Como a Lava Jato fez o Instituto Lula encolher

Entidade do ex-presidente vai cortar programas de cooperação com outros países, passagens e despesas com prestadores de serviços.


Ricardo Stuckert/Instituto Lula / Via Facebook: Lula

Lula em reunião no instituto para falar sobre acesso a universidade

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O avanço das investigações da Lava Jato sobre Luiz Inácio Lula da Silva teve como efeito imediato o encolhimento do instituto que leva o nome do ex-presidente.

O Instituto Lula vai enxugar seus programas de cooperação com a África e América Latina.

Cortes atingirão viagens internacionais, despesas de custeio e a contratação de serviços.Esta reorganização interna pode fazer o próprio ex-presidente desembolsar dinheiro que ganhou das palestras para ajudar nas despesas já que, desde o ano passado, o instituto deixou de arrecadar doações.

A causa disso é que as principais financiadoras da entidade eram empreiteiras envolvidas no esquema de corrupção da Petrobras. Deflagrada em março, a fase Aletheia da Lava Jato passou a investigar o envolvimento do ex-presidente com o petrolão.

Empreiteiras alvos da Lava Jato repassaram R$ 20,7 milhões ao Instituto Lula entre 2011 e 2014 - o que representa quase 60% das receitas da entidade com doações no período.

Além disso, construtoras pagaram R$ 9,9 milhões ao ex-presidente por palestras. A Lava Jato investiga se doações ou a contratação para palestras não escondiam o pagamento de propina por terem sido beneficiadas durante o governo do petista. O ex-presidente nega.

Lula deve montar novo escritório político


Paulo Whitaker / Reuters

Lula vai se dedicar este ano mais à política do que a vender seu "peixe" no exterior

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O próprio Lula deve deixar de dar expediente no instituto, que ocupa duas casas no bairro do Ipiranga, zona sul de São Paulo, para trabalhar em um escritório político ou mesmo na sede do PT, centro da capital. O mais provável, avalia um de seus principais interlocutores, é que ele vá para um escritório político.

A mudança de casa do ex-presidente se daria porque, neste momento de crise, Lula tem agido mais como um dirigente que tenta unir setores da esquerda e reorganizar o PT do que um ex-presidente que quer preservar e transmitir seu legado a países da África e da América do Sul, o que seria o princípio básico do instituto. Os convites para fazer palestras também caíram. Lula cobrava US$ 200 mil para cada evento, além das despesas de viagem.

Uma das casas ocupadas pelo instituto é própria. Foi usada, no início, pelo que o PT chamava de Governo Paralelo, uma iniciativa de oposição que visava desgastar o governo Collor, que derrotou Lula em 1989 e sofreu impeachment em 1992.

Quando Lula deixou o governo, em janeiro de 2011, montou um time com seus aliados petistas mais próximos, para fazer o instituto. Com grandes pretensões, a entidade alugou um imóvel próximo e tem hoje uma equipe de mais de 20 funcionários.

No núcleo mais próximo de Lula está o presidente do instituto, Paulo Okamotto, amigo do ex-presidente há mais de 30 anos.

Além de presidir a entidade e ser responsável pelas captações de recursos, ele é sócio minoritário da empresa Lils, criada por Lula para negociar palestras com grandes empresas no valor de US$ 200 mil cada.

Okamoto é investigado junto com Lula no inquérito da Lava Jato. Assim como o ex-presidente, Okamotto também foi levado coercitivamente pela polícia para depor.

Procuradores chegaram a pedir a prisão preventiva de Okamotto, mas o juiz Sérgio Moro negou.

A entidade planejava criar um museu do trabalhador e do acervo de Lula em São Paulo. O terreno chegou a ser negociado como doação do então prefeito Gilberto Kassab (PSD), mas a doação foi vetada pela Justiça em 2014.

O petista deu início a um museu virtual, cujo o futuro é, agora, incerto por causa das dificuldades de caixa.

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