Revolta no partido e queda nas pesquisas desesperam Trump

Após mulheres o terem acusado de comportamento inadequado, Trump lida com sucessivas crises na reta final da corrida eleitoral.

Mike Segar / Reuters

OCALA, Flórida (EUA) — Donald Trump estava chegando ao fim de um discurso áspero e furioso em seu comício, na tarde da última quarta-feira (12), quando pausou para fazer uma confissão inesperada.

"Se não ganharmos esta eleição, não sei o que vou fazer", disse Trump, com sua voz rouca de tanto gritar. "Não sei o que vou fazer".

O tom de desespero dissonou da cacofonia de machismo e triunfalismo que define um comício típico de Trump — todavia, estes são tempos de desespero para o candidato do Partido Republicano à Presidência dos Estados Unidos.

Enfrentando um partido em revolta, uma queda livre nas pesquisas de intenção de voto e um frenesi crescente na imprensa após mais de uma dúzia de mulheres o terem acusado de comportamento inadequado, Trump tem cada vez mais recorrido ao seu público fiel para ser reconfortado — e se redimir — nas semanas finais da corrida eleitoral.

Em campanha pelo Estado da Flórida, o candidato tem aparecido visivelmente nervoso nos últimos dias — alternando imprevisivelmente entre broncas furiosas, pedidos carentes por validação e declarações tenebrosas de martírio.

"Vamos esperar que tudo resulte na vitória no dia 8 de novembro — porque, caso contrário, eu perdi meu tempo [e] vocês perderam o tempo de vocês", disse Trump a uma multidão. "Terei gasto mais de 100 milhões de dólares. É muito dinheiro...se eu não ganhar, será simplesmente o maior desperdício de tempo, energia e dinheiro".

Onde quer que vá, Trump compulsivamente lembra seus apoiadores do que ele teve que abrir mão para se candidatar a presidente, como se não estivesse satisfeito com a falta de gratidão do eleitorado. "Pessoal, eu não precisava fazer isso", disse repetidamente a seus apoiadores em Panama City.

"Minha vida era tão simples. Eu tinha uma vida linda e simples", lamentou em Ocala.

Em West Palm Beach, Trump fez o papel de um mártir atormentado por um sistema global sinistro determinado a destruí-lo. Ele negou energicamente as mais recentes denúncias de assédio sexual contra ele, enquadrando as alegações como evidências de uma ampla conspiração política e midiática.

"Eu sabia que iriam jogar todas as mentiras que pudessem contra mim, minha família e meus entes queridos", disse Trump. "Eu sabia que nada iria impedi-los de tentar me parar. Mas eu nunca imaginaria... que seria tão vil, que seria tão maldoso, que seria tão perverso assim".

"Mesmo assim", continuou, "levo todas essas pedradas e flechadas alegremente por vocês. Eu as levo pelo nosso movimento, para que tenhamos nosso país de volta".

Essa atitude não é inteiramente desprovida de uma motivação estratégica. Como um conselheiro sênior da campanha explicou, a meta é reenquadrar a eleição em seu mês final como um embate entre os "nacionalistas populistas" e os "globalistas elitistas" — com Clinton como a "guardiã de um sistema armado...corrupto [e] remoto" e Trump como o "agente da mudança".

A abordagem é, essencialmente, uma simples progressão da ideia de nós-contra-eles que tem estado no centro da candidatura de Trump desde o início.

No entanto, em outros momentos, Trump não parece estar atrelado a qualquer tipo de mensagem de campanha coerente — amargamente atacando repórteres pelo nome, ridicularizando republicanos infiéis e oferecendo críticas detalhadas a qualquer telejornal que o tenha irritado mais recentemente.

Ele já chegou a comparar seus problemas ao dos eleitores da classe operária. "Estão ficando mais velhos, trabalhando mais e ganhando menos", disse. "Aqui está a boa notícia: também estou mais velho, trabalhando mais do que nunca... sei lá, talvez eu esteja perdendo meu tempo".

Ele fez uma pausa. "Estou perdendo meu tempo?"

Ao mesmo tempo, Trump disse a seus fãs na Flórida que ele talvez nunca os perdoe se ele perder naquele Estado. "Criei um monte de empregos na Flórida. Miami, Mar-a-Lago — se vocês não votarem em mim, pessoal, vou ficar muito furioso" (quando essas afirmações apareceram na TV, Trump reclamou que os canais de notícias estavam tirando-as de contexto para que ele parecesse um "babaca").

Claro que o relacionamento intenso de Trump com seu público não é novidade. Há muito que ele se gaba das multidões de admiradores que se reúnem para assistir às suas performances no trajeto da campanha. Assistentes dizem que ele extrai energia desses fãs, deliciando-se com a chance de entretê-los, entusiasmá-los, incitá-los a um frenesi.

No entanto, atualmente, à medida que Trump enfrenta a implosão de sua candidatura e a deserção em grande escala de seus aliados, as multidões parecem oferecer ao candidato mais do que a oportunidade de se vangloriar. Elas representam uma miragem política — uma que oferece consolo, absolvição e uma visão nebulosa de vitória que parece quase ao alcance.

Muitos dos apoiadores de Trump parecem entender o papel que estão desempenhando agora e estão orgulhosos em ajudar a reerguer seu candidato. Elizabeth Breton esperou por horas no asfalto escaldante na Flórida central para ver Trump discursar na última quarta-feira (12). "Quase desmaiei", disse, "mas ainda estou aqui".

Breton disse que a mídia e o Partido Republicano têm maltratado Trump e que ela queria que o candidato soubesse que ela o admirava — mesmo que ele estivesse à beira da derrota. "Tenho orgulho dele por não desistir", disse sobre Trump. "Ele está persistindo".

Colaborou Rosie Gray.

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