A programadora e desenvolvedora de TI Evelyn Mendes, 43, está recebendo ameaças de morte e ofensas por email e redes sociais. Transexual, ela convocou as mulheres para o palco de um dos principais eventos de javascript do mundo, o BrazilJS, realizado no final de agosto em Porto Alegre e no início de setembro em Fortaleza.
Evelyn faz parte de um comitê de diversidade do evento e defende maior participação feminina na área de programação e desenvolvimento de sistemas. Logo depois do primeiro evento, começaram as ameaças pela internet. "Eu vou te matar" foi o título de um dos emails, que chama a programadora de "aberração".
Segundo Evelyn, que fez um boletim de ocorrência na Delegacia da Mulher em Porto Alegre, foram mais de 20 mensagens. O caso deverá ser encaminhado a investigadores da área de crimes digitais.
"É um meio dominado por rapazes machistas e misóginos. Mulher que se destaca começa a receber crítica e ofensa. Quando olhei do palco, a plateia só tinha homem branco. Comecei a chamar as mulheres, que foram subindo ao palco, não só desenvolvedoras, mas as que estavam trabalhando na organização do evento", contou Evelyn ao BuzzFeed.
Evelyn contou ainda que acredita ter sofrido as ameaças não apenas por ser uma mulher transexual, mas por ter defendido uma posição feminista para profissionais de TI. Ela encabeça um projeto que ajuda as mulheres a lidarem com ataques machistas nas redes sociais.
A primeira mensagem foi atribuída a Marcelo Valle Silveira Mello, que já respondeu judicialmente por incitar o ódio pelas redes sociais.
Mello, no entanto, negou ser o autor da mensagem, e mandou um email para dizer que o remetente era falso. Chamou Evelyn de "meu caro travesti". Outros emails mostram que os agressores conhecem dados pessoais da programadora, além de seu nome de registro. O título de uma das mensagens fala sobre ameaças à mãe de Evelyn.
"Que fique bem claro que me chamar de travesti não é xingamento. E não vou desistir do que faço. Deixa eu te explicar como é a minha vida. Eu estava numa rua de Porto Alegre esperando para atravessar, passou um motociclista e tentou dar um soco na minha cara. Então, esse é o meu cotidiano, a minha realidade".