Transfobia é a maçã podre do feminismo que precisa ser jogada fora

Se o movimento é sobre igualdade, por que há mulheres que usam o feminismo para excluir outras?

Todo mundo provavelmente concorda que o aspecto mais fundamental do feminismo é a busca de igualdade de direitos e oportunidades entre homens e mulheres.

Além dos direitos iguais, o feminismo também busca fortalecer as mulheres por meio do empoderamento feminino e da libertação de alguns padrões que nada mais são que obrigações culturais, muitas sem sentido algum, impostas às mulheres há séculos.

PORÉM, há muitas formas de ser homem e de ser mulher.

Mesmo que busquemos a igualdade, precisamos reconhecer que não somos iguais.

Especialmente depois do inicio do movimento feminista, no século 19, as mulheres se questionam sobre o que realmente é ser mulher. Mesmo que pareça um pergunta boba, não temos uma resposta única e definitiva para essa questão.

É evidente que mulheres se perguntam muito mais quem são do que os homens. Entretanto, cada vez mais eles também têm buscado entender o que é a masculinidade e como homens podem ser diferentes entre si.

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Além do gênero (homem ou mulher), outras coisas interferem no que somos, como por exemplo o local em que nascemos, classe social, orientação sexual, raça e capacidades físicas e mentais.

A experiência de ser uma mulher branca lésbica em São Paulo é diferente da experiência de ser uma mulher negra heterossexual no Rio Grande do Sul, assim como é diferente a vida de uma mulher cadeirante no nordeste.

Ou seja, se buscamos igualdade entre os dois gêneros, precisamos buscar igualdade para TODAS AS DIFERENTES formas de ser mulher.

Por isso, surgiram vertentes feministas tão distintas para dar conta de toda essa multiplicidade.

Mulheres não sofrem apenas com o machismo, mas com outras formas de opressões e em graus de intensidade diferentes. Para esse conceito, a professora norte-americana Kimberlé Crenshaw, em 1989, deu o nome de interseccionalidade.

Resumindo, é como se todos os tipos de preconceito se misturassem e criassem novas formas de diminuir, excluir e violentar mulheres. E tudo isso acaba influenciando nessas formas de ser mulher.

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Outro conceito muito presente no feminismo é o da sororidade, que nada mais é do que o apoio mútuo entre mulheres.

Esse apoio é o que fez as mulheres avançarem muito e conquistarem muitas coisas.

Mas, se o feminismo é sobre igualdade, por que há mulheres que usam o feminismo para excluir outras?

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Meu questionamento não é sobre a ideia de ser amiga de todas as mulheres, ignorando gostos pessoais e afinidades. Mas sobre aquelas que se organizam dentro do próprio feminismo para excluir e perseguir mulheres trans.

Estas feministas fazem isso porque não reconhecem mulheres trans como mulheres e sim como "homens de saia". Para elas, o que faz de alguém uma mulher é o útero e a vulva.

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Por esse motivo encaram as mulheres trans e travestis como uma ameaça dentro do feminismo e as perseguem. As reações de algumas mulheres ao ver que a cantora Liniker foi convidada para o programa "Encontro com a Fátima Bernardes" no dia Internacional da Mulher neste ano é um ótimo exemplo disso.

Divulgação / Rede Globo

Também não é incomum ativistas trans terem suas redes sociais derrubadas ou bloqueadas por ações coordenadas de outras mulheres que querem calá-las.

Qual é a necessidade de excluir ainda mais as mulheres transsexuais e travestis, sendo que já vivemos no país que mais mata pessoas trans?

Segundo um relatório publicado pela ONG Transgender Europe (TGEu) em novembro de 2016, o Brasil matou ao menos 868 travestis e transexuais num período de oito anos. Dado que o coloca o país no topo do ranking de países com mais registros de homicídios de pessoas trans.

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O feminismo não é perfeito e ainda temos muitas questões para resolver entre nós, como o racismo e lesbofobia. Mas não podemos fechar os olhos para a transfobia dentro dele.

Afinal, não podemos tolerar que exista um tipo de feminismo que exclua mulheres PROPOSITALMENTE e politicamente.

BuzzFeed Brasil

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