Fotos raras mostram como é o interior da fábrica onde o seu iPhone é feito

Uma artista passou um dia com os empregados da Foxconn.

Mari Bastashevski

A fotógrafa Mari Bastashevski visitou recentemente a Foxconn, uma enorme fabricante terceirizada de componentes eletrônicos em Shenzhen, China, cujos clientes incluem a Apple, Amazon, Microsoft, Sony e Nintendo. A empresa — que vem durante anos recebendo críticas constantes sobre as condições de trabalho na fábrica — é geralmente muito discreta sobre suas operações, permitindo apenas visitas raríssimas e reguladas para a imprensa. Bastashevski pôde fazer uma visita relativamente sem obstruções e sem manipulações. Este é um relato de suas 24 horas por lá.


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Mari Bastashevski

A Foxconn é uma cidade industrial de alta segurança onde trabalham centenas de milhares de funcionários. Eu não posso oferecer muitos detalhes sem comprometer a pessoa que permitiu meu acesso, mas uma vez que o meu passe foi autorizado pelo check-in eletrônico no portão principal, eu pude circular por diversos lugares durante um dia inteiro, sem obstrução por parte da segurança interna, que estão acostumados com visitantes não-chineses, geralmente os funcionários da Apple. Além disso, a fábrica é bastante agitada e por isso, as chances de dar de cara com os mesmos guardas por vezes suficientes para causar um alarme são muito pequenas.

A circulação de pessoas é maior entre as 6 e 7 da manhã e entre as 4 e 5 da tarde, quando homens e mulheres entram e saem de suas estações de trabalho em três ondas ordenadas, e novamente à meia-noite, em um momento onde a vila é especialmente dinâmica.

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A cidade em si é estruturada e demarcada rigidamente. É o oposto de uma cidade comum em termos de diversidade e da intensidade flexível da vida urbana. O seu design, que à primeira vista parece labiríntico, foi na verdade estritamente definido de uma forma semelhante à de um campo de treinamento militar: Todas as áreas são divididas em blocos A, B, C, D, F e E, e um sistema de transporte interno faz o deslocamento dos funcionários entre estas zonas. Ao chegar, eles deixam seus pertences em um depósito com prateleiras numeradas e prosseguem para seus laboratórios ou escritórios, constantemente atravessando outros níveis de segurança pelo caminho.

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É evidente que a fábrica tentou se esforçar para seguir o protocolo que faz com que as condições de trabalho pareçam mais razoáveis. Os escritórios e espaços públicos estão cheios de áreas verdes, e cartazes motivacionais ou avisos são colocados aleatoriamente nas paredes. Há duas piscinas, um hospital, um sindicato dos trabalhadores da Foxconn compreensivelmente vazio, quiosques comerciais, cafés, cantinas, e uma biblioteca eletrônica automatizada. Redes de prevenção do suicídio estão instaladas em escadas aleatórias e ao longo de diversas partes dos telhados. Os gerentes iniciam os turnos de trabalho com um discurso motivacional animado, que é acompanhado pelo hino corporativo da Foxconn.

“Mas uma fábrica ainda é uma fábrica”, diz um educado engenheiro para mim através de um aplicativo de traduções quando lhe pergunto sobre os suicídios. “Moças e rapazes jovens não querem mais trabalhar em fábricas, de forma alguma.”

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Os funcionários são reservados sobre suas idades reais. Muitas vezes eles procuram fazer horas extras e conseguem. Aqueles que não podem pagar por um lugar fora da fábrica ficam amontoados nos dormitórios e não deixam a cidade por semanas a fio. É empoeirado, é quente, e muitas vezes o cheiro de detritos da fábrica é insuportável.

Durante o dia, os funcionários, incluindo muitos guardas de segurança, adormecem em posições incômodas durante qualquer oportunidade que têm, em cadeiras, mesas de laboratório e bancos, mas à noite, quando o calor se vai, a cidade ganha vida.

O drama humano dentro da vila é o inverso da inércia do trabalho monótono: Os homens estão trocando itens, jogando ou conversando com os outros sem desgrudarem da tela de seus celulares; as mulheres estão derretendo sob máscaras de lama negra. Elas são sérias e focadas, com a intenção de manterem as aparências e testarem os produtos gratuitos, mas têm pouca energia para aproveitar o processo, que ocorre em salões de beleza improvisados no meio de lojas de conveniência. Este antigo passatempo, do qual sobrou muito pouco, é local e cheio de texturas. Ele está em contraste gritante com a uniformidade de bens produzidos no coração desta fortaleza mecânica.

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Mari Bastashevski

Eu imaginava de alguma forma que, no final do dia, a vila estaria dormindo, mas os notívagos se destacam, assim como as pessoas correndo na pista do estádio e ao redor do lago do lado de fora da cidade industrial.

A melhor interpretação possível da "cidade ao sul" de Kafka :

“As pessoas vivem lá também imagine só! não dormem!"

"E por que não?"

"Porque não se cansam."

"E por que elas não se cansam?"

"Porque são tolas."

"Os tolos não se cansam?"

"Como podem os tolos se cansarem?”

Não é bem assim como Walter Benjamin viu quando ele comentou: "Pode-se observar que os tolos são semelhantes aos assistentes incansáveis." Pelo contrário, esta ausência de cansaço parece resistência a uma definição, e não uma adesão.

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Mari Bastashevski é artista, escritora e pesquisadora russo-dinamarquesa trabalhando atualmente na China e em Hong Kong. Seu projeto chamado “10,000 Things Out of China”, apoiado pela sociedade Abigail Cohen, navega através da cultura de logísticas complexa, politicamente ambígua e constantemente violenta pela qual nossos utensílios domésticos chegam até nós.

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