Protestos de rua se tornaram ameaça a Temer, diz consultoria de risco

    Relatório da Eurasia diz que presidente precisa do Congresso para aprovar reformas, mas, se apoiar desfiguração das 10 Medidas, pode ver a população se virando contra o governo. Efeito da delação da Odebrecht é incerto.

    O ambiente político em Brasília continua a se deteriorar. Depois da queda de Geddel Vieira Lima do ministério de Temer em um escândalo envolvendo suspeitas de tráfico de influência para favorecer um prédio de luxo, os congressistas "jogaram gasolina na fogueira" ao aprovar medias que, na prática, minam o poder de investigações que envolvem políticos, incluindo a Lava Jato.

    A conclusão está em um relatório da consultoria de risco político Eurasia, difundido a empresários e operadores do mercado financeiro na quinta-feira (1º). De acordo com os analistas, o principal risco à continuidade do governo Temer agora vem das ruas.

    No domingo (4), grupos que no passado protestaram contra Dilma Rousseff agora vão se manifestar contra os políticos que tentam deter a Lava Jato. Para a Eurasia, grupos de esquerda que se opõem ao pacote de austeridade de Temer — como o teto de gastos e a reforma da previdência — podem engrossar a manifestação.

    A segunda fonte de estresse para o governo é o fechamento da delação da Odebrecht. "Se Temer não estiver diretamente implicado, como parece, ele vai manter as condições de governar. Mesmo que o risco de ele ser diretamente implicado [na delação] pareça em declínio, uma coisa é certa: Temer terá pela frente um 2017 extremamente difícil", afirma o texto.

    Mas faz uma ressalva: "É precisamente sob essas condições que os legisladores aprovam reformas difíceis". A Eurasia aposta que a Temer consiga aprovar a reforma da previdência no próximo ano.

    O BuzzFeed Brasil revelou esta semana que os principais aliados de Temer no Congresso estão citados por recebimento de propina por Cláudio Melo Filho, ex-diretor de relações institucionais da empreiteira e responsável pelo contato com políticos.

    CMF, como é referido nas anotações de Marcelo Odebrecht, afirmou aos procuradores ter distribuído R$ 22 milhões ao líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), ao atual presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), e ao seu provável sucessor no comando do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE).

    O ex-executivo também relatou ter pago, por fora, dívidas da campanha do atual presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), quando ele disputou e perdeu a Prefeitura do Rio, em 2012.

    A escolha de Sofia de Temer

    O relatório destaca que Temer terá que fazer uma “escolha de Sofia”: ficar ao lado do Congresso ou ao lado da população.

    Tudo porque, se o presidente decidir sancionar a lei conforme quer o Congresso, com o mecanismo para punir o Ministério Público e a magistratura, corre o risco de ver “a classe média alta se virando contra ele e indo às ruas”, afirma o texto.

    Por outro lado, Temer precisa da Câmara e do Senado para aprovar medidas econômicas de seu governo. Se vetar o pacote das 10 Medidas, pode perder apoio entre parlamentares.

    “O custo e os riscos de ficar contra a opinião pública e o Judiciário são muito maiores”, afirma o relatório da Eurasia.

    Segundo a consultoria, se Temer for obrigado a tomar uma decisão entre vetar as 10 Medidas — e irritar o Congresso — ou perder apoio na população, ele escolherá a primeira opção.

    A chance de deputados e senadores tentarem boicotar as medidas econômicas de Temer é pequena, avalia a Eurasia, porque também nesse caso a maior parte da opinião pública é a favor delas.

    O Senado em fogo baixo

    Depois da onda de críticas que se seguiu à desfiguração das 10 Medidas na Câmara, frisa a consultoria, os líderes do Senado manterão a tramitação normal do projeto que votado pelos deputados. "A intenção é deixar a poeira baixar com o recesso legislativo, as festas de final de ano e voltar ao tema apenas em 2017", interpretam os analistas.

    "Enquanto isso, o Palácio do Planalto indica que vai fazer avançar as reformas fiscais", disse. Na próxima semana, o governo vai anunciar os parâmetros da reforma da previdência.

    Veja também:

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