Por que o Snapchat e a Apple não têm um problema com notícias falsas

    Ter editores humanos compensa.

    O Facebook se destacou durante as eleições americanas como sendo uma importante plataforma para as pessoas se informarem, assim como um veículo para trotes, propagandas e notícias completamente falsas — um problema que trouxe muitas críticas à empresa.

    No entanto, seu principal concorrente nos EUA, o Snap (antigo Snapchat), conseguiu se esquivar deste mesmo problema. O Snap agora conta com 150 milhões de usuários, cerca de 10 milhões a mais do que o Twitter. A plataforma vem se transformando, cada vez mais, em uma fonte de notícias para seus usuários.

    Existem algumas razões óbvias pelas quais o Snapchat é um solo menos fértil para propagandas de adolescentes macedônios, falsificadores ou websites hiperpartidários mascarados de noticiosos. O conteúdo gerado por seus usuários desaparece depois de um curto período de tempo. As notícias, por sua vez, ficam em uma seção diferente chamada Discover. Posts de pessoas que você segue são mostrados cronologicamente, não por um algoritmo de popularidade ou personalizado.

    No Snapchat, o que conta é publicar autenticidade, não acumular favoritos, e as regras do jogo são reforçadas pela forma que o aplicativo foi projetado. Os perfis do Snapchat não mostram uma contagem de seguidores ou permite que os usuários saibam quantos seguidores têm. Além do mais, é mais difícil ser viral quando você não pode compartilhar um link para a postagem de um indivíduo.

    Como Farhad Majoo escreveu no The New York Times, a diminuição de algoritmos de personalização e viralidade também desempenham um papel na forma como o Snapchat trata as notícias.

    O processo pelo qual um conteúdo passa a estar no Discover é bem controlado e envolve um bom número de "porteiros humanos" pelo caminho, disse um representante do Snap ao BuzzFeed News.

    Antes de poderem postar no Discover, veículos de imprensa precisam ser analisados como parceiros potenciais, em um acordo que vem com termos estritos.

    Parceiros Discover que publicam diariamente no Snapchat nos EUA, na França e no Reino Unido incluem nomes reconhecidos como CNN, MTV, Le Monde, Sky News, e Cosmopolitan.

    Apesar de os veículos terem independência editorial, há colaboração entre os que produzem conteúdo para o aplicativo e a equipe do Snapchat Discover, que os orienta sobre a formatação. Artigos podem ser otimizados para terem sucesso no Facebook ou Twitter somente alterando seus títulos e imagens. Já no Snapchat, os artigos precisam ser reformatados por inteiro para servir ao aplicativo.

    Essas características foram construídas em volta da crença de que usuários que compartilham e consomem conteúdo de amigos fornecem mais potencial para o crescimento do Snap a longo prazo, segundo Rob Fishman, cofundador da Niche, empresa que conecta marcas a redes sociais.

    "O Snapchat torna a descoberta de pessoas que não estão nos contatos do seu telefone extremamente difícil, pois eles acreditam que o compartilhamento de pessoa para pessoa é mais chamativo do que o chamado modelo de influência", disse Fishman, cuja empresa foi comprada pelo Twitter em 2015.

    "É impossível alguém trapacear no Discover."

    É uma grande diferença se comparado a outras redes sociais, onde órgãos de imprensa e marcas "são basicamente idênticos a usuários individuais", disse Fishman. "É impossível alguém trapacear no Discover porque tudo que está lá foi visto e analisado pelo Snapchat."

    O mesmo tipo de propaganda que contagiou o Facebook poderia teoricamente ser disseminado dentro do Snapchat de algumas maneiras: por meio de uma Live Story (uma mistura de fotos e vídeos sobre um evento em particular como um show ou protesto, selecionados pelo Snapchat) ou uma História de contas individuais, que usuários podem criar adicionando fotos ou vídeos do que estão fazendo ao longo do dia. Nesses casos, no entanto, uma combinação de editores humanos, meio visual e design anti-viral também tornam difícil a disseminação de notícias falsas.

    Usuários individuais do Snapchat podem adicionar texto a uma imagem ou vídeo, mas o espaço é limitado. É possível imaginar um cenário onde um indivíduo utilize sua História como um programa de rádio, mas esse tipo de conteúdo é difícil de compartilhar e o Snapchat não promove contas individuais. "Você literalmente não sabe quantos seguidores tem no Snapchat, ele não foi projetado para que contas premium acumulem seguidores.", disse Fishman.

    Para o Live Stories que aparecem no Discover, o Snapchat conta com jornalistas e editores humanos com experiência em assuntos como música, entretenimento, viagem ou moda, segundo a empresa.

    No ano passado, o Snap contratou Peter Hamby, um dos repórteres políticos mais conhecidos da CNN, como chefe de notícias. Em 2015, o próprio Snap começou a cobrir política, assim como outros assuntos. Desde então, a empresa já cobriu as eleições americanas, a inundação história na Carolina do Sul (EUA), a votação do Brexit no Reino Unido e a votação de impeachment no Brasil. Algumas Live Stories podem vir de fotos e vídeos de usuários do Snapchat, mas, novamente, o conteúdo é avaliado pelo Snapchat e passa por um editor humano.

    O Apple News, o aplicativo de celular lançado no ano passado que tem 70 milhões de usuários ativos e conteúdo de 4.000 publicações, é outra plataforma que, assim como o Snapchat, conta com editores humanos ao longo do caminho para evitar a propagação de notícias falsas.

    O Apple News tornou-se um importante veículo de informação durante a campanha eleitoral americana. Segundo a CNN, o Apple News teve 36,5 milhões de usuários únicos em setembro, e a Bloomberg reportou um aumento de 400% nos visitantes da Apple News em outubro. De acordo com fontes que conversaram com o BuzzFeed News, o Apple News teve que lidar com um número significante de pessoas tentando espalhar notícias falsas e discursos de ódio na plataforma.

    No entanto, a mesma abordagem restritiva que mantém o iTunes e a App Store funcionando normalmente funcionou no Apple News. Por exemplo, a Apple News checa todos os veículos de imprensa que entram na Apple News. Indivíduos também podem compartilhar conteúdo no Apple News, mas, se seu RSS feed sair da taxa usual, a Apple consegue detectar isso. Também há uma função para "reportar um problema", onde usuários podem reportar notícias falsas ou discursos de ódio dentro do Apple News. Assim como na App Store, a empresa faz a curadoria de qualquer conteúdo que ganhe destaque.

    O recente perfil do Snap no The New York Times escrito por Manjoo enfatizou que favorecer editores humanos e evitar a viralidade distanciou o Snap de outras redes sociais. Fishman apontou que essas inovações também são administradas cuidadosamente. "Na minha opinião, o Snapchat é tanto ambiciosamente experimental como muito bem controlado."

    Fishman deu como exemplo a introdução do Histórias e dos óculos Spectacles. "Os dois foram novidades dramáticas e sem precedentes, mas a forma como o Snap os lançou foi cuidadosamente planejada e executada. Você pode ver isso especialmente com o Spectacles. Há muita gente falando sobre eles, mas poucos pares disponíveis."

    Este post foi traduzido do inglês.

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