Portugueses nos mandaram a real sobre o que pensam do Brasil

Eles são muito gratos pela picanha.

Depois da briga entre portugueses e brasileiros no Twitter e da repercussão da nossa lista de histórias de brasileiros em Portugal, fizemos 13 perguntas sobre o Brasil para portugueses. Todas as respostas foram dadas por escrito, e a maioria dos participantes preferiu não revelar o nome completo. Este é o resultado.

Vinte e duas pessoas participaram: Ana A. (22 anos), Rui A. (20), Luís (27), Stephanie (31), Manuel (31), Susana (18), António J. (idade não informada), Rui B. (23), Yuri (23), Catarina (32), João (18), Jordel (33), Rui C. (41), Adriana (21), Vítor Machado (21), Ana. B (26), Mário (21), Marco (23), Daniela (24), Pedro (35), António (42), Hugo (20), Filipa (21) e Natália Melo (31).

Bruno Kelly / Reuters

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Quais são as notícias do Brasil mais comentadas hoje em Portugal?

Rui A.: Problemas políticos (Temer/Cunha/Dilma), Lava Jato, preparação da Olimpíada, zika.

Yuri: Lava Jato, Olimpíada e renúncia do Eduardo Cunha.

João: A destituição de Dilma Rousseff, mas não se tem falado muito sobre o Brasil ultimamente, pelo facto de haver outras notícias que, acabando por nos afetar diretamente, são mais comentadas.

Vítor Machado: Pobreza, Olimpíada, violência, doenças, golpe de Estado.

Pedro: Poluição nos jogos do Rio, incompetência na preparação do evento.

Hugo: Assaltos, mortes e corrupção.

Ueslei Marcelino / Reuters

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Você sabe do processo do impeachment da presidente Dilma Rousseff? Qual é a sua opinião?

Ana A.: Sim, é tudo muito confuso e não deve ter ninguém correcto nessa história.

Rui A.: Acho que sei o básico, sou contra o processo de impeachment.

Stephanie: Sim. Ela precisa sair definitivamente para o que o Brasil se recupere.

António J.: Devia estar presa.

Yuri: O processo foi feito de acordo com a Justiça. Sou a favor.

João: Sim, e discordo do processo. Foi uma forma de a direita subir ao poder injustamente, sem haver o tal crime de responsabilidade que seria a única justificação legal para o impeachment. Além disso, achei até preocupante o saudosismo com que se recordou, por certos deputados, a ditadura militar pela qual o Brasil passou.

Jordel: Sim, rua com ela.

Rui C.: Sim. Não tenho forte opinião, mas me parece um circo político de corruptos perseguindo corruptos.

Vítor Machado: Foi golpe de Estado. A Dilma era uma presidente que foi democraticamente eleita. O Temer não. Ele sabia que a única coisa que o poderia levar ao poder era algo como um golpe.

Pedro: É golpe! Uma minoria que não ganhou as eleições quis tirar a presidente à força.

António: Se é corrupta, concordo.

Natália Melo: É surreal que um bando de corruptos afaste uma presidente que, até onde se sabe, não cometeu nenhum crime. A justificativa de que é uma má gestora não é suficiente. São os rotos a falar mal do nu.

Globo

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O que mais se consome do Brasil hoje em Portugal (comida, música, televisão etc.)?

Rui A.: Música sem dúvida, as telenovelas brasileiras têm diminuído de popularidade em relação às portuguesas.

Rui B.: Guarini... Guaraini... [Guaraná] Não sei como é que se diz mas é bom que se farta zucas.

Yuri: Novelas da Globo e músicas populares brasileiras.

Catarina: Telenovelas, música (Seu Jorge, por exemplo), rodízio, Porta dos Fundos.

Mário: Novela, muitas novelas. Música também, mas já se ouviu muito mais, porque agora há mais concorrência luso-africana nesse aspeto. E agradeço terem mandado a picanha.

Filipa: Para mim, música. Adoro Banda do Mar, Baleia, Los Hermanos. Também se vê muito telenovelas pela sociedade em geral, apesar de não ter grande conhecimento na área.

Natália Melo: Caipirinha!

Javier Soriano / AFP / Getty Images

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Parece haver um interesse muito maior de Portugal pelos temas do Brasil do que o inverso. Você concorda? Por quê?

Rui A.: Sim, talvez pelo facto de Portugal ser um país mais pequeno e o Brasil um continente.

Luís: Sim, o Brasil consome muito a sua própria cultura.

Manuel: Sim, claro. As novelas brasileiras há coisa de 20-30 anos incutiram a cultura brasileira nos portugueses, e o contrário nunca aconteceu, por exemplo.

João: Concordo. Acaba por haver uma exportação muito maior da cultura brasileira para Portugal do que o contrário, quer seja em termos de novelas, de música etc. O porquê, não tenho a certeza. Talvez pela maior relevância geográfica e económica que o Brasil tem em relação a Portugal.

Rui C.: Me parece que sim. Portugal recebeu muito conteúdo de entretenimento vindo do Brasil durante muito tempo. Novelas e música brasileira abundavam nos nossos meios de comunicação, o que manteve o povo português mais informado sobre a cultura, a geografia etc. do Brasil. Os meus amigos brasileiros eram muito menos informados sobre Portugal.

Mário: Não. Mas o Brasil produz tanto conteúdo que nós levamos com ele, como os USA nos mandam os que eles fazem por lá sem podermos escolher. Como Portugal é fraco nesse aspeto... É natural o estado da coisa, não?

Marco: Discordo. Acho que desde o início do século que o Brasil se tem tornado um assunto mais distante, provavelmente devido à "integração europeia" e ao facto de hoje em dia muito menos portugueses imigrarem para o Brasil.

Pedro: Penso que só há interesse quando se pretende provar algo, por exemplo, os políticos portugueses até não são maus, comparados com os brasileiros.

Gerard Julien / AFP / Getty Images

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Você acha que Portugal e Brasil deveriam ter uma relação mais próxima? Por quê?

Luís: Já são bastante próximos.

Manuel: Sim, claro. Há que superar os anglo-saxônicos!

Susana: Sim, devido ao facto de termos a mesma língua em comum.

Rui B.: Obviamente, seria mutuamente beneficial.

Adriana: Penso que sim, afinal de contas falamos a mesma língua e acho que temos muito a aprender uns com os outros. Para além disso seria bom para combater certos estigmas e estereótipos que ainda existem de ambas as partes.

Vítor Machado: Sim. Mas nunca vai acontecer.

Mário: Sim. Uma relação afastada entre duas nações tão próximas traduz-se numa influência menor de cada, individualmente.

Marco: Neste momento é inútil, Portugal está tecnicamente falido e o Brasil continua como "país de futuro".

Pedro: Sim, podiam formar um bloco económico, incluindo os restantes países da lusofonia.

Natália Melo: Os dois países teriam a ganhar com isso. Há muita massa crítica que poderia juntar-se e dar mais à sociedade, nos dois países, em conjunto. A língua e alguma aproximação cultural facilitam a troca de ideias.

Carl De Souza / AFP / Getty Images

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Você soube da briga recente entre portugueses e brasileiros no Twitter? O que achou, principalmente dos comentários ofensivos de ambos os lados?

Ana A.: Sim, acho triste o preconceito, seja de que lado for.

Manuel: Eram crianças, na sua maioria. Eles não sabem o que dizem.

Yuri: Sim. Achei desnecessário. Qualquer "discussão" relacionada a memes é totalmente desnecessária.

Catarina: Em todos os sítios onde há notícias do Brasil há comentários ofensivos. Normalmente parece-me que se saem notícias do Brasil em Portugal há logo muitos brasileiros a comentar e a ofender os portugueses, que em vez de deixarem passar, respondem na mesma moeda, levando a uma escalada de ofensas.

Luís, João, Jordel, Rui B., Rui C. e Filipa: Não soube.

Vítor Machado: Previsível. As relações entre os dois povos ainda estão presas ao passado, e alimentadas por uma ignorância de ambos os lados acerca do outro, mitos urbanos e lendas sobre os dois povos (por exemplo que os portugueses são burros, e da nossa parte que os brasileiro são só ladrões e putas) e assim se perpétua este afastamento pós-independência que ainda é alimentado por mentalidades imperialistas de ambos os povos.

Mário: É parvo [tolo], só. Porque o meme não foi criado por nenhum lado, sequer.

Marco: Não soube de nada. Esse tipo de coisas acontece quando se tem muita gente com tempo a mais e responsabilidades a menos.

Carlos Rodrigues / Getty Images

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O que você acha das piadas que os brasileiros fazem sobre os portugueses, chamando-os de burros?

Stephanie: A diferença cultural e os idiomas que se parecem, mas não são iguais, causam falhas de comunicação entre portugueses e brasileiros, o que acaba por fazer com que os portugueses passem por burros. Os brasileiros, por saberem pouco sobre os portugueses, acham que o idioma é igual e não entendem por que acontecem estas falhas.

Susana: Ofensivo.

Yuri: São feitas as mesmas em relação aos brasileiros.

João: São apenas isso, piadas. A partir do momento em que se concorda com as premissas dessas mesmas, aí sim acho que há um problema. Mas desde que continuem sendo apenas formas de humor e não de humilhação de povos diferentes, não me importo de todo.

Rui C.: Já me ri muito com os meus amigos brasileiros com essas piadas. Eu não levo a mal. Sinceramente não sei a origem desse estereótipo, e os brasileiros que conheço também não.

Mário: É brincadeira, tudo bem. Alguém tinha que ser o alvo das piadas: os franceses têm os belgas, os ingleses os escoceses...

Marco: É perfeitamente aceitável. O mesmo acontece cá com brasileiros ou espanhóis.

Filipa: Pelo que me disseram, não é burros num sentido ofensivo, mas nunca pensei muito na questão e não me faz diferença.

Andressa Anholete / AFP / Getty Images

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Os portugueses também contam piadas sobre os brasileiros? Se sim, que tipo de piada?

Luís: Por acaso não, fazemos mais piadas de alentejanos.

Rui B.: Não me lembro de nenhuma, nem me lembro da última vez que falei com alguém sobre o Brasil.

Ana B.: Contam, e há muito a ideia de a mulher brasileira ser prostituta. É horrível. Eu não sei contar as piadas, e não as tolero que contem perto de mim, pois são xenófobas e sexistas.

João: Por vezes. Talvez por ser mais novo, mas a tendência de contar piadas sobre brasileiros morreu um pouco. Elas existem, de facto, mas não sinto que seja hábito, pelo menos na minha geração, contá-las. Se me pedissem que, sem preparação ou pesquisa, contasse uma piada de brasileiros, não saberia de nenhuma.

Adriana: Sim, também se ouvem portugueses a contar piadas sobre brasileiros, mas não o oiço muito frequentemente. Costumam ser sobre o estereótipo de que as mulheres brasileiras que vêm para Portugal são prostitutas e outras ideias pré-concebidas. De igual modo, acho ofensivo e desnecessário.

Pedro: Não há piadas específicas, há só estereótipos que é difícil mudar! Homem: é preguiçoso ou ladrão. Mulher: vem para dar golpe da barriga ou é puta.

Mario Tama / Getty Images

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O que você mais admira no Brasil e nos brasileiros?

Ana A.: Serem alegres e fazerem festa.

Rui A.: A jovialidade, a cultura vibrante.

Luís: É um país bonito. Serem relativamente unidos.

Manuel: A união nacional.

António J.: São mais unidos que nós.

Catarina: A criatividade na produção cultural.

João: Definitivamente o calor e a felicidade geral da população.

Rui C.: Estão sempre bem-dispostos, gente muito amigável e simpática.

Ana B.: No geral admiro o bom humor que muitos têm. E acerca do Brasil não dá para não mencionar a paçoca, que é a melhor coisa!

Vítor Machado: A felicidade.

Mário: A picanha.

Daniela: A boa disposição, a energia que transmitem de alegria, não são tão depressivos quanto os portugueses e vivem a vida de uma forma mais leve e contagiante!

Marco: O facto de terem criado uma identidade e cultura própria.

Pedro: A vivacidade ou o parecerem estar sempre em festa, mesmo quando não há muito para celebrar.

Hugo: Serem muito gente boa, sempre alegres e divertidos, quase sempre de bem com a vida.

Filipa: Espírito. Adoro o espírito brasileiro e a ideia transparecida de que está tudo bem.

Natália Melo: A alegria, a simpatia e, principalmente, a força de lutar contra as intempéries mantendo o sorriso.

Christophe Simon / AFP / Getty Images

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E o que você mais despreza no Brasil e nos brasileiros?

Rui A.: A insegurança e a política.

Luís: Por vezes valorizam a ignorância ao invés de a combaterem.

Manuel: A corrupção generalizada. E não, não vem de nós.

Rui B.: A qualidade de vida.

João: Desprezar é uma palavra um pouco forte. Acho que o Brasil se daria muito melhor sem a corrupção política (tal como nós) e a forte influência que a religião tem, tanto na sociedade como no setor político.

Rui C.: A sua corrupção e injustiças sociais.

Mário: A IURD [Igreja Universal do Reino de Deus].

Marco: Sofrem do mesmo que os norte-americanos: tanta coisa acontece lá (país grande) que o resto do mundo passa ao lado.

Pedro: Nada.

António: Grande taxa de criminosos.

Hugo: Crime e violência.

Natália Melo: A corrupção. A violência. A impossibilidade de confiar em estranhos que ofereçam ajuda. Não sei se é desprezo. Tristeza aproxima-se mais.

Oscar Pereira da Silva / Via pt.wikipedia.org

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O que você pensa sobre a colonização portuguesa do Brasil?

Ana A.: Que deveria ter havido mais respeito com os índios.

Rui A.: Um rumo normal da colonização, é triste terem sido os portugueses a começarem a deportação em massa com a escravatura africana e o genocídio dos povos nativos.

Stephanie: Talvez não tenha sido bom para o Brasil.

Manuel: Foi bem mais pacífica que a inglesa e a espanhola.

Rui B.:

"Heróis do mar, nobre povo,

Nação valente, imortal,

Levantai hoje de novo

O esplendor de Portugal!

Entre as brumas da memória,

Ó Pátria, sente-se a voz

Dos teus egrégios avós,

Que há-de guiar-te à vitória!

Às armas, às armas!

Sobre a terra, sobre o mar,

Às armas, às armas!

Pela Pátria lutar!

Contra os canhões, marchar, marchar!"

[Trecho do hino nacional português]

João: Do ponto de vista mais realista, qualquer forma de imperialismo é má. O que nós acabámos por fazer foi tomar terras de outros como nossas, injustamente. Apesar disso, a parte patriótica, e portanto, mais irracional, que há em mim não deixa de acreditar que foi um feito impressionante da nossa parte, tendo em conta o nosso tamanho. Foi preciso coragem para simplesmente partir em busca do desconhecido, e governar um império que se estendia pelo mundo inteiro.

Adriana: Não tenho orgulho dessa época e dos meus antepassados que poderão ter feito parte da expansão portuguesa. Portugal foi um grande país, é verdade, mas foi graças à escravatura e isso não é motivo de orgulho.

Vítor Machado: Um acto de crueldade, limpeza racial, erradicação de culturas e uma ganância sem fim.

Mário: Não vale a pena julgar a história com valores do presente. Foi um período óptimo para Portugal e só não foi melhor por não ter ficado mais ouro aqui.

Filipa: Não tenho bem a noção do quão boa ou má foi a colonização no Brasil, pois nas aulas só aprendemos uma parte e não as consequências finais. Para Portugal sei que foi benéfico, mas não soubemos gerir a riqueza que "roubamos". Não posso dizer muito pois não penso muito no tema, mas não é propriamente algo do qual nos possamos orgulhar.

Jewel Samad / AFP / Getty Images

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De forma geral, como você se sente em relação ao Brasil?

Luís: É um país bastante distante que no entanto está ligado ao nosso pela língua e cultura.

Susana: Apaixonada.

Rui C.: Nunca lá fui, mas tenho muitos amigos brasileiros. Adoro o Brasil e o seu povo.

Adriana: Sinto-me da mesma forma que me sinto para com todos os outros países do mundo: gostaria que os estereótipos e o racismo acabassem de uma vez por todas e de aprender mais sobre todas as culturas do mundo.

Vítor Machado: Orgulhoso por saber que os meus antepassados descobriram o Brasil, mas envergonhado com as suas ações. E no que toca ao Brasil moderno sinto-me um pouco triste porque o Brasil tem potencial para ser um dos países mais incríveis do mundo e no entanto neste momento é um caos e uma espelunca.

Ana B.: No geral gosto do Brasil. Acho que é um país que pode fazer muito e que tem muitas coisas boas. Mas a corrupção é o que o mantém estagnado. Enfim, é muito semelhante a Portugal neste aspecto.

Mário: Bem. Não me posso queixar de um país que nunca me fez mal algum.

Marco: Interessado.

Pedro: País irmão!

Filipa: Nada contra. Gosto muito do espírito do país, nunca visitei e teria medo devido a questões de segurança, mas fora isso parece-me muito agradável.

Peter Macdiarmid / Getty Images

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Quer dizer mais alguma coisa para os brasileiros?

Rui C.: Um bom futuro, é o que eu desejo.

Marco: Noutros tempos os portugueses "seguraram" as várias tribos nativas através dos caciques, hoje um punhado de inteligentes segura os vários estados do Brasil da mesma forma. Mas é assim em todo lado.

Ana B.: Apenas que gosto de os ouvir a falar, o português do Brasil é mais musical que o de Portugal. Acho bonito.

Vítor Machado: Lutem por um país melhor. O Brasil pode ser muito, mas muito mais do que aquilo que é neste momento.

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