A Procuradoria-Geral da República definiu que Michel Temer, enquanto for presidente da República, terá uma "imunidade temporária" para não ser investigado. Mas isso não impediu a Odebrecht de fazer duras acusações contra ele.
As delações contra Temer podem ser resumidas em dois episódios: propina em contrato da Petrobras e caixa dois em 2014.
Assim a PGR resumiu a participação de Temer nos esquemas:
"Como se verá, a narrativa dos colaboradores e os elementos de corroboração apontam para a obtenção ilícita de recursos para o grupo político capitaneado por MICHEL TEMER que, atualmente, ocupa o cargo de presidente da República".
Além dos depoimentos, a Odebrecht apresentou as seguintes provas:
Episódio 1 - Os US$ 40 milhões acertados com Eduardo Cunha e "abençoado" por Temer
Em 2010, a Odebrecht diz que acertou um percentual de propina em troca da garantia de obter contrato de US$ 480 milhões na área ambiental da Petrobras. E, para isso, reuniu-se com a cúpula do PMDB, incluindo Temer. Para a empreiteira, a presença de Temer, mesmo sem falar abertamente de propina, foi uma maneira de "abençoar" o negócio.
Sobre o encontro, a Odebrecht apresentou as seguintes provas.
Esse e-mail citando o encontro, com o endereço:
Os delatores, contudo, dizem que não foi falado explicitamente em propinas ou valores. Apenas em manter os "compromissos" com o PMDB. Aqui, o delator Márcio Faria fala do encontro.
Um investigador pergunta: "Ficou claro que era vantagem indevida?"
Faria crava: "Totalmente vantagem indevida, doutor, porque era um percentual em cima de um contrato. Ninguém falou em diretório municipal, estadual, nada. Era um per-cen-tual de um contrato".
Vá ao minuto 3:43 para ver ele explicando da propina.
Em um vídeo em que se defende, Temer negou o acerto de propina, mas admitiu que "é fato que participei de uma reunião com o representante de uma das maiores empresas do país."
A Odebrecht apresentou ainda um cronograma de pagamentos.
E tem, ainda, os extratos de pagamentos fora do país.
A Procuradoria-Geral da República tem elementos para afirmar que boa parte desse dinheiro foi operado por Cunha e João Augusto e, agora, deve apurar para quem eles distribuíram os valores.
Episódio 2 - Caixa dois na campanha de 2014
Reunião no Palácio do Jaburu em maio de 2014, entre Michel Temer e Marcelo Odebrecht, acertou R$ 10 milhões para o PMDB, incluindo caixa dois. Parte foi para a campanha de Paulo Skaf ao governo de São Paulo_ em especial, a Duda Mendonça, seu marqueteiro. O resto ficou para Moreira Franco e Eliseu Padilha, atuais ministros de Temer, distribuírem.
De novo, Temer admitiu a reunião, mas disse que só falou de doações eleitorais.
Vale dizer que há uma divergência. O delator Cláudio Melo Filho afirma que a conversa foi explícita, com a presença de Temer no acerto de dinheiro de caixa dois. Marcelo Odebrecht, na Justiça Eleitoral, disse que o presidente não estava na mesa nesse momento da conversa.
Mas a principal prova vem de um amigo próximo de Temer, o o advogado e ex-assessor do Planalto José Yunes.
Primeiro, esse registro da Odebrecht coloca um endereço dele como destino da entrega de dinheiro vivo.
O mais grave é que Yunes admitiu que, de fato, recebeu um "pacote" em seu escritório, que depois foi recolhido. Ele se classificou de "mula" e contou tudo que sabia à Lava Jato. Quem deixou o dinheiro, segundo Yunes, foi Lúcio Funaro, operador financeiro ligado a Eduardo Cunha.
A revelação de que Yunes havia recebido parte dos recursos destinados ao PMDB, após a reunião entre Temer e Marcelo Odebrecht, foi feita pelo BuzzFeed Brasil em dezembro do ano passado. Leia aqui.
Há mais. A outra parte, vale lembrar, era para o marqueteiro de Paulo Skaf. Esse e-mail da Odebrecht fala de um valor de R$ 4 milhões que ˜PS" devia a DM.
Essas são as siglas de Paulo Skaf e Duda Mendonça.
Repare que há um aviso de CMF a MT.
Seria um recado de Cláudio Melo Filho, da Odebrecht, a Michel Temer.
O episódio de Skaf não é pouca coisa: Duda Mendonça, assim que soube da acusação da Odebrecht, recorreu a uma delação, para também contar tudo sobre o caso.