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Em Nova York, 1 em cada 4 hospitalizados por coronavírus tem entre 18 e 49 anos

No Brasil, até o momento, as pessoas abaixo de 60 anos que morreram tinham condições de saúde que as colocavam no grupo de risco, segundo o Ministério da Saúde.

Apesar dos apelos das autoridades de saúde para as pessoas ficarem em casa e evitarem a propagação do coronavírus, os jovens têm lotado praias e feito caminhadas, têm feito piqueniques em parques e brunches em restaurantes, além de voado para lugares que ficaram mais baratos.

Essa sensação de invencibilidade tem estado, pelo menos parcialmente, enraizada na crença generalizada, baseada em dados iniciais da China, de que a Covid-19 faz com que idosos sofram mais e enquanto os jovens têm apenas os sintomas mais leves.

Mas, à medida que a pandemia aumenta, com 500 mil casos confirmados em todo o mundo, fica cada vez mais claro que o coronavírus está afetando gravemente um número substancial de pessoas com menos de 50 anos.

Na cidade de Nova York (EUA), as autoridades de saúde disseram na sexta-feira que, das 1.160 pessoas hospitalizadas com sintomas de Covid, uma em cada quatro tinha entre 18 e 49 anos. Isso coincide com o que parece estar em todo o país: nos EUA, cerca de 38% dos pacientes com coronavírus doentes o bastante para serem hospitalizados tinham entre 20 e 54 anos, informou o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) na semana passada.

Em outros países os jovens também têm sido severamente afetados. Na Espanha, cerca de 18% dos pacientes hospitalizados têm menos de 50 anos, de acordo com os dados mais recentes. E na Coreia do Sul, mais da metade dos casos confirmados tem menos de 50 anos, com as idades de 20 a 29 anos sendo a maior faixa etária (o governo não detalha quantos desses casos exigiram hospitalização). Dados esporádicos do Reino Unido, onde os dados demográficos sobre a idade dos pacientes ainda não foram divulgados pelo governo, também sugerem que os jovens têm precisado de cuidados intensivos nos hospitais.

No Brasil, até o momento, as pessoas abaixo de 60 anos que morreram tinham condições de saúde que as colocavam no grupo de risco, de acordo com o Ministério da Saúde.

Ainda é verdade que, quanto mais velho você é, maior a probabilidade de você ser hospitalizado ou morrer da doença. Crianças com menos de 10 anos são a menor parcela de pacientes com coronavírus.

Jovens que não sofrem de sintomas graves ainda podem disseminá-lo para outras pessoas. Ao mesmo tempo, seu número crescente de casos indica que eles estão longe de ser "invencíveis", como disse o diretor da Organização Mundial da Saúde em um discurso dirigido a eles na semana passada. Mesmo que eles não morram no hospital, eles podem prejudicar outras pessoas, ocupando leitos e respiradores que estão em falta.

"Mesmo que as mortes estejam concentradas em idades mais avançadas, ainda parece que casos graves, hospitalização e necessidade de respiradores não são totalmente raros, mesmo em idades mais jovens", disse Jennifer Dowd, professora associada de demografia e saúde da população da Universidade de Oxford, ao BuzzFeed News. "Eu diria que ninguém deveria rir disso, tipo, 'eu tenho um bom sistema imunológico e ficarei bem'. Porque, à medida que recebemos cada vez mais casos, até um pequeno risco de complicações aumenta para muitas pessoas."

E algumas pessoas mais jovens estão morrendo. Até o momento, nesta semana, as muitas vítimas do coronavírus incluíam uma diretora de uma escola do Brooklyn de 36 anos e uma pessoa de 18 anos com uma condição de saúde subjacente no Reino Unido.

Em uma carta aberta na segunda-feira, mais de 75 profissionais de saúde de Miami pediram à comunidade que levasse o vírus a sério. "Este não é apenas um problema para idosos e doentes crônicos", eles escreveram.

A disseminação do coronavírus pela China, onde se originou, forneceu ao público em geral seu entendimento inicial do vírus. O relatório de fevereiro da OMS sobre quase 56 mil casos confirmados na China descobriu que "a maioria das pessoas" — cerca de 80% — tem uma "doença leve a moderada", e se recupera. Aqueles com maior risco de sintomas graves e morte incluem pessoas acima dos 60 anos de idade e pessoas com doenças subjacentes, como hipertensão, diabetes, doenças cardíacas e câncer, de acordo com o relatório.

"Uma proporção muito pequena daqueles com menos de 19 anos tem desenvolvido doença grave (2,5%) ou crítica (0,2%)", afirmou o relatório da OMS sobre o surto da China.

Algumas pessoas interpretaram essas descobertas como significando que estavam seguras. Mas esse entendimento está mudando. "Eu não tenho certeza de que podemos inferir dos dados chineses publicados para como será a experiência nos EUA", disse Andrew Noymer, professor associado de saúde pública da Universidade da Califórnia em Irvine.

Devido às diferenças políticas e culturais, é improvável que o isolamento total de dezenas de milhões de pessoas na China seja replicado nos países ocidentais. A China também não tem sido sempre transparente em reportar suas estatísticas de saúde, disse Noymer. Altos índices de fumantes também podem ter ajudado a agravar as complicações das pessoas com a doença. Por essas razões, o que aconteceu na China pode ter sido uma anomalia.

Em uma pré-publicação que ainda não passou pela revisão por pares, pesquisadores estimaram que, no Reino Unido, cerca de 9% das pessoas com menos de 50 anos precisariam de hospitalização devido ao coronavírus, com base nos dados do surto da China.

No entanto, outros países estão reportando porcentagens mais altas do que essa e, no momento, é difícil saber o porquê. O surto de cada país é influenciado por fatores específicos do local, e cada governo reporta os casos de maneira um pouco diferente.

Grande parte da epidemia na Coreia do Sul, por exemplo, foi impulsionada exclusivamente pela transmissão dentro uma seita religiosa. O país também implementou testes generalizados de imediato.

A Itália tem a segunda população mais velha do mundo, o que pode explicar por que mais de três quartos das pessoas que morreram tinham 70 anos ou mais — e por que o país tem a maior contagem de mortes por coronavírus. O vírus também pode ter sido transmitido aos pais mais velhos por seus filhos adultos, que normalmente moram com eles, como escreveu recentemente Dowd, da Universidade de Oxford, em uma pré-publicação, analisando como os fatores etários podem ter causado o surto de coronavírus lá.

Alguns especialistas e agências de saúde têm especulado que certos fatores do estilo de vida dos EUA podem estar influenciando nesses casos de pacientes mais jovens. Fumantes de cigarro e vaporizador podem ser especialmente suscetíveis, sugeriu o Instituto Nacional de Abuso de Drogas dos EUA em seu site este mês.

Mas é muito cedo para saber até que ponto esses fatores estão contribuindo para o surto ou se são exclusivos dos EUA. Os adolescentes americanos são mais propensos do que seus colegas europeus a fumarem vaporizador, mas são menos propensos a fumarem cigarros convencionais.

"Os jovens que estão aparecendo e sendo testados são aqueles em que os casos são bastante graves", disse Dowd. "É provável que isso não seja realmente representativo da verdadeira prevalência de casos graves entre pessoas nessas faixas etárias. São apenas aqueles doentes o bastante para aparecerem nos hospitais, e os únicos que estão sendo registrados agora nos EUA."

Há outra explicação sombria para o motivo pelo qual os idosos estão morrendo em números tão altos em comparação com o resto da população. Pode não ser porque os pacientes mais velhos são os únicos com casos graves. Os médicos, confrontados com uma escassez precária de equipamentos, podem ser forçados a fazer a escolha dolorosa de manter os pacientes mais jovens vivos.


Este post foi traduzido do inglês.

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