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"Na eleição, eu só vi 2 caras roubar deles mesmos: o Kassab e o Temer", contou homem do caixa 2 da JBS

Delator acusou Temer de embolsar recurso de campanha de 2014. Dinheiro só foi pago ao então vice, segundo ele, depois de uma briga com o PT.

O diretor da JBS Ricardo Saud afirmou em seu acordo de delação premiada que o presidente Michel Temer, durante a campanha à reeleição em 2014, embolsou R$ 1 milhão de R$ 15 milhões em propina que o PT havia mandado a empresa dar para o então vice-presidente.

"Michel Temer fez uma coisa até muito deselegante. Nessa eleição, eu só vi dois caras roubar deles mesmos. Um foi o (Gilberto) Kassab, outro o Temer", disse Saud a procuradores da Lava Jato no dia 5 passado.

De acordo com Saud, a ordem para entregar R$ 1 milhão foi dada por Temer na calçada diante de seu escritório em São Paulo. O destino do dinheiro foi passado para Saud pelo próprio Temer em uma anotação em papel.

"O Temer me deu um papelzinho e falou: 'olha, tem R$ 1 milhão que eu quero que entregue em dinheiro nesse endereço aqui'. Me deu o endereço. Ele me falou isso na porta do escritório dele, na calçada", contou o delator, que mostrou uma imagem com o local da entrega.

O endereço é na Vila Madalena, onde funciona a empresa Argeplan, do coronel João Batista Lima e Filho, um amigo próximo de Temer.

Saud disse que o coronel chegou a destratar seu funcionário, Florisvaldo Caetano de Oliveira, a quem o diretor da JBS chama de "homem da mala", por ser responsável por entregar dinheiro.

O coronel, segundo ele, estava irritado porque o "homem", Temer, já havia dito que o dinheiro estava a caminho. A entrega, no entanto, foi feita dias depois.

"Isso me chamou muito a atenção na campanha toda porque eu já vi o cara pegar o dinheiro para gastar na campanha e gastar na campanha, né? Agora o cara ganhar um dinheiro do PT e colocar no bolso dele é muito difícil. Só ele e o Kassab fizeram isso. Só o Temer e o Kassab que guardaram o dinheiro para gastar de outra forma", disse o delator.

Em seu depoimento, Saud contou que o PT "pulou" o Temer para negociar a "unidade" do PMDB com um conjunto de senadores. Foram negociados R$ 35 milhões de uma conta de propina do PT para a JBS com um total de R$ 300 milhões.

Ao saber da negociação, Temer ficou muito bravo e chamou Saud para perguntar quanto seria dado a ele. Ficou mais bravo ainda quando o executivo disse que nada estava reservado ao vice-presidente. Saud levou a queixa ao PT, que decidiu entregar R$ 15 milhões a Temer.

Desse total, ainda segundo o delator, R$ 9 milhões foram para o comitê nacional do PMDB, R$ 3 milhões para o ex-deputado Eduardo Cunha (RJ), que reclamou do valor e R$ 2 milhões para o presidente da Fiesp Paulo Skaf, candidato do partido ao governo de SP. Esse pagamento teria sido escondido por meio de um falso pagamento de serviços de publicidade do marqueteiro de Skaf, Duda Mendonça, a JBS.

Os R$ 35 milhões da propina da conta do PT teriam sido negociados pelo ex-ministro petista Guido Mantega e os R$ 15 milhões pelo ex-tesoureiro da campanha de Dilma e ex-ministro do PT Edinho Silva.

Outros lados:

O presidente Michel Temer ainda não se manifestou sobre essas declarações de Saudi. Em pronunciamento ontem, ele negou que tenha cometido crimes. O PT não vai se manifestar sobre as denúncias.

Em nota, a assessoria de imprensa do presidente da Fiesp, Paulo Skaf, afirmou que: "a campanha de Paulo Skaf ao governo do Estado de São Paulo, em 2014, não recebeu nenhum tostão do grupo JBS. Também não houve autorização para que ninguém solicitasse valores ao grupo. Todos os gastos e doações da campanha foram declarados à Justiça Eleitoral e constam da prestação de contas apresentada ao Tribunal Regional Eleitoral em 2014, aprovada sem nenhum reparo".

A ex-presidente Dilma Rousseff, do PT, negou todas as denúncias contidas nas delações dos executivos da JBS. Segundo sua assessoria de imprensa, ela "jamais tratou ou solicitou de qualquer empresário ou de terceiros doações, pagamentos e ou financiamentos ilegais para as campanhas eleitorais, tanto em 2010 quanto em 2014, fosse para si ou quaisquer outros candidatos".

O ministro Gilberto Kassab é criador e presidente licenciado do PSD. O partido respondeu ao BuzzFeed Brasil em nome do ministro, afirmando que Kassab não recebeu dinheiro.

Diz a nota oficial: "As apurações em andamento são importantes para o país e devem continuar como determina a legislação. Com relação às citações em depoimentos que foram divulgados nesta sexta-feira, cabe destacar que não houve qualquer recebimento de recursos pessoais pelo ministro, o que ficará devidamente comprovado. Sobre os repasses durante o processo eleitoral em 2014, as doações recebidas foram registradas junto à Justiça Eleitoral. O ministro sempre pautou sua conduta pelo cumprimento à legislação."

O coronel Lima não foi localizado em sua empresa.

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