Como cuidar da minha saúde mental me fez olhar mais para os outros

Depois de passar pela experiência de ser a pessoa mais para baixo dos lugares e círculos que você frequenta, é como se você desenvolvesse um radar especial para pessoas que não estão bem.

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Cuidar da sua saúde mental é como colocar uma lente de aumento gigantesca em si mesmo – e nos seus pensamentos, e nos seus sentimentos e em como tudo isso e o mundo ao redor te afeta. Parece simples, afinal de contas, nós estamos pensando e sentindo e convivendo com nós mesmos o tempo todo. Mas pode passar completamente batido quando você está ocupado demais trabalhando, pagando contas, tendo relacionamentos, enfim, vivendo.

Cuidar da minha saúde mental vem sendo uma constante no último ano e meio da minha vida, e mesmo assim ainda me surpreendo com as coisas que venho aprendendo nesse processo. Uma delas foi perceber que cuidando da minha saúde mental passei a ser muito mais sensível e preocupada com a saúde mental das pessoas ao meu redor.

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Cuidar da minha saúde mental me fez perguntar (e ouvir) mais como vão as outras pessoas

Sempre tive uma abordagem completamente sem saco para aquela primeira parte de qualquer conversa básica, seja no WhatsApp, no Facebook ou ao vivo: “Oi, tudo bem?”. “Tudo bem, e você?. “Bem também”. Achava uma enrolação falsamente educada antes de um daqueles pedidos de favorzinho. Sim, bastante ranzinza.

Mas a coisa rapidamente mudou de figura no último ano, quando fui diagnosticada com depressão. Quando você não está bem, ou está passando por um período mais longo particularmente difícil, alguém não te perguntar se está tudo bem ao puxar conversa soa quase agressivo.

Talvez você sinta que já ficou íntimo de alguém e perdeu as formalidades, mas saber se alguém está bem para conversar com você não é uma formalidade. Passei a entender que no fundo essa troca é bastante gentil, demonstra interesse no próximo e, acima de tudo, é respeitosa.

Hoje sempre pergunto como vão os outros antes de qualquer conversa, e também passei a prestar muito mais atenção ao que elas respondem, especialmente os silêncios. Ninguém é obrigado a estar “tudo bem” – e mesmo se não for da sua conta quando alguém não está bem, desabafar “ah, não muito” já pode fazer diferença para esta pessoa.


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Cuidar da minha saúde mental me fez perceber quando alguém está mais quieto do que o normal

Depois de passar pela experiência de ser a pessoa mais para baixo dos lugares e círculos que você frequenta, é como se você desenvolvesse um radar especial para pessoas que não estão bem, mesmo quando (felizmente) você vai voltando ao seu normal.

É mais fácil perceber quando seu amigo para de responder mensagens, quando a pessoa que senta atrás de você no trabalho passa o dia de fones sem falar com ninguém ou quando alguém no ônibus vai se sentir mais acolhido por um “boa noite”.

É como se agora você fizesse parte do Clube Silencioso das Pessoas Que Já Precisaram da Sensibilidade Alheia em Uma Terça-Feira À Tarde e isso naturalmente faz você recepcionar os novos integrantes para dizer a eles que vai ficar tudo bem – e que você está aqui, caso eles precisem de um ombro.


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Cuidar da minha saúde mental me fez perceber que precisamos ter mais cuidado com como falamos de nós mesmos

“Como eu sou burro.”

“Eu nunca sigo as instruções, sou horrível.”

“Claro que sim, eu sou louca mesmo.”

“Bom, nós dois somos um lixo, por isso que a gente combina.”

“Nossa, eu estou completamente ridícula com essa roupa.”

Uma frase muito comum que você vai ler em qualquer texto sobre cuidados com a saúde mental é “trate a si mesmo como você trata seu melhor amigo”. E pode até parecer um chavão, mas passei a perceber como pessoas que amo (inclusive, veja só, eu mesma) falam coisas horríveis sobre si mesmas por puro hábito. E como jamais deixariam alguém tratar assim as pessoas que amam.


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Cuidar da minha saúde mental me fez abrir mais minhas questões para incentivar os outros a pedirem ajuda

Depois que precisei de colo de amigos e pessoas próximas, passei a conscientemente dividir mais o que estava se passando com a minha saúde mental para que as pessoas falassem mais sobre o que estava se passando com a saúde mental delas.

Ouvi pela primeira vez como amigos de anos lidam com seus pais. Ouvi como pessoas que até então eram apenas colegas lidavam com seus problemas de saúde mental e nos aproximamos muito mais. Incentivei duas pessoas próximas queridas e que não estavam bem a procurarem ajuda de psicoterapeutas e psiquiatras.

Escrevi aqui no BuzzFeed Brasil como foi meu processo com o diagnóstico do transtorno depressivo, escrevi também o que aprendi com a depressão, estou escrevendo este texto e pretendo continuar a fazer isso para incentivar mais pessoas a se abrirem sobre seus problemas e, principalmente, a pedirem ajuda se estão precisando de ajuda.

Lembre: você sempre pode pedir ajuda, seja para amigos, para familiares, para especialistas, no posto de saúde, no pronto socorro ou no Centro de Valorização da Vida, ligando gratuitamente a qualquer dia ou hora para o 188.

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