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Globo pagou propina por direitos da Libertadores e da Sulamericana, diz delator do caso Fifa

É a primeira vez que a maior empresa de mídia brasileira é citada no caso. A emissora nega.

Delator no caso de corrupção da Fifa, o empresário argentino Alejandro Burzaco afirmou em depoimento em Nova York, nesta terça (14), que a Globo pagou propina para adquirir direitos de transmissão de campeonatos de futebol.

O delator disse que, em junho de 2012, participou de um jantar no restaurante Tomo Uno, em Buenos Aires, com a presença do então presidente da CBF, José Maria Marin; do atual ocupante do cargo, Marco Polo Del Nero; e do então diretor de Esportes da Globo, Marcelo Campos.

Na ocasião, segundo Burzaco, o grupo acertou que os pagamentos de propina feitos em decorrência dos direitos de transmissão das copas Libertadores e Sulamericana seriam divididos, dali em diante, entre Marin e Del Nero — antes, segundo ele, eram destinados a Ricardo Teixeira.

É a primeira vez que o maior conglomerado de mídia do Brasil é envolvido diretamente no escândalo, que se desenrola desde 2015. A emissora nega as acusações e diz que "não pratica nem tolera qualquer pagamento de propina" (leia a íntegra ao final do post).

O ex-executivo da Globo Marcelo Campos e o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira tinham uma relação próxima. Eles eram, inclusive, vizinhos em um sítio na cidade de Barra do Piraí, no interior fluminense.

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Reprodução

Ex-presidente da produtora Torneos, também conhecida como TyC, Burzaco negociava com os canais de televisão os direitos de transmissão, tanto na Argentina como em outros países da América Latina.

O empresário está colaborando com a investigação, que é liderada pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, e pagou US$ 112 milhões de multa. Ele afirmou à juíza Pamela K. Chen que outras emissoras também pagaram propina.

Além da Globo, o argentino citou a Fox Sports — atual detentora dos direitos de transmissão da Libertadores no Brasil — e a mexicana Televisa, entre outras.

Segundo Burzaco, a Fox Sports pagou US$ 3,7 milhões pelos direitos de transmissão da Libertadores e da Sulamericana. No Brasil, o canal é dono dos direitos para transmitir a competição, que sublicencia para a Globosat, desde 2012, quando estreou no país.

O BuzzFeed News não conseguiu contato com a Fox Sports, mas, em outras ocasiões, a emissora negou irregularidades.

Até agora, a principal empresa brasileira envolvida no escândalo da Fifa era a Traffic, empresa de mídia cujo dono, José Hawilla, também fechou acordo com as autoridades dos Estados Unidos. Ele concordou em pagar US$ 151 milhões a título de indenização.

Em sua delação, Hawilla acusou a cúpula da CBF — incluindo o atual presidente, Marco Polo Del Nero — de receber propina em troca dos direitos de transmissão de campeonatos nacionais. O empresário, que é dono da TV Tem, afiliada da Globo no interior de São Paulo, não citou outras empresas de mídia em sua delação.

Ricardo Teixeira e José Maria Marin

Em seu depoimento, Burzaco disse que o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira recebeu US$ 600 mil por ano, desde 2006, a título de propina dos contratos de transmissão da Copa Libertadores e da Copa Sulamericana, torneios organizados pela Conmebol.

Segundo o empresário, Teixeira recebia os pagamentos em contas no Oriente Médio, na Ásia e em Andorra. Os pagamentos chegaram a ser viabilizados, segundo o argentino, pelo próprio Teixeira. "Nós tinhamos problemas constantes com bancos que não queriam enviar dinheiro a esses destinos exóticos", disse Burzaco.

O BuzzFeed News não conseguiu contato com a defesa de Teixeira. Em entrevista concedida ao jornal Folha de S.Paulo, em junho, o ex-cartola negou ter recebido dinheiro ilegal.

Outro ex-presidente da CBF, José Maria Marin, também foi acusado pelo argentino de receber propina. Ele está em prisão domiciliar em seu apartamento na Trump Tower, em Nova York, e é réu na mesma ação em que o argentino testemunhou — mas, ao contrário de Burzaco, o brasileiro nega ter recebido dinheiro ilegal.

Alejandro Burzaco said in court today that he paid bribes to Jose Maria Marin, Manuel Burga, and Juan Angel Napout,… https://t.co/dUCzOcKmna

Leia a íntegra do posicionamento da Globo.

Sobre depoimento ocorrido em Nova York, no julgamento do caso Fifa pela Justiça dos Estados Unidos, o Grupo Globo afirma veementemente que não pratica nem tolera qualquer pagamento de propina. Esclarece que após mais de dois anos de investigação não é parte nos processos que correm na Justiça americana. Em suas amplas investigações internas, apurou que jamais realizou pagamentos que não os previstos nos contratos. Por outro lado, o Grupo Globo se colocará plenamente à disposição das autoridades americanas para que tudo seja esclarecido. Para a Globo, isso é uma questão de honra. Não seria diferente, mas é fundamental garantir aos leitores, ouvintes e espectadores do Grupo Globo que o noticiário a respeito será divulgado com a transparência que o jornalismo exige.

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