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"Que CIA? Minha mãe trabalhou como um cavalo para pagar a passagem dele à Venezuela!"

Irmão de Jonatan Diniz, brasileiro preso na Venezuela, diz que ele juntou dinheiro de doações para ajudar crianças carentes e que sua mãe pagou R$ 4,4 mil de passagem aérea.

A família de Jonatan Moisés Diniz, 31, o brasileiro preso há mais de uma semana na Venezuela sob acusação de conspiração internacional contra o governo de Nicolás Maduro, afirmou ao BuzzFeed News que a mãe de Jonatan pagou do próprio bolso a passagem aérea para que ele embarcasse de Los Angeles, onde mora, para Caracas, onde afirmou que distribuiria presentes para crianças carentes.

"A gente pensou que jamais uma atitude altruísta dessas fosse trazer algum problema para ele. Minha mãe deu de presente a passagem. Ele pediu ajuda de tudo que é jeito. Não existe ONG, não existe nada. E ainda disseram que ele podia estar envolvido com CIA? Pelo amor de Deus", contou por telefone o comerciante de Balneário Camboriú (SC) Juliano Diniz, 34, irmão de Jonatan.

A passagem Los Angeles/Caracas/Los Angeles custou, segundo ele, R$ 4,4 mil.

"Que CIA? Minha mãe trabalhou que nem um cavalo dia e noite para financiar uma passagem", disse.

A associação com CIA e conspiração internacional foi feita pelo dirigente chavista Diosdado Cabello, segundo homem na hierarquia do governo Maduro.

Foi ele quem anunciou a prisão de Jonatan e outras três pessoas no dia 27 de dezembro, quando o brasileiro era considerado desaparecido por seus amigos em Caracas. No primeiro momento, contou Juliano, esses amigos acreditaram ter havido um sequestro.

Jonatan é formado em design gráfico e trabalhava no Brasil como inspetor de soldagem na área de petróleo, mas há cerca de dois anos vive nos Estados Unidos, onde atua como prestador de serviços. "Ele aproveitou que estava nos Estados Unidos para juntar uns fundos e realizar esse sonho que ele tinha, que era ir para a Venezuela e fazer um Natal para as crianças", disse Juliano.

Segundo o comerciante, quando Jonatan chegou a Caracas, os brinquedos foram retidos na alfândega. "Ele não conseguiu passar com esses brinquedos. Ele informou a família que estava bem chateado, mas disse que de qualquer forma ia entrar e comprar os brinquedos e alimentos."

Em suas páginas nas redes sociais, Jonatan afirma participar de uma ONG chamada Time to Change the Earth, que no Facebook tem menos que 30 seguidores.

"Na verdade não é uma ONG, não foi oficializada, sabe? É um grupo de amigos que se juntou, e cada um pediu a quem podia. Ele pedia basicamente para familiares aqui, para amigos. Por várias vezes eles vão distribuir as coisas lá [em Caracas] de carona de caminhão. Ele queria amenizar um pouco o tamanho da porcaria que ele havia visto", disse Juliano.

O irmão prosseguiu explicando como Jonatan se envolveu com a causa venezuelana: "Às vezes ele era meio ríspido com a família, de falar 'a gente tem de parar de pensar no nosso umbigo e parar de pensar em comprar e comprar; tem gente morrendo aqui'".

Há dois anos, ao começar a namorar uma venezuelana, Jonatan esteve em Caracas pela primeira vez, contou seu irmão. O romance acabou, mas Jonatan manteve o interesse na Venezuela, para onde ainda fez algumas viagens. Em suas redes sociais, as primeiras postagens sobre a crise venezuelana são de 2017, nas quais chamam Maduro de "fdp" e elogiam a resistência dos opositores.

"Ele sabia qual era a causa daquilo [da pobreza]. A causa era aquele governo ridículo. E ele publicava isso também. Muita coisa contra. E lá não tem espaço para isso. Ele foi ingênuo. Acabou colocando a indignação que ele tinha. Trabalhou dois anos nos Estados Unidos tentando levantar uma grana para tentar fazer alguma coisa [na Venezuela]", disse Juliano.

As publicações mais recentes, no entanto, são sobre o Natal e a distribuição de presentes de um projeto chamado "De la mano".

"Pelo menos a gente sabe que ele está vivo, mas não tem informação de onde está preso nem nada", disse Juliano. O comerciante afirmou que está em contato com o Itamaraty, que informou ter tomado medidas legais para auxiliar o brasileiro, mas que não há mais informações.

O Itamaraty enviou a seguinte nota ao BuzzFeed News:

"O Consulado do Brasil em Caracas acompanha o caso de Jonatan Diniz e está em contato com as autoridades venezuelanas e com a família do nacional, para prestar a assistência consular cabível. Em função da Lei de Acesso à Informação e em respeito à privacidade do brasileiro, esta assessoria não está autorizada a prestar informações pessoais sobre o caso."

O Brasil e a Venezuela vivem um momento de tensão em sua relação diplomática, com a expulsão de seus embaixadores por ambos os países ocorrida no fim do ano.

No início da noite, a família de Jonatan descobriu, por meio de seus amigos em Caracas, que ele está preso em Helicoide, um centro de detenção do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin).






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