Morador de rua morreu de frio perto de abrigo desativado pela prefeitura

Cidade registrou quatro mortes com a queda da temperatura. No final de semana, termômetro chegou a registrar zero grau.

João Carlos Rodrigues morreu numa calçada do bairro do Belém, região central de São Paulo, na quinta-feira. Ele foi um dos quatro moradores de rua encontrados mortos em calçadas nos últimos dias.

Rovena Rosa/Agência Brasil

Pessoas dormem no centro de São Paulo, depois de madrugada fria.

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Além de João Carlos, enterrado nesta segunda (13), outras duas pessoas foram encontradas mortas em Santana. Adilson Justino também foi encontrado morto na avenida Paulista.

Os termômetros chegaram a registrar zero grau Celsus de temperatura, de acordo com o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), da prefeitura.

João Carlos morreu perto de um albergue que, desativado, virou uma ocupação de moradores de rua. Ali, conta o padre Julio Lancellotti, 180 moradores eram atendidos por noite.


Romena Rosa/Agência Brasil

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"Vinte mil pessoas vivem nas ruas de São Paulo. Faltam abrigos e, mais importante, falta o governo dar respostas diversificadas para essa população", queixa-se Lancellotti, que coordena a Pastoral do Povo da Rua da Igreja Católica.

A resposta diversificada, nas palavras do padre, é a oferta adaptada à realidade dos diversos grupos de moradores de rua. "Em alguns casos, é uma moradia simples, são respostas simples e não uma resposta padronizada, já que as demandas dos moradores são diversificadas".

Segundo o padre, o Instituto Médico Legal informou que essas pessoas morreram de insuficiência cardiorrespiratória aguda. "Não existe no IML a 'morte por causa do frio'. A prefeitura está dizendo que não é. Então, eles morreram de quê? De tédio por uma administração tão medíocre?", disse ele ao BuzzFeed Brasil.


Paulo Pinto/Fotos Públicas

Fenômeno El Niño "antecipou" o inverno e fez cair a temperatura em SP.

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Questionada sobre o fechamento específico do albergue do Belém, a prefeitura afirmou, genericamente, que este ano há 1.437 vagas além das 10 mil oferecidas regularmente.

"É importante ressaltar que nem sempre é possível encaminhar a pessoa em situação de rua para o Centro de Acolhida que ela quer. Ele é encaminhado para o serviço que tenha vagas disponíveis", diz a nota enviada pela assessoria de imprensa da prefeitura.

A prefeitura afirma que o sistema de abrigos tem 10 mil vagas fixas e que, no inverno, são abertas mais 1,3 mil vagas emergenciais. A secretaria não descarta a abertura de alojamentos de emergência em caso de agravamento da condições dos moradores em situação de rua.

A prefeitura de São Paulo informou que fez mais de 240 mil acolhimentos de moradores de rua desde o dia 16 de maio. No ano passado, foram 145,6 mil. Neste final de semana, o mais frio do ano, segundo a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social foram atendidas 11 mil pessoas. O censo divulgado no ano passado pela prefeitura demonstrou que a população em situação de rua era de 15.905 pessoas.


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