Você precisa ler este texto sobre o que é o amor

O relato do escritor Ique Carvalho sobre seu pai teve mais de 300 mil curtidas no Facebook.

O texto "Amor completo" foi um dos maiores virais do Facebook nas últimas semanas. O BuzzFeed Brasil entrevistou o autor, Ique Carvalho, que está impressionado com a repercussão: "Está sendo uma loucura."

Escritor e publicitário, Ique publicou "Amor Completo" em 9 de junho em seu blog "The Love Code". No dia 16, Daniel Gonçalves reproduziu o texto no Facebook. Até esta segunda-feira (29), a publicação tinha mais de 300 mil curtidas e 170 mil compartilhamentos na rede social. Com autorização do autor, publicamos abaixo o texto na íntegra, sem edição, ilustrado com fotos de seu Instagram.

Leia a íntegra de "Amor completo":

Em junho de 2013, poucos dias antes do dia dos namorados, minha namorada terminou comigo. Eu fiquei sem entender. Voltei pra casa e durante todo o caminho me perguntava: "Por que?".

A única coisa que vinha na minha cabeça era a voz dela dizendo: "Eu amo você". Eu passei um mês sofrendo procurando respostas para o que estava acontecendo.

Um dia, entrei no quarto do meu pai chorando e perguntei: "Pai, ela dizia que me amava. Então, por que ela terminou comigo?".

Ele respondeu: "Meu filho, Quando alguém entra na sua vida e depois de algum tempo vai embora, pode ser qualquer coisa menos amor".

Eu disse: "Não da para entender. Um dia, existe amor e no outro tudo acabou". Ele respondeu: "Você nunca vai superar seus traumas se continuar procurando no amor uma lógica. Construa uma nova história".

Eu perguntei: "E de onde vem essa força pra começar algo novo?" Ele respondeu: "Não se preocupe com isso. Todo começo vem de um final".

Uma semana depois, meu pai foi diagnosticado com uma doença rara e degenerativa que iria matá-lo em alguns dias. Minha mãe não o abandonou. Ela ficou.

Meu pai saia toda sexta para comer pizza com dois irmãos. Quando ele parou de andar, meus tios começaram a trazer a pizza aqui em casa. Eles diziam: "Sem o seu pai, não tem graça".

E ficavam a noite inteira dando gargalhadas. Hoje, meu pai não consegue mais comer. Mesmo assim, toda sexta meus tios passam aqui em casa.

Meu pai estudou em Ouro Preto-MG. Na formatura ele combinou com três amigos de se encontrarem de cinco em cinco anos. Este ano, meu pai não pode ir porque ele não anda mais. Os amigos dele saíram do interior de Minas e vieram até aqui em casa.

Todo formando tem uma foto pregada na parede na república que estudou. Os amigos do meu pai trouxeram a foto dos quatro.

Pregaram a foto de cada um na parede do quarto e disseram: "Agora, a nossa república é a sua casa". E combinaram que daqui cinco anos estariam de volta. Meu pai chorou.

Meus pais completaram 47 anos de casados dia 2 de junho. Eles sempre dançaram nesse dia. Meu pai não consegue mais se levantar. Minha mãe entrou no quarto e colocou a música que eles dançavam. Ela disse: "Meu filho, traz a cadeira de rodas".

Eu perguntei: "O que você vai fazer?" Ela respondeu: "Vou fazer o que seu pai faria por mim". Eu busquei a cadeira de rodas. Minha mãe colocou meu pai na cadeira. Ela ajoelhou ao lado dele e disse: "Vamos dançar".

Abraçou meu pai e fez a cadeira girar. Ela ficou ajoelhada a música toda. Meu pai chorava e ria ao mesmo tempo. Eles ficaram ali dançando e se divertindo. Eu voltei pro meu quarto chorando.

Abri o notebook e resolvi escrever esse texto. Porque eu vejo o mundo distorcendo ou complicando demais o amor. Um monte de gente dizendo fique com alguém que faz isso, que faz aquilo, que te de isso, que não sei o que mais.

Esse monte de regras e exigências, são coisas criadas pela cabeça. E, meu velho, não sei se você sabe mas o amor é criado pelo coração. O resto, é ilusão. Então, acredite. O amor, amor completo é quando você quer o outro sempre perto. Só isso.

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Ique conta que está recebendo dezenas de mensagens sobre o texto e sobre seu pai, Juarez Reis de Carvalho, de 67 anos.

"Tem gente do Brasil inteiro enviando mensagem, agradecendo por eu ter colocado o amor da forma mais simples possível e, o principal, [o fato de] ser uma história real. Muita gente está perguntando onde meu pai estudou em Ouro Preto, procurando saber mais sobre a doença dele, querendo ajudar, perguntando do meu livro", conta. Em 2014, Ique publicou pela editora Gutenberg "Faça Amor, Não Faça Jogo", uma coletânea de crônicas de seu blog e textos inéditos.

Formado em engenharia em Ouro Preto, Juarez vem de uma família de oito irmãos.

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Depois de formado, ele trabalhou na Usiminas e fez muitos amigos lá, que o visitam até hoje lá em casa. Após a aposentadoria dele, nós passamos por dificuldades financeiras. Meu pai quebrou. Então, ele comprou apostilas e começou a estudar para o concurso da Receita Federal em 2003. Estudava dez horas por dia em casa. E passou em primeiro lugar.

Juarez tem Paralisia Supranuclear Progressiva, uma doença degenerativa rara similar ao mal de Parkinson.

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Nós todos ficamos impressionados com a luta diária dele. Só quem ama muito a vida pra lutar desse jeito. Porque a doença é muito agressiva, ela vai matando os órgãos, paralisando todos os movimentos... Hoje meu pai fica mais tempo na cama. Tem dias em que ele não consegue nem abrir os olhos de tão fraco que fica. E tem dias melhores. Um dia de cada vez. Mas ele nunca desanimou. Sempre dá um sorriso no fim do dia.

Juarez é fanático pelo Atlético Mineiro. O relato que Ique escreveu sobre a torcida dele na conquista da Copa do Brasil em 2014 também viralizou. "Cruzeirenses enviaram mensagens dizendo: 'Meu Deus, não acredito que estou chorando por um atleticano!'"

Leia aqui o texto na íntegra.

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Não há tratamento para a doença de Juarez. Em 2014, os médicos disseram que ele precisaria de home care (tratamento em casa), mas o plano de saúde se negou a cobrir o procedimento. Ique entrou na Justiça contra a empresa.

Meu pai usou vários remédios que são utilizados para o Parkison, mas nenhum adiantou. Existem alguns avanços com o uso de vitamina D para algumas doenças como a ELA (que tem os sintomas muito parecidos com a do meu pai). Hoje, ele usa dois medicamentos para aliviar um pouco a dor muscular e outro para ajudar a dormir. Acho que a maior dificuldade é sempre escutar dos médicos que não há nada o que fazer. Escutar isso mata a minha mãe e eu. Mas a gente nao desiste. =O)

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Leia mais textos de Ique Carvalho:

"Faça amor, não faça jogo"

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"Namore uma mulher que sorria"

"O último dia da sua vida"

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