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23 Histórias dessa maravilha de pessoa que foi o Ricardo Boechat

Certa vez, Boechat saiu do ar por depressão. Quando voltou, leu uma longa carta sobre enfrentar a doença e começou a ser chamado para palestras. “Se soubesse que a depressão me daria essa grana, já teria tido há muito tempo", dizia. Era conversa fiada: ele doava o dinheiro das palestras...


Uma das coisas que o jornalista e apresentador Ricardo Boechat, morto em um acidente de helicóptero em 11 de fevereiro deste ano, mais gostava de fazer era contar histórias. Dele e dos outros, ao vivo, no jornal da BandNews FM e na TV Bandeirantes, e nas conversas de bastidores.

Agora, dois de seus colegas na BandNews, os jornalistas Eduardo Barão e Pablo Fernandez, lançam o livro "Eu sou Ricardo Boechat" (Panda Books), com dezenas de histórias sobre o apresentador, que morreu aos 66 anos, quase 50 deles dedicados ao jornalismo.

Escolhemos 23 histórias que mostram como Boechat levava a vida sem perder o humor e a atenção sobre os problemas do país e de seus ouvintes.

1. Boechat recebia muitos pedidos de ajuda de ouvintes. Eram queixas sobre dificuldades financeiras e problemas de saúde. Quando sua mulher, Veruska Seibel, foi ao banco depois do funeral, ficou sabendo que ele pagava, pelo banco, quatro convênios médicos e mensalidades de faculdade de ouvintes.

2. Quem o ouvia fazendo piadas com José Simão não imaginava o quanto ele ficava nervoso. Veruska conta no livro que ele suou de nervoso durante anos antes de entrar no ar porque achava que a audiência tinha altas expectativas com o humor que resultava daquele dueto. Veruska, aliás, foi apelidada por ele de Doce Veruska, e assim ele a chamava no ar.

3. Em 2013, ante a notícia de que um filho da atriz Mia Farrow com o diretor Woody Allen poderia ter como pai o cantor e compositor Frank Sinatra, com quem ela fora casada, Boechat disse que qualquer um poderia ser filho de Sinatra. E ligou ao vivo para a própria mãe, a argentina Mercedes Carrascal. Aos 82, dona Mercedes estreou no rádio tendo de dizer ao filho que não tinha transado com o cantor e que não havia chance de ele ser seu pai. E ainda disse que Sinatra era mafioso. "Seu pai podia ter muitos defeitos, mas mafioso ele não era."

4. Na Copa do Mundo da África do Sul, em 2010, Boechat decidiu que seria repórter de rua, o que nunca tinha sido antes. Sempre foi da redação: a ponto de usar tanto o telefone, que adquiriu calos nas orelhas. Sua empreitada na rua durou dois dias. Ele logo para a redação no Brasil e aposentou a ideia.

5. Ainda em Joanesburgo, Boechat escapou de duas encrencas. Depois de ver a eliminação do Brasil, se jogou no mar, ainda de calças, na praia do hotel. Só viu a funcionária agitando os braços loucamente e saiu de lá sem entender nada. Ela estava alertando que aquela praia era cheia de tubarões, mas inglês não era o forte do jornalista. Em outra vez, foi salvo pelo ex-jogador Neto, que o puxou para a calçada quando ele quase foi atropelado por uma van. Distraído, Boechat não viu que o trânsito usava a mão inglesa e não olhou para o lado certo para atravessar a rua.

6. Boechat fumava três cigarros por dia, o primeiro com café e o segundo com chá, ainda pela manhã. Todos os dias, pedia para os colegas moedinhas para comprar o chá na máquina e, se não tinha cigarros, filava um Marlboro dos outros fumantes.

7. O jornalista lia todos os dias a Folha, o Estado e O Globo no pátio de estacionamento da Band, sentado em um cano. Esticava os jornais no chão e ia preparando a pauta, com o colega Barão, para o programa do dia. Um dia, viu que alguém fez-lhe um banquinho, com um tijolo e um pedaço de madeira. O banquinho foi usado por anos sem que ele soubesse que o beneitor era o cinegrafista Anísio Barros. O banquinho continuou lá depois da morte de Boechat, como uma das homenagens dos colegas.

8. Boechat e o comentarista esportivo Mauro Betting apostavam sobre quem era o mais esquecido. Boechat perdia tudo: óculos, papeis, voos, horários. Na África do Sul, Betting lhe telefona: "Chupa, ganhei" e contou que perdeu o cartão pré-pago de viagem na noite anterior. "Que horas? Ontem à noite? Chupa você. Eu perdi ontem de manhã."

9. O radialista era apaixonado pelo Twingo, da Renault. Teve dois. O mais antigo, prateado, era tão velho e bagunçado que chegou a ter um FORMIGUEIRO. O segundo, azul, vivia abarrotado de papel. Um dia, seus colegas enfiaram pencas de jornal velho no carro e esperaram a desforra de Boechat. Ela nunca veio porque o jornalista apenas percebeu que o carro estava "mais bagunçado".

10. Em junho de 2015, Boechat perdeu a paciência com umas declarações do pastor Silas Malafaia. "Ô, Malafaia, vai procurar uma rola, vai. Não me enche o saco" e descerrou uma lista de adjetivos nada elogiosos ao pastor. O palavrão foi dito no programa ao vivo no Rio e era uma resposta a uma crítica do religioso.

11. Boechat era padrinho do filho da atriz Maitê Proença com o empresário Paulo Marinho. Tinham uma ligação próxima a ponto de, um dia, o jornalista pegar emprestado o carro da atriz. Ele, que na época era secretário de Comunicação do governo do Rio, não tinha carta de habilitação e foi parado pela polícia na ponte Rio Niterói. Dirigia de chinelos, o que também é proibido. Ao tentar explicar que o carro era de sua comadre, ninguém menos que Maitê Proença, Boechat acabou sendo preso.

12. A chuva arrasou com a Jornada da Juventude com o Papa Francisco, no Rio, e a repórter entrevistava uma mulher que lamentava ter perdido dinheiro ao comprar 200 frangos. Curioso, Boechat interveio e perguntou o preço que ela pagou em cada frango: R$ 3. Ele respondeu: "Está barato esse frango". "Vocês só podem estar de sacanagem com a minha cara", retrucou ela, ofendidíssima. Depois do programa, arrependido, Boechat mandou comprar os 200 frangos dela.

13. Boechat era um sujeito solidário e usava o dinheiro das palestras para fazer caridade. Anotava tudo o que gastava com isso em um caderninho.

14. Um dia, o jornalista teve seu voo cancelado do Rio para São Paulo. E, neste voo, estava uma crítica de cinema, que perdeu, como ele, um dia de trabalho em São Paulo, mas não tinha como abonar a falta. Ela escreveu para o radialista, pedindo ajuda para confirmar a história para sua chefe. Depois da morte de Boechat, a mulher revelou nas redes sociais que o jornalista foi até seu trabalho para conversar com a chefe dela.

15. Boechat saiu do ar por cerca de duas semanas devido a uma crise de depressão. Estava no trabalho quando simplesmente travou e não entrou no ar. Quando voltou, não guardou segredo. Leu uma longa carta sobre o sofrimento e o enfrentamento da doença. Acabou sendo chamado mais para palestras sobre a depressão do que sobre política. Com os amigos, brincava: “Se soubesse que a depressão me daria essa grana, já teria tido há muito tempo."

16. O jornalista e Jair Bolsonaro trocavam telefonemas muito antes de Bolsonaro ser político. Era uma fonte no meio militar. Os dois se chamavam de "jacaré". Os autores do livro afirmam que eles não eram amigos. Quando Bolsonaro desistiu de ir ao debate do segundo turno, Boechat tentou convencê-lo. Em vão. Depois, nunca mais se falaram.

17. Boechat foi alvo de dezenas de processos e centenas de ameaças de processo, de políticos, principalmente. Mas também de policiais e associações de policiais, quando uma vez, ao reclamar de uma ação de bloqueio de rua da PM em São Paulo, afirmou: “Tem o idiota cabo, o idiota sargento, o idiota major, o idiota tenente.”

18. O único processo que Boechat perdeu na Justiça foi o movido pelo ex-governador do Paraná Roberto Requião. Ele o chamou de corrupto quando um repórter relatou que teve o microfone arrancada de sua mão pelo político. A condenação foi fazer serviço comunitário.

19. Ele carregava uma pasta de couro marrom para todo lado, presente de Veruska. Na pasta havia: agenda com folhas rasgadas, óculos de cores e modelos diferentes que comprava sem receita, em farmácia, um monte de remédios que ele tomava diariamente e um relógio quebrado que fora de sua avó. Depois de sua morte, a pasta foi dada de presente ao diretor de jornalismo da Band, Fernando Mitre.

20. Como sempre estava atrasado, Boechat pedia para a Band mandar um motoboy buscá-lo nos mais diversos lugares de São Paulo.

21. Os colegas do programa de rádio ficaram felizes quando o SBT deixou de transmitir o desenho do Tom & Jerry pelas manhãs. Isso porque, durante o programa de Boechat, o jornalista ficava hipnotizado pelo desenho e perdia várias deixas de fazer comentários no ar.

22. Boechat chamava o jornalista esportivo Milton Neves de o Pitonisa, por causa de suas previsões esportivas. Costumava apostar em outra previsão apenas para se contrapor ao colega, como quando afirmou que, a despeito das estimativas, o Fluminense não cairia para a série B do Brasileirão, em 2009. O apresentador Luiz Megale afirmou então que, se o Fluminense caísse, poderia ser chamado de Margarete. O Flu não caiu e Megale ficou sendo chamado de Margarete por duas semanas.

23. O jornalista era bom desenhista e tinha uma mania. Desenhava pintos de várias maneiras, até dobráveis, e dava os desenhos de presente para os colegas.

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