Ex-presidente da Construtora Norberto Odebrecht, Benedicto Barbosa da Silva Júnior prestou um novo depoimento ao Ministério Público de São Paulo, no qual forneceu novos detalhes do propinoduto que a empreiteira montou para abastecer o ministro Gilberto Kassab (Comunicações).
No depoimento, BJ, como o engenheiro era chamado no mundo das obras públicas, relatou que se reuniu com Kassab em ao menos 20 ocasiões entre 2006 e 2012.
O novo depoimento do ex-executivo aos promotores Silvio Marques e Valter Santin, ao qual o BuzzFeed News teve acesso, ocorreu em 14 de dezembro, na Promotoria do Patrimônio Público de São Paulo.
Num desses encontros, ainda em 2012, pouco antes de Kassab entregar a Prefeitura de São Paulo para o sucessor Fernando Haddad (PT), o então prefeito pediu ao executivo da Odebrecht uma contribuição para estruturar a legenda que criara no ano anterior, o PSD (Partido Social Democrata).
Kassab disse a BJ que precisava "cooptar 50 deputados federais para que fosse respeitado junto ao governo federal". O acerto definitivo foi feito ao longo do primeiro semestre de 2013, mas o dinheiro começou a pingar a partir de novembro daquele ano, segundo o delator.
Pelo relato de BJ, foram pagas dez parcelas mensais que totalizaram R$ 17,9 milhões. Os pagamentos foram registrados no Droysus, o sistema secreto de contabilidade de propina que a Odebrecht mantinha em computadores de Salvador, onde Kassab era identificado como "Chefe Turco" e "Projeto."
Quando o PSD botou o bloco na rua, 42 deputados aderiram à legenda recém-criada por Kassab, formando a quarta maior bancada da Câmara dos Deputados às custas da desidratação dos partidos de oposição à então presidente Dilma Rousseff.
A musculatura política que Kassab ganhara nacionalmente foi recompensada logo depois da reeleição de Dilma. O presidente do PSD foi aquinhoado com o cobiçado Ministério das Cidades. Segundo BJ, os pagamentos para montar o PSD não estão ligados a nenhuma obra em particular.
Metade dos encontros que BJ descreveu ocorreu no gabinete quando Kassab ainda era prefeito de São Paulo. A outra metade ocorreu no apartamento do político, na avenida Faria Lima, no Jardim Paulistano, zona nobre da capital.
A proximidade era tanta que BJ não se identificava quando ia à casa do prefeito — os portões eram abertos pela identificação da placa do carro e ele seguia direto para um elevador que levava ao nono andar do prédio, onde Kassab ainda mora.
A primeira conversa no apartamento de Kassab aconteceu logo no início de 2008, quando o então prefeito pediu R$ 4 milhões para a sua campanha de reeleição. BJ pechinchou e fecharam em R$ 3,4 milhões. Esse dinheiro nunca foi declarado à Justiça Eleitoral e saiu do caixa dois da empreiteira.
Os pagamentos ocorreram entre janeiro e junho de 2008. Ao lado do registro de transferência na contabilidade do propinoduto da Odebrecht Kassab foi identificado pelo codinome "Kibe".
OUTRO LADO
A defesa de Kassab, feita pelos advogados Pierpaolo Cruz Bottini e Igor Tamasauskas, negou as acusações e contestou o depoimento.
"Trata-se de tema recorrente, agora com uma nova versão, a demonstrar a inconsistência dessas acusações. As declarações do delator são absurdas e sem lastro em provas. O ministro continua à disposição da Justiça para qualquer esclarecimento", disse a defesa.
(Colaborou FILIPE COUTINHO, de Brasília)