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Dando risada, agressores jogaram urina e ovos em Paulo na fila da boate LGBTQ

Ele torce para que o STF torne a homofobia crime.

"Estava na porta de uma boate LGBT. Devia ter umas 20 pessoas na fila. Um carro parou, quase invadindo o passeio. E simplesmente jogaram na gente ovos e sacos com um líquido com um cheiro estranho, que parecia urina. O carro estava cheio de rapazes, na faixa de seus 19, 20 anos. Eles gritavam 'suas bichonas', xingavam e davam risada".

Já se passaram nove anos, mas a memória do que considera a maior humilhação de sua vida permanece forte para o profissional de tecnologia da informação Paulo Monteiro, 40. Hoje, ele torce pela criminalização da homofobia, em votação pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

"O que vivi naquela noite de 2010 foi um caso de homofobia explícita e agora o STF vai permitir punir isso", disse Paulo, em entrevista por telefone ao BuzzFeed News. O episódio aconteceu num final de semana, na porta de uma boate em Belo Horizonte, no bairro da Savassi. Paulo estava com o namorado e outro casal de amigos.

"Ao mesmo tempo em que eles ofendiam, eles riam muito, eles se divertiam com aquela situação, como se estivessem no direito de fazer aquilo pelo simples fato de sermos homossexuais. Para nós, foi uma experiência muito traumática. A gente se sentiu muito humilhado."

Paulo não quis ir embora para casa. Entrou na boate e se limpou. Tentou se divertir para esquecer. Mas nunca esqueceu. Escondeu dos pais o acontecido, com medo de que eles ficassem muito preocupados.

"A gente poupa os pais porque muitos deles, mesmo os que aceitam nossa homossexualidade, ainda têm aquela preocupação de que o filho vai sofrer crimes, vai sofrer muito, vai ficar sozinho na vida".

Para ele, os anos passaram mas o preconceito permanece. Hoje vivendo no interior de Minas, ele não consegue sequer sair de mãos dadas com seu namorado.

Morando em uma cidade de 80 mil habitantes há quatro anos, Paulo conta que só consegue trabalhos como freelancer. No final do ano passado, ao fazer uma entrevista de emprego, disse ter certeza de que perdeu a vaga porque perceberam que ele era gay.

"Eu estava indo bem, mas, numa das etapas da entrevista, eu dei uma leve desmunhecadinha, uma gargalhada. Na mesma hora o tom da entrevista mudou e eu não fui contratado. O entrevistador não disse nada, mas [o preconceito] ficou nítido na fisionomia da pessoa", disse ele.

Paulo diz que essa é a "homofobia velada", que a lei não terá como coibir porque é difícil de comprovar. "As portas se fecham", disse ele sobre trabalho e relações sociais.

"Sabe aquele medo de dar as mãos na rua, de sentar ao lado do outro no bar? Quantas vezes a gente percebe que não é convidado para certos eventos? Eu não ando na rua de mãos dadas. Não me exponho a esse ponto, não posso muito dar a minha cara a tapa. É como o que ouvi no meu tratamento de psicologia: 'seja você mesmo, mas tenha gordura para queimar porque o Brasil ainda é preconceituoso'".

A história de Paulo está entre centenas de mensagens recebidas pela ONG All Out, de apoio LGBTQ, para a construção do site https://www.ecrimesim.alloutbrasil.org/. Segundo a entidade, foram recebidos mais de 600 relatos em 24 horas.

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