Ex-vice-presidente da Caixa, o delator Fábio Cleto disse que não conseguia manter seu padrão de vida com o salário no banco estatal — em torno de R$ 40 mil — e, por isso, recorria ao recebimento de propinas.
De acordo com Cleto, sua passagem pela Caixa era um investimento para valorizar o currículo e depois voltar a ganhar dinheiro no mercado financeiro.
Essa foi a justificativa de Cleto para explicar por que disse que recebia propina em percentuais muito menores do que o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Segundo Cleto, Cunha ficava com 80% e o resto era dividido por três operadores.
Cleto disse que ficava com 4% da propina. O valor do salário de vice-presidente da Caixa é sigiloso, mas é estimado na faixa de R$ 40 mil por mês. Ele foi dirigente do banco entre 2011 e 2015.
O delator presta depoimento em Campinas (SP) nesta quinta-feira (26), em videoconferência com a Justiça Federal em Brasília, que julga a denúncia de que Cunha, Cleto e Lúcio Funaro ganhavam propina de empresários em troca de investimentos da Caixa.
O juiz Vallisney de Oliveira, da 10ª Vara Federal no DF, perguntou se Cleto achava “justo” haver essa divisão da propina.
Essa foi a resposta do delator: uma maneira de manter o padrão que tinha antes de entrar na Caixa e, depois, ganhar mais dinheiro no mercado.
"Meu sonho era passar quatro anos no mercado público e depois voltar para o privado. Aí sim com um pacote de benefícios e bônus bem mais robustos. Então, apesar de receber 4% da propina arrecadada, nunca questionei querendo ganhar mais do que isso. Para mim era só uma forma de ganhar um pouquinho mais e manter o padrão de vida alto que eu tinha nos meus anos de mercado. E aí voltar para o mercado e realmente ganhar dinheiro".
Cleto disse que só em um caso ganhou cerca de R$ 2 milhões de propina. Ao juiz, o delator disse que o serviço público não era uma maneira de ganhar dinheiro.
"Eu sabia que o lugar para ganhar dinheiro com consciência limpa seria no mercado privado. O mercado público era uma forma de valorizar o currículo e depois voltar para o mercado, como fizeram vários profissionais e ex-diretores do Banco Central. O mercado público é uma escola maravilhosa."
O depoimento de Cleto é assistido por Cunha e Funaro, que também fez delação. É a primeira vez que eles se encontram, na condição de delatado e delator.