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Filho de anistiado político, João Doria diz que Damares deveria deixar o passado para trás

O pai do governador de SP foi deputado cassado e exilado, o que levou família a receber indenização de R$ 96 mil em 2002. Damares quer rever o trabalho da Comissão da Anistia.

Filho de anistiado político, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), criticou a decisão da ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, de fazer uma auditoria nas indenizações concedidas pela Comissão Nacional de Anistia nos governos anteriores.

Em dezembro de 2002, a família Doria recebeu uma indenização de 460 salários mínimos (R$ 96 mil em valores da época).

A ministra disse na quarta-feira (27) que vai rever os processos de anistia e destacou os nomes dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, do PT, como alvos de investigação.

“Há coisas mais importantes neste momento a serem feitas do que a busca por culpados no passado. A meu ver, o governo deveria focar integralmente o seu tempo em políticas sociais e de desenvolvimento daqui para a frente. Não desrespeito a ministra, mas entendo que olhar para a frente é mais produtivo do que olhar para trás”, disse o governador paulista ao BuzzFeed News nesta quinta-feira.

O BuzzFeed News localizou o pedido de indenização em nome de João Agripino da Costa Doria, pai do governador, na lista que conta com milhares de anistiados pela comissão, que foi criada em 2001, no final do governo do tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

Deputado cassado nove dias depois do golpe militar de 1964, Doria pai exilou-se em Paris, com a mulher e os dois filhos, João Doria, 6, e Raul, 1. Publicitário de sucesso e parlamentar, ele teve de deixar uma vida de luxo em São Paulo para escapar da perseguição do regime militar, que cassara seus direitos políticos por dez anos.

Doria conta que a mãe, Maria Sylvia, teve um lampejo e, na corrida para deixar sua casa, tirou as obras de artes das molduras e enrolou as telas. Era o dinheiro que ajudaria a família na França. Ainda assim, ela e os filhos retornaram ao Brasil dois anos depois porque acreditava que teriam uma vida menos sofrida em São Paulo.

O pai ficou na Europa mais oito anos, retornando apenas em 1974, quando venceu a suspensão de seus direitos políticos. Meses depois, Maria Sylvia morreu.

O pedido de indenização para Doria pai foi feito logo que a comissão foi criada, em 2001, depois da morte dele, que ocorreu em 2000. O governador afirmou que não se lembra como foi a tramitação do processo, mas disse que ele e seu irmão, Raul Doria, decidiram que a indenização deveria beneficiar a madrasta deles, viúva de Doria pai.

O BuzzFeed News localizou a portaria que concedeu a indenização para Maria Thereza Doria, madrasta do governador e hoje já falecida. É a de número 1.896 e foi publicada em 11 de dezembro de 2002.

Segundo balanço divulgado ontem pelo Ministério dos Direitos Humanos, a Comissão Nacional da Anistia recebeu, desde 2001, 67 mil pedidos de reparação. Destes, 24 mil foram negados e 39 mil foram concedidos. Outros 11 mi pedidos estão pendentes. Até hoje, a União gastou R$ 10 bilhões com as indenizações, ainda segundo Damares.

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