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Delator da Odebrecht detalha pedido de propina por chefe de estatal do governo tucano em SP

Caso envolve Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, que chefiava a Dersa (estatal de obras) durante o governo José Serra (PSDB). Suspeito diz que delator mente.

Em depoimento ao Ministério Público de São Paulo, o ex-executivo da Odebrecht Carlos Armando Guedes Paschoal, o CAP, reafirmou que o ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, cobrava propina de 5% e um adiantamento do suborno apelidado de "abadá".

Segundo o delator, a negociação da propina foi feita dentro da própria sede da Dersa (a estatal Desenvolvimento Rodoviário S/A). O caso ocorreu durante o mandato de José Serra (PSDB) no governo de São Paulo.

O BuzzFeed News teve acesso com exclusividade ao depoimento de CAP, prestado no dia 5 do mês passado. CAP contou que entre agosto e setembro de 2008 foi chamado na sede da Dersa por Paulo Preto para tratar "de convênio firmado entre a companhia estadual e a prefeitura municipal de São Paulo relativo ao Sistema Viário Estratégico Metropolitano de São Paulo".

De acordo com o ex-executivo da Odebrecht, o sistema compreendia as seguintes obras municipais: avenida Jacu-Pêssego, Nova Marginal Tietê, túnel Roberto Marinho, túnel ligando avenida Cruzeiro do Sul com a Caetano Álvares, viaduto na avenida Aricanduva sobre a Ragueb Chohfi, túnel na avenida Sena Madureira sob a Domingos de Morais ligando a Ricardo Jafet, e o prolongamento da avenida Chucri Zaidan.

O conjunto de obras foi calculado em R$ 4 bilhões. Na época, diz o depoimento, "decidiu-se que tais obras seriam licitadas e fiscalizadas pela Dersa que, na opinião do declarante, estava melhor aparelhada, considerando a complexidade do projeto".

Na reunião na sede da Dersa, Paulo Preto avisou a CAP e ao outro participante, o engenheiro Roberto Cumplido, que também trabalhava na Odebrecht e prestou depoimento reiterando as denúncias do ex-diretor da construtora, que a Dersa administraria o convênio com a prefeitura para o projeto.

"Ele, na condição de diretor da Dersa, já estava 'organizando o mercado', ou seja, definindo quem deveria ganhar os lotes das diversas obras que seriam licitadas", diz o termo do depoimento.

Paulo Preto disse então, segundo CAP, que "as construtoras deveriam pagar o percentual de 5% de comissão de cada medição das diversas obras".

"Além disso, ele solicitou um adiantamento de R$ 2 milhões, denominado 'abadá', para a campanha de reeleição do então prefeito, Gilberto Kassab."

CAP contou aos promotores públicos que se negou a pagar o abadá porque a Odebrecht já tinha dado dinheiro por fora para a campanha de Kassab. CAP disse que Paulo Preto ficou contrariado e só acabou concordando duas ou três reuniões depois.

A obra destinada para a Odebrecht foi o túnel Roberto Marinho, que ligaria a avenida Roberto Marinho (antiga Águas Espraiadas) à rodovia dos Imigrantes.

Dois meses depois da negativa do abadá, a obra do túnel saiu da Dersa porque passou a integrar a operação urbana Águas Espraiadas, com recursos vinculados apenas à região, que não poderiam ser licitados pela empresa estadual.

No entanto, apesar de ganhar a licitação e montado o canteiro de obras, a Odebrecht nunca construiu o túnel porque o projeto não foi para a frente.

Em seu depoimento, o engenheiro Roberto Cumplido afirmou que a cobrança de abadá, a propina antecipada, "não era uma prática comum, na medida em que normalmente os pagamentos aos agentes públicos eram realizados após a assinatura dos contratos".

Ele afirmou que o abadá acabou abandonado por gerar "insegurança" às construtoras.

Os depoimentos dos ex-executivos da Odebrecht foram prestados aos promotores Silvio Marques, Christiano Santos, José Carlos Blat e Valter Santin.

Advogado de ex-diretor da Dersa nega acusação

O advogado de Paulo Preto, Daniel Bialski, afirma que seu cliente "não participou de negociações e não intermediou qualquer pagamento ilegal".

"O Paulo já foi até ouvido pela Polícia Federal sobre esse assunto. Ele provou, com documentos, que o Carlos Armando mentiu", disse Bialski.

O BuzzFeed News não conseguiu contato com o senador José Serra. Ele já disse, em declarações anteriores, não ter cometido nenhuma ilegalidade.

(Colaborou ALEXANDRE ARAGÃO, de São Paulo)


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