O programa da Angélica ofendeu japoneses e descendentes brasileiros de uma só vez

E o canal Yo Ban Boo desenhou por que eles erraram rude.

No último final de semana, no programa "Estrelas", a Angélica visitou o bairro da Liberdade acompanhada da cantora Paula Fernandes e da dupla sertaneja Marcos e Belutti.

O canal Yo Ban Boo, produzido por asiáticos brasileiros, desenhou porque o programa foi tão infeliz.

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Para começar, vamos esclarecer o seguinte: a cultura japonesa FAZ parte da cultura brasileira.

Gostando ou não de temaki com cream cheese e cebolinha, os japoneses já estão pra lá de sua terceira geração por aqui. Os descendentes japoneses que aqui nasceram são tão brasileiros quanto os descendentes de qualquer outra nacionalidade como os portugueses, espanhois, africanos, italianos ou sírios.

Ser japonês não é uma fantasia que você pode vestir.

Interesse e exaltação da cultura asiática é diferente de transformar uma identidade em fantasia. Pensa em como seria esquisito se um estrangeira vestisse uma roupa de carnaval e pedisse pra um brasileiro deixá-la "bem brasileira!".

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Não é legal ser tratado como estrangeiro no país em que você nasceu. E não dá pra tratar o bairro da Liberdade como um "mundo desconhecido, misterioso e estrangeiro".

Ainda mais quando isso é feito forçando MUITO a barra.

Nem insistir em chamar a pessoa por um nome que ela explicitamente já pediu pra não usar.

Isso tem nome: se chama bullying.

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Poucas coisas são tão irritantes quanto alguém emulando sotaque ou inventando significados por não entender algum idioma.

Os japoneses ao virem morar no Brasil se esforçaram um monte para aprender uma língua totalmente nova com fonemas que eles nunca escutaram e um jeito de escrever totalmente diverso: viraram motivo de piada.

Você, descendente, nasceu aqui, fala português perfeitamente, talvez nem mesmo fale japonês: você AINDA sofre com as piadas. Qual é o jeito de fazer entender que não tem graça?

É muito triste quando esmagar a identidade asiática parece ser algo que o maior canal de TV do país se sente autorizado e confortável em fazer.

Rede Globo / Reprodução

Lembra quando fizeram white washing, colocar um não-asiático para fazer o papel de um asiático, na novela "Sol Nascente"? Luís Melo foi o ator escolhido para interpretar Kazuo Tanaka, um imigrante e pai de família japonês.

Sim, isso já aconteceu em novelas sobre outras nacionalidades no passado, mas isso não significa que isso seja legal ou aceitável. Não é que o mundo esteja ficando chato, acontece é que pessoas não-brancas também querem representatividade e se você está falando de asiáticos isso é o mínimo de respeito pelo tema.

Sim, existem atores brasileiros asiáticos. Mas quando não escalam eles nem na novela sobre imigrantes japoneses, fica mesmo difícil torná-los conhecidos!

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A matéria que teria teoricamente como objetivo exaltar os japoneses resolveu fazer isso repetindo todas as coisas que japoneses e descendentes não aguentam mais ouvir.

E a linha de pensamento mais comum vira: se as pessoas na TV estão fazendo isso e ninguém tirou do ar, significa que está autorizado. E, por consequência, legitima qualquer pessoa a fazer isso, seja crianças em formação, seja o tiozera que já fez isso a vida inteira.

Um asiático ou descendente pode até responder sua piadinha sem graça com um sorrisinho, mas, mesmo que ele não diga, ele dificilmente gosta, mesmo que já tenha se acostumado.

E fica o questionamento: "Quando é que vai rolar uma matéria boa sobre cultura asiática e os descendentes brasileiros que não desrespeite todos os asiáticos e descendentes ao mesmo tempo?"

Não é tão difícil, é só representar o asiático com o mesmo respeito que você brasileiro gostaria de ser retratado pela mídia lá fora e lembrar que asiáticos brasileiros são e se sentem tão brasileiros quanto você.

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