58 cenas marcadas na memória de quem cresceu na periferia

Morar na quebrada nem sempre é fácil, mas engrandece.

1. A tiazinha pendurando roupa no varal da laje.

2. As casas eternamente no tijolo ou com reboco aparente.

3. Ver uma garrafa pet colocada em cima da caixa de energia elétrica "para abaixar a conta de luz".

4. Ou os muros com cacos de vidro em cima.

5. Também tinham aqueles portões que só fecham graças ao uso de uma corrente, porque o carro é maior do que a garagem.

6. Aquele famoso carro velho estacionado eternamente no mesmo lugar (e geralmente todo quebrado e com pneus murchos).

7. A cada duas quadras, tem uma oficina mêcanica toda escura e imunda.

8. E é possível confundir algumas oficinas com desmanche de carros.

9. Volta e meia você topa com um carro sendo depenado em ruas mais desertas.

10. Ou em terrenos baldios, que são lotados de mato.

11. Alguns desses terrenos, é claro, acabam virando depósito de lixo.

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12. Sempre existe aquela casa abandonada que vira alvo de especulações de histórias de terror.

13. E aquela casa em que uma criança vive chorando alto.

14. O que faz com que os pais dela apelem para outro tipo de casa da periferia: a casa da benzedeira.

15. Quase toda rua tem aquele vizinho que vive ouvindo o som no volume mais alto possível.

16. Geralmente ele também é aquele que dá festas que praticamente fecham a rua.

17. O que mais se vê são igrejas – de várias religiões – e bares.

18. Alguns bares disfarçados com nomes de padarias.

19. Algumas padarias que vendiam mais bebida do que pão.

20. E padarias que fazem as vezes de minimercado e vendem de tudo.

21. Isso tudo no "centro comercial", que abriga ainda: a banca de jornal, loja de 1,99, uma loja de sapatos, uma papelaria, um minimercado que tenta concorrer com o minimercado bom da região e algumas lojas de roupa barata.

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22. Tem as crianças lotando o portão que exibe uma placa onde se lê: "geladinho R$ 0,50".

23. Ou se aglomerando em frente à vendinha de doces, com aqueles baleiros grandes que giravam ou aqueles pacotes infinitos de salgadinho sem rótulo.

24. Você provavelmente foi muito ao único mercadinho que vendia tudo que era possível, quando sua mãe mandava você ir buscar umas coisas.

25. E, sempre que conseguia, pegava o troco em doce.

26. Isso quando não passava o carrinho do Yakult na rua.

27. Mas as coisas chegavam em veículos diversos, como a Kombi dos produtos de limpeza, o cara que vende peixe numa Brasília bem velha e a bicicleta do amolador de facas.

28. Todo mundo já foi pessoalmente ou ligou para a pizzaria que também é esfiharia.

29. E às vezes vende outras coisinhas mais.

30. Em época de grana mais curta, o jeito era apelar para os "cinquentinhas", que vendem salgados por menos de 1 real (antigamente eram realmente 50 centavos).

31. O ponto de referência do bairro é o boteco que leva o nome do time de várzea da região.

32. Que sempre tem uma lousa com a data e o adversário do próximo jogo do time, além de vários troféus de momentos de glória da equipe.

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33. Outro ponto de referência é o escadão. Sempre há um escadão.

34. O escadão não serve apenas para passagem entre uma rua e outra, mas sobretudo para jogarem lixo, abandonarem sofá, ponta de cigarro suspeito e pinos de tóxicos.

35. Existe sempre um muro – de escola, de parque, o que for – que é onde a turma se reúne para fumar.

36. Olhando pra cima dá para ver várias ligações clandestinas, que podem ser de telefone, TV a cabo, energia elétrica e muito mais. O famoso "gato".

37. E por falar em animais, cães magrelos são frequentemente vistos circulando pelas ruas.

38. Muitas vezes buscando algo para comer nas pilhas de lixos acumuladas em algumas esquinas, a despeito dos simpáticos avisos para não jogarem lixo ali.

39. Tênis pendurado nos fios de energia elétrica não são lixo, são uma espécie de intervenção urbana.

40. Sem contar as rabiolas de pipa que ficam presas nos mesmos fios, formando um traçado peculiar nos céus da periferia.

41. Na época de férias é aberta a temporada das pipas e vai ter muita gente – de crianças a marmanjos – disputando espaço no céu.

42. E no chão também, quando alguma delas cai – já que para pegar uma pipa cortada vale pular muro, atravessar no meio da avenida e lançar mão de qualquer artifício.

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43. A rua também é local perfeito para abrigar elaborados eventos esportivos como jogo de taco e futebol.

44. Chinelo vira gol ou luva para o goleiro.

45. A famosa luva de chinelo também servia para frear carrinho de rolimã e evitar a morte no ladeirão.

46. Para os jogos de futebol, a rua era demarcada com giz ou pedaços de telha.

47. Algumas ruas são perfeitas para o esporte justamente por mal terem calçadas.

48. Outras ruas até têm calçadas, mas com tanto mato e asfalto quebrado vale mais a pena andar pela rua mesmo.

49. E quando a calçada finalmente é boa, há grandes chances de ela estar lotada de merda de cachorro.

50. Em algum momento você vai topar com o córrego que corre a céu aberto e é mal cuidado pela prefeitura.

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Geovani Silva

51. Tem os rojões que estouram completamente fora de contexto. Entendedores entenderão.

52. E às vezes não dá para saber se um barulho foi tiro, rojão ou o escapamento de uma moto.

53. Motos, aliás, que em maioria têm o escapamento furado e fazem questão de fazer um barulho bem grande ao acelerar no meio da rua.

54. Isso quando o motoqueiro não está empinando.

55. Quem não tem uma moto para empinar treina de bicicleta mesmo, ainda que a rua seja movimentada.

56. Rua esta que em época de Copa do Mundo fica toda enfeitada, graças ao dinheiro arrecadado de porta em porta pela molecada da vizinhança.

57. A mesma molecada que passa de casa em casa no dia de Cosme e Damião pedindo doce.

58. Ou, em dias normais, passa só tocando a campainha e saindo correndo.

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Contribuíram para esse post: Diego Silva, Rodrigo Nunes, Geovani Silva e Pamella Souza

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