebeu que tinha algo de muito errado comigo e me ajudou a terminar o relacionamento e voltar a viver." - Anônima, 22 anos, bissexual

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"Ela passou a me criticar através de monólogos extensos e, quando era meu momento de falar, ela encerrava a discussão."

"Meu relacionamento abusivo foi justamente o meu primeiro. Eu tinha 18 anos, mas ainda estava no armário e nunca tinha explorado meus sentimentos por outras mulheres.

Nós conversávamos muito e ela foi a primeira pessoa pra quem eu me abri sobre todos os meus sentimentos a respeito da minha sexualidade e diversas outras questões. Ela era poucos anos mais velha do que eu e mais experiente em matéria de relacionamentos. Tínhamos muito carinho uma pela outra, começamos a namorar e, no começo, foi tudo muito lindo.

Com o passar do tempo, porém, começaram a surgir vários atritos.
Ela era extremamente possessiva, exigia a minha atenção o tempo todo, e, se eu não podia responder no momento, ela ficava muito irritada e me tratava mal por dias, como forma de punição. Com isso, eu passei a acreditar que tinha que estar disponível o tempo todo para a minha parceira.

Ela passou a me criticar constantemente através de monólogos extensos e quando era meu momento de falar ela encerrava a discussão e parava de me responder. Pois isso eu achei que a minha opinião não era tão importante, afinal, eu era muito nova, não sabia das coisas. Assim eu passei a negligenciar meus sentimentos e minha saúde mental.

Na época em que eu vivi esse relacionamento, eu era uma garota insegura e o fato da minha parceira ser mais velha e mais experiente me fez crer que as atitudes dela eram comuns e que era assim que os namoros funcionavam. Depois de uns 7 meses de relacionamento, ela chegou pra mim dizendo que queria terminar, pois havia conhecido outra garota pela internet e as duas estavam envolvidas.

Na hora me senti muito mal, e me perguntei o que tinha feito de errado, mas com o passar dos dias fui me sentindo cada vez melhor.
O mais impressionante foi que eu só me dei conta que esse namoro foi prejudicial quando eu já estava nos meus relacionamentos seguintes, que foram infinitamente melhores. Tive muita sorte de conhecer mulheres maravilhosas que desconstruíram todas as ideias erradas que eu tinha e me mostraram como é um relacionamento de verdade." - Anônima, 24 anos, lésbica

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Reprodução/ The Weinstein Company / Via imdb.com

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"Eu digo que não houve agressão física, mas uma vez levei um tapa na cara 'de brincadeira', na frente dos nossos amigos, após ter discordado em uma discussão."

"Eu tinha 22 anos quando começamos a namorar. Não fazia muito tempo que eu tinha saído do armário, então eu estava louco para me apaixonar, ter um namorado. Após 2 anos de namoro, fomos morar juntos.

Já na primeira semana, ele ficou furioso porque eu cheguei do trabalho, coloquei minha marmita suja na pia e fui tomar banho, em vez de lavá-la imediatamente. Gritou que eu estava sendo um bagunceiro, que ele estava se esforçando (atenção, primeira semana!) para manter nossa vida organizada. Ele SEMPRE estava certo, nunca pediu desculpas após uma briga e, se eu iniciasse uma discussão sobre alguma atitude dele, me dava um gelo de até 3 dias, sem falar absolutamente nada comigo. Eu me sentia um lixo.

Às vezes eu digo que não houve agressão física, mas uma vez levei um tapa na cara 'de brincadeira' em uma mesa de bar, na frente dos nossos amigos, após ter discordado em uma discussão. Eu chorei escondido em casa.

Depois, vieram as proibições ou empecilhos para receber minha irmã e a mãe na nossa casa. Eu havia mudado de cidade e elas queriam muito ver onde eu estava. Tinha uma grande amiga que morava perto e ela não podia conviver conosco porque ele simplesmente 'não gostava dela', sem nunca dar um motivo, tendo sido sempre muito bem tratado por ela.

Ele passou a ser responsável por todas as decisões sobre dinheiro, o que comprar ou não, e sabia o quanto eu tinha na carteira sempre. Uma vez sofri um assalto, sobre o qual nunca contei, porque tinha medo que ele me culpasse por andar no lugar errado, ou sei lá o que, e dei um jeito de repor o dinheiro, pedindo emprestado.

Nem sei qual foi a gota d'água. Mas, após 2 anos morando juntos, eu estava a ponto de ter uma crise. Decidi me separar e não falei nada porque tentar discutir a relação sempre dava errado. Eu emagreci mais de 10 kg nesse processo, até conseguir falar. Um dia, liguei para meu irmão e combinei de ele me buscar e pegar minhas coisas.

Nos vimos mais uma vez, quando fui devolver a chave, buscar os CD's e alguns livros. Desde então, ele finge que não me conhece na rua. Fez pressão em vários amigos em comum para não me convidarem para nada. Fiz análise depois disso e já faz mais de 10 anos, mas ainda sinto um pouco de raiva por ter caído nessa. Não me orgulho do sentimento de querer que ele se dê muito mal na vida." - André, 35 anos, gay


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"Minha amiga leu as mensagens do meu celular e ficou assustada com o tanto de xingamentos que havia ali. E foi aí que percebi que o meu relacionamento não era saudável."

"Eu tinha por volta de 20 anos e namorava com essa garota desde os 17. Ela costumava me ofender de diversas formas por eu ser bissexual e não lésbica, como ela. E isso era a fonte da sua insegurança.

Um dia fui na casa de uns amigos e larguei o celular no sofá. Esqueci completamente de checar as mensagens. Alguns minutos depois, abri o meu WhatsApp e tinham várias mensagens dela me xingando de coisas horríveis e me acusando de estar traindo ela, sendo que eu só estava comendo uma pizza e conversando com a galera.

Chorei muito. Minha amiga me acalmou e leu as mensagens do meu celular. Ela ficou assustada com o tanto de xingamentos e ofensas que havia ali. E foi nesse dia que eu percebi que o meu relacionamento não era nem um pouco saudável. Eu já estava tão acostumada a ouvir ofensas que, pra mim, isso tudo era normal em brigas de casal. Mas, mesmo assim, eu tinha vergonha e nunca tinha falado sobre isso com ninguém. Nesse dia, eu não aguentei e acabei desabando em lágrimas na frente das outras pessoas.

Nesse mesmo dia, mais tarde, nós conversamos e ela prometeu que ia mudar. Mas ela continuou me tratando da mesma forma e acabei terminando alguns meses depois." - Anônima, bissexual


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"Quando eu disse que não me sentia confortável com meu corpo e meu gênero, ela me deu um tapa no rosto."

"Quando tinha 16 ou 17 anos, antes de sequer saber que eu era um homem trans, eu tive uma amiga lésbica. Quando terminei meu namoro, ela imediatamente tentou me beijar. Eu disse que não estava pronto e precisava de um tempo pra mim. Disse também que estava desconfiando de ser bissexual. Nesse momento ela explodiu de raiva e disse que eu precisava ser uma menina lésbica.

Eu, de algum jeito, pensei que a culpa fosse minha e não demorei a correr atrás e pedir desculpas. No dia seguinte, ela me pediu em namoro. Apesar de dizer que precisava ficar sozinho, eu, por algum motivo que ainda não entendo, me senti obrigado a dizer que sim. Quando aceitei, ela disse que a condição pra sermos felizes é que eu não poderia ser bi.

Namoramos por 4 meses apenas. Da primeira vez em que fizemos sexo, eu me senti completamente violado. Eu dizia quais eram minhas inseguranças e que ela estava me machucando, mas ela ignorou e continuou fazendo o que queria. Isso aconteceu outras duas ou três vezes, até que eu parei de resistir e passei a só esperar acabar.

Quando eu disse que não me sentia confortável com certos aspectos do meu corpo ligados a gênero, ela me deu um tapa no rosto. Disse que gênero é uma construção da nossa cabeça e que eu PRECISAVA me comportar como uma mulher, mesmo que não expressasse feminilidade. Disse que, se eu fizesse a transição, faria mal à comunidade de mulheres lésbicas e que ela não ia permitir.

Quando eu disse que queria ser tratado com mais respeito, ela disse: 'eu fui abusiva com pessoas antes de você e até as forçava a fazer sexo, mas você é diferente e eu te trato bem'. Isso pareceu ser o suficiente pra me convencer de que ela me tratava bem e que eu estava louco.

Ela continuou sendo quem sempre foi e poucas pessoas acreditaram em mim. Pelo fato da pessoa abusiva ser mulher e lésbica, fui completamente desmerecido e invalidado. A maioria disse que mulheres não estupram e que não existe relacionamento LGBT abusivo.

Mas não tem problema. Eu me livrei, não guardo mais ódio e só quero que outros não passem pelo mesmo terror. Embora eu tenha demorado um pouco a me curar, hoje me assumo homem trans bissexual, tenho as forças pra me relacionar com quem e como quiser, tenho 20 anos e posso me considerar genuinamente feliz, forte e livre." - Anônimo, homem trans, bissexual


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Se você está em um relacionamento abusivo ou conhece alguém que está em um relacionamento abusivo, procure ajuda.

Você pode conversar com alguém de sua confiança, psicólogos, ONGs de apoio a vítimas de violência ou mesmo procurar uma delegacia.

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16 mulheres brasileiras compartilham como sofreram assédio sexual

15 sinais que ajudam a definir um relacionamento abusivo

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