Uma das testemunhas do caso de propinas entre dirigentes do caso Fifa, o colombiano Luis Bedoya deu detalhes nesta segunda-feira (27) sobre como houve pagamentos em dinheiro vivo em troca de direitos de transmissão de eventos.
O depoimento acontece em Nova York, onde corre o processo que investiga um esquema de propinas na alta cúpula do futebol mundial. Entre os acusados está José Maria Marin, ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol, que está preso nos Estados Unidos.
A rede Globo também foi acusada de pagar propina. A empresa nega.
Bedoya colabora com a Justiça americana. Ele é ex-presidente da Federação Colombiana de Futebol. Em depoimento, ele deu detalhes de como recebeu a oferta de propina, prontamente aceita, entre 2007 e 2015.
O depoimento de Bedoya mostra um dos pontos mais reveladores do esquema Fifa: como os empresários recorriam a propinas para conseguir contratos e atrapalhar concorrentes, que também adotavam o mesmo expediente.
Um dos casos relatados por Bedoya é da empresa Full Play, interessada em tomar o contrato da brasileira Traffic para explorar os direitos da Copa América de 2010. Seriam duas cotas de US$ 500 mil para cada dirigente.
Bedoya relatou "entusiasmo" pela oferta de propina, que partiu de Mariano Jinkis, da Full Play. Em especial, de um colega equatoriano. Era a primeira vez que veriam US$ 1 milhão juntos.
O depoimento de Bedoya vai além do episódio da Copa América. Ele afirma que Jinkis chegou a sondá-lo para saber se poderia contar com um voto a favor do Catar, como sede da Copa de 2022.
Em troca do voto, houve uma oferta de propina. Bedoya afirma que isso aconteceu em maio de 2010, durante a final da Champions League, em Madrid.
Ele e outros dirigentes da América do Sul estavam no lobby do hotel, quando foram abordados por Mariano Jinkis, que apresentou um representante da candidatura do Catar.
A conversa foi rápida. Quando esse dirigente do Catar saiu, Jinkis foi objetivo: havia um orçamento de US$ 10 milhões a US$15 milhões para os dirigentes da América do Sul. Cada um poderia levar algo como US$ 1 milhão.
A resposta de Bedoya foi que não era possível responder ali no hotel, de pronto. Depois, a Colômbia acabou votando pela candidatura americana. "A gente poderia ter recebido dinheiro", foi o comentário de Jinkis, segundo Bedoya, feito após a vitória do Catar.
A relação da argentina Full Play com empresários do Catar era próxima. Em outro depoimento na Justiça americana, Santiago Peña, sócio de Jinkins, disse que chegou a abrir uma negociação com um fundo do Catar para vender a empresa. Esse fundo era ligado ao dono do Paris Saint German, Nasser Al-Khelafi. Em 2015, contudo, o caso Fifa veio a tona, os dirigentes da Full Play foram indiciados e a negociação, cancelada.
NIKE
No depoimento de Bedoya, a Nike foi citada pela primeira vez no processo, como mais uma das empresas que ofereciam propinas a dirigentes em troca de contratos.
O acerto, contudo, não prosperou.
De acordo com o ex-presidente da Federação Colombiana de Futebol, a Nike estava interessada em se tornar a fornecedora oficial de material para a seleção daquele país, em 2010.
Ele disse que recebeu oferta de um "pagamento pessoal" por um dirigente da Nike, cujo nome não foi citado. Isso aconteceu durante um jantar em Buenos Aires, na Argentina.
Segundo Bedoya, a Nike acabou sendo preterida e o contrato foi fechado com a Adidas. O dirigente afirma que a empresa não pagou propina.