Entenda a decisão do papa de autorizar padres a absolver quem fez aborto

    Trata-se de uma das mais importantes mudanças de abordagem da liderança católica sobre o tema. Antes, os padres não tinham autonomia de oferecer o perdão religioso a mulheres que abortaram.

    O papa Francisco autorizou a todos os sacerdotes católicos a absolver mulheres que praticaram o aborto. Trata-se de uma das mais importantes mudanças de abordagem da igreja católica sobre o tema. Antes, os padres não tinham autonomia, eles próprios, de oferecer o perdão religioso a mulheres que abortaram.

    Na carta de encerramento do Ano da Misericórdia, que foi divulgada nesta segunda (21), o papa reiterou que o aborto continua sendo "um pecado grave já que põe fim a uma vida inocente", mas sinalizou "não existe pecado ao qual a misericórdia de Deus não possa alcançar e destruir, quando encontra um coração arrependido que pede para se reconciliar com o padre".

    Aqui o que diz o trecho da carta:

    Em conformidade com esta exigência [da Misericórdia], e porque nenhum obstáculo deve existir entre a reconciliação exigida para o perdão de Deus, concedo a partir de agora a todos os sacerdotes, em virtude do seu ministério, a prerrogativa de absolver aqueles que adquiriram o pecado do aborto.

    [...] Eu gostaria de reiterar com toda a força que o aborto é um pecado grave, porque põe fim a uma vida inocente. Com igual força, no entanto, posso e devo dizer que não há pecado que a misericórdia de Deus não pode alcançar e destruir quando encontra um coração arrependido que pede para se reconciliar com o Pai.

    Cada sacerdote, portanto, [deve oferecer] orientação, rosto, apoio e conforto em acompanhar penitentes nesta viagem de reconciliação especial.

    Aqui a íntegra do texto, em italiano.

    A Igreja tem pelo mundo 5432 bispos que, antes, eram os únicos aptos a perdoar o chamado pecado do aborto. Hoje, com a decisão do Vaticano, a medida se estendeu aos 415.792 padres.

    Em nota, o secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Leonardo Ulrich Steiner, afirmou que “a CNBB, naturalmente, acolhe essa nova orientação como um gesto misericordioso do Santo Padre. Mas, reiteramos que será cada bispo, em sua diocese, a autoridade capaz de dar as necessárias orientações sobre esse assunto ao clero e ao povo.”

    O teólogo Fernando Altemeyer, da PUC-SP, explicou que a medida acompanha o perfil do papa, que tem se mostrado inovador e voltado para a misericórdia. “O perdão ao aborto já está no código canônico. a novidade é que o papa ampliou o que o código prescrevia a todos os padres. Francisco é inovador e misericordioso”, disse o teólogo.

    Para se ter uma ideia de como o aborto já foi tratado pela Igreja, em 2009, o então arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, excomungou a mãe que consentiu e o médico que praticou o aborto em uma criança estuprada pelo padrasto. A menina tinha 9 anos. Na ocasião, o bispo, que não excomungou o padrasto, disse que a excomunhão era automática.

    Para Altemeyer, Francisco segue a visão do padre Afonso Ligório (1696-1787), para quem deve-se tratar o pecado igual o leão, e o pecador como um cordeiro. “O papa Francisco deve dormir à noite e sonhar: o que eu vou fazer de novo amanhã?”, brincou o teólogo.

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