11 homens negros compartilham histórias de racismo na comunidade gay

"Ao sairmos juntos, eu percebia que ele não queria aparecer junto a mim".

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1. "Um ex-namorado me disse que só andava de mãos dadas comigo pra mostrar aos outros".

"Eu percebo que na minha rodinha de amigos, aqueles de pele mais clara ou brancos são puxados pelos caras nas festas e eu fico sozinho. Por outro lado, tem o clichê da 'rola grande' e até casos como o de um ex-namorado que me disse que só andava de mãos dadas comigo pra mostrar aos outros que namorava um negro bonito, como um troféu. Nos dois primeiros namoros que tive, eu não entendia esse racismo e achava que eram apenas piadas de mau gosto." - Rodrigo Oliveira, 26 anos.

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2. "Já forçaram o sexo anal comigo várias vezes e falaram que 'negros aguentam mais a dor'".

"Alguns brancos dizem que não gostam de 'morenos' por questão de gosto ou porque 'morenos' (este termo é péssimo) têm o pau muito grande para eles. Alguns amigos já ficaram comigo pensando apenas na possibilidade de encontrar um pau grande ou por ter o imaginário de que negro é melhor na cama. Já ficaram alisando meu cabelo e fizeram 'elogios' sobre a minha performance sexual porque sou negro. Também já forçaram o sexo anal comigo várias vezes e falaram que 'negros aguentam mais a dor.'" - Rafael Porto, 25 anos.

3. "Recebi várias cantadas e piadinhas relacionadas ao tamanho do meu pênis".

"Em aplicativos, eu tento conversar com as pessoas e simplesmente sou destratado ou bloqueado dizendo que não gostam de negros. Também já recebi várias cantadas e piadinhas relacionadas ao tamanho do meu pênis porque as pessoas têm essa ideia de que homens negros são dotados, possuem um pênis mais avantajado, o que nem sempre é verdade. A comunidade gay diz lutar por direitos iguais, mas, na verdade, as pessoas só pensam em si mesmas, destratando os gays que não são normativos e brancos." - Rafael, 20 anos.

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4. "Na hora do sexo oral, demonstraram ter nojo pelo meu ânus ser preto."

"Dizem que me acham interessante ou que sou 'diferente'. Mas já fiquei com três garotos que, na hora do sexo oral, demonstraram ter nojo pelo meu ânus ser preto. Eles não quiseram nem me tocar. Por eu ter um corpo atlético, parece que eu tenho alvará pra ser o ativão dotado. Tipo, impossível eu também ser passivo, porque aparentemente homem negro gay só serve pra ser roludo.

Nunca consegui ter um relacionamento duradouro, até mesmo pelos motivos citados. Acho que a visão que a maioria dos gays têm de relacionamento é muito 'instagramado' e 'americanizado', sabe? Uma coisa que ouvi uma vez é que eu deveria aparar os pelos da barriga porque, segundo a pessoa, 'homem que é ~mais negro~ não fica legal com pelos.'" - Leonardo, 19 anos.

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5. "Ao sairmos juntos, eu percebia que ele não queria aparecer junto a mim".

"Percebi que um homem branco com quem saí me olhava e me elogiava como sendo 'exótico' e ficou surpreso ao conversarmos porque eu tinha algum conteúdo. Foi uma transa estranha e depois de um tempo vi que ele ficou comigo apenas pela experiência diferente de eu ser um cara negro. Por exemplo, ao sairmos juntos, eu percebia que ele não queria aparecer junto a mim, que isso só seria possível depois, na intimidade. Hoje eu sei que era racismo." - Anônimo, 33 anos.

6. "Apesar de estudarmos na mesma faculdade, ele insistia em fetiches que me colocavam como pobre e sem instrução."

"Tinha um cara branco com quem eu transava às vezes que sempre pedia pra me chamar de 'negão' durante o sexo. Apesar de estudarmos na mesma faculdade e de sermos da mesma classe social, ele insistia em fetiches que me colocavam como pobre e sem instrução. Ele também sempre brigava se eu não queria ser ativo, pois pra ele essa era função do negro no sexo." - V., 21 anos.

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7. "Passei a alisar o cabelo, quando o que eu gostaria é de alguém que se posicionasse e me defendesse".

"Inúmeras vezes usam a desculpa de 'não faz o meu tipo' comigo. Já escutei tanto isso que perdi as contas. Mas ser negro não é ser um tipo, não é algo que eu construí ou posso mudar. Ser comunicativo, engraçadão ou atlético é um tipo. Mas ser negro definitivamente não é um tipo. E quando algum homem gay branco tem interesse em se relacionar comigo, o relacionamento nunca se torna público, sempre escondendo dos amigos, família, redes sociais. Obviamente não é só por homofobia, já que alguns deles eram assumidos.

Em todas as abordagens que eu recebo, tanto pessoalmente quanto por redes sociais, ou as pessoas te recusam por ser negro, ou te procuram pelo mesmo motivo. Homens gays sempre me abordam utilizando minhas características físicas e pertencentes à raça negra como lábios carnudos (eu odeio que elogiem apenas a minha boca, eu sou muito mais do que isso), o meu corpo grande, meu pênis (que por algum motivo todo mundo pensa que é gigante). Eu sinto que a objetificação vai além do físico e chega até no comportamental, ou seja, DEVO agir como macho alfa, ser forte, bravo, malandro e sensual. Se você foge do 'você é um negão de tirar um chapéu, não posso dar mole se não você créu' é preterido, ignorado, deixado de lado.

Um ex-namorado meu ria quando os amigos dele faziam brincadeiras pelo meu cabelo ser enrolado. Eu achava que estava tudo bem, entrava na brincadeira para não ser chato, mas depois vi que aquilo magoava. E, como resultado, passei a alisar o cabelo, quando o que eu gostaria é de alguém que se posicionasse e me defendesse." - Bruno Barroso, 24 anos.

8. "Quando você se olha no espelho e vê que seu nariz e seu rosto não estão dentro do padrão, dá a impressão de que você não foi feito para aquele espaço".

"Muitas vezes eu vejo que, por ser negro e gay, sou visto como uma opção exótica, mas nunca pegável. E com isso, eu acabava me comparando aos homens brancos e me perguntava por que eu era assim, ou como seria tudo mais fácil se minha pele fosse um pouquinho mais clara. Dói bastante porque já é difícil ser gay e, quando você se olha no espelho e vê que seu nariz e seu rosto não estão dentro do padrão, dá a impressão de que você não foi feito para aquele espaço, que seu lugar não é ali.

Eu gosto muito de dançar, sempre fui extrovertido desde pequeno. Em todos os lugares em que frequento para dançar sempre percebo os meninos me olhando, mas sempre que vou me enturmar ou querer algo mais quente com algum deles sempre ouço um 'você não faz meu tipo'. É algo que entendo, mas ao mesmo tempo é extremamente doloroso." - Pedro Silva, 17 anos.

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9. "Um dia antes de nos encontrarmos, eu falei que era negro e ele na hora disse que não sentia atração."

"Uma vez, na época em que o mIRC era popular, eu me apaixonei por um rapaz. Nós trocávamos muitas mensagens e falávamos sempre por telefone, mas não existiam câmeras digitais. Um dia antes de nos encontrarmos, eu falei que era negro e ele na hora disse que não sentia atração. Nos encontramos e ele foi extremamente frio comigo. É bizarro o quanto a normatividade branca é o padrão a ser seguido por boa parte da comunidade gay. Se você está distante desse padrão por qualquer motivo, você já é carta fora do baralho em diversos setores. É desgastante..." - Anônimo, 34 anos.

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10. "Ele me disse: 'não gosto de negros, não suporto gente negra'".

"Em uma festa estávamos eu, dois casais e um cara amigo deles que eu não conhecia. Meus amigos começaram a jogar indiretas para mim e esse outro cara, já que éramos os solteiros, para a gente começar a conversar e se conhecer. Eu já estava começando a ficar interessado porque ele era lindo demais, mas ele se fechou totalmente e não quis de jeito nenhum começar um papo comigo. Então eu perguntei o motivo e ele disse: 'não gosto de negros, não suporto gente negra'. Eu fiquei muito triste e magoado e saí o mais rápido possível daquela festa. Chorei muito quando cheguei em casa." - Yago, 23 anos.

11. "Eu ficava com um rapaz branco que só ficava comigo escondido ou no final das festas".

"A maioria dos caras só fica comigo escondido, nunca me apresentam para os amigos ou me levam em lugares públicos (cinema e lanchonete, por exemplo). Sempre recebo convites para encontros em locais escondidos apenas com o intuito do sexo. Quando tenho alguma relação sexual sinto que o cara me trata como um fetiche e logo sou descartado.

Quando eu tinha 19 anos (em 2008), eu ficava com um rapaz branco que só ficava comigo escondido ou no final das festas. Eu me iludi e pensei que poderia evoluir a relação com ele, mas em um certo evento ele deixou de ficar comigo para ficar com um outro rapaz branco que dizia ser meu amigo. Fiquei muito revoltado e, quando fui tirar satisfação, o rapaz que eu ficava jogou na minha cara que 'jamais namoraria com um preto.'" - Eziquiel, 28 anos.

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