O recente veredito de um tribunal de São Francisco (EUA), que concluiu que um popular herbicida da Monsanto causou câncer terminal em um homem, pode ser desastroso para a gigante agroquímica.
Segundo especialistas ouvidos pelo BuzzFeed News, a decisão unânime de um júri de San Francisco de conceder US$ 290 milhões em indenização a Dewayne Johnson, 46, gera um precedente poderoso para casos pendentes e futuros contra a Monsanto.
Além do veredito de que a empresa lesou Johnson, que foi diagnosticado com um linfoma não-Hodgkin, os jurados concluíram que a Monsanto agiu com má-fé ao não alertar adequadamente os consumidores sobre os potenciais riscos de usar seus produtos à base de glifosato, como o Roundup e o Ranger Pro.
A Monsanto já declarou que vai recorrer da decisão e, apesar do veredito, defende que o herbicida, vendido pela empresa desde a década de 1970, é seguro. "O júri errou", disse o vice-presidente da Monsanto, Scott Partridge. "Vamos recorrer e continuar defendendo vigorosamente o glifosato."
Em 2015, a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer da Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o glifosato como provavelmente carcinogênico para humanos. Ainda assim, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) concluiu que não era provável que o herbicida causasse câncer em humanos.
O inspetor geral da EPA atualmente investiga denúncias de que um funcionário da agência compactuou com a Monsanto para conduzir pesquisas tendenciosas a favor do glifosato.
Carey Gillam, diretora de pesquisa da organização U.S. Right to Know e autora de um livro sobre a Monsanto e os riscos do Roundup, disse ao BuzzFeed News que o caso é um indicativo de como outros processos serão julgados nos EUA. Segundo ela, as provas apresentadas por Johnson contra a Monsanto deverão ser utilizadas em muitos outros casos.
E, de acordo com o advogado de Johnson, essa prova é apenas uma fração dos documentos incriminatórios que eles reuniram. "Usamos cerca de 30% do que temos, na verdade", disse o advogado Pedram Esfandiary, da empresa Baum, Hedlund, Aristei & Goldman, que representa centenas de outras pessoas que estão processando a Monsanto sob a alegação de que a exposição ao Roundup causa câncer.
Desde que o veredito foi o anunciado, a gigante farmacêutica Bayer, que comprou recentemente a Monsanto, viu os preços de suas ações despencarem.
Além disso, membros do Legislativo americano no Havaí e na Califórnia disseram ao BuzzFeed News que estão considerando apresentar projetos de lei para banir produtos da empresa no ano que vem. "Está claro que existem alternativas mais seguras. A saúde pública e a segurança são imperativos, então acho prudente eliminar o risco que [os produtos de] glifosato representam ao público", disse o deputado estadual do Havaí, Chris Lee.
Na Califórnia, onde o Supremo Tribunal rejeitou recentemente um pedido feito pela Monsanto para reconsiderar a decisão de incluir o glifosato em uma lista estadual de carcinogênicos conhecidos, o membro da Assembleia Al Muratsuchi disse que analisa propor o banimento do uso do herbicida em terrenos escolares.
"Esse seria, acredito eu, um primeiro passo importante", disse Muratsuchi. "Se a OMS concluiu que o glifosato é um provável carcinogênico humano e, se um júri da Califórnia obrigou a Monsanto a pagar US$ 290 milhões em indenizações compensatórias e punitivas, deveríamos fazer tudo que podemos para proteger nossas crianças."
Projetos de lei propondo a proibição ou limitação do uso de produtos à base de glifosato já foram apresentados em alguns Estados americanos antes, mas nenhum chegou a ser aprovado. Neste ano, o senador do Estado de Nova York Brad Hoylman apresentou um projeto de lei que propõe uma moratória ou proibição à venda e distribuição de produtos de glifosato.
Outros países, como França e Itália, já tomaram medidas para banir ou impor restrições ao uso herbicida.
O Roundup e outros produtos herbicidas geraram US$ 4,8 bilhões em receita à Monsanto no ano fiscal de 2015.
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A tradução deste post (original em inglês) foi editada por Luísa Pessoa.