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EXCLUSIVO: Aliados de Toffoli acham que procuradores da Lava Jato tentaram armar para cima dele

Para aliados do presidente do Supremo, Marcelo Odebrecht foi pressionado para citar Toffoli como o "amigo do amigo do meu pai" — informação que foi parar na reportagem censurada pelo STF.

Ministros próximos ao presidente do STF, Dias Toffoli, creditam o desgaste a que ele tem sido submetido nos últimos dias a uma ação de procuradores da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba. O objetivo seria criar um constrangimento ao STF para evitar que Corte volte atrás na decisão de autorizar prisões após condenações em segunda instância.

Na sexta-feira (12), reportagem da revista Crusoé apontava que, em documento juntado aos processos da Lava Jato em Curitiba, Marcelo Odebrecht dizia que Toffoli era a pessoa a quem ele se referia como "amigo do amigo do meu pai".

No mesmo dia, o ministro do STF Alexandre de Moraes determinou, a pedido de Toffoli, que os sites da Crusoé e d'O Antagonista (que pertencem ao mesmo grupo) retirassem a reportagem do ar. O caso foi incluído em inquérito que apura a divulgação de fake news e de mensagens que atentem contra a honra de integrantes da Corte.

Segundo ministros ouvidos pelo BuzzFeed News, advogados de Marcelo Odebrecht fizeram chegar ao STF a alegação de que houve pressão de procuradores para que ele apresentasse o nome de Toffoli em sua delação – mesmo sem envolvê-lo em crime.

Os ministros acreditam que a citação a Toffoli seria usada, mais para a frente, para pressionar o STF a manter a autorização para prisões após a condenação em segunda instância. Mas o material acabou sendo obtido pela revista Crusoé, que publicou reportagem sobre o “amigo do amigo de meu pai” na semana passada.

Em nota ao BuzzFeed News, procuradores da Lava Jato em Curitiba negaram qualquer pressão sobre Marcelo Odebrecht:

"Os procuradores da República que compõem a força-tarefa Lava Jato em Curitiba negam peremptoriamente ter tratado desse assunto com o sr. Marcelo Odebrecht ou com seus advogados, sendo que o conhecimento sobre a manifestação do colaborador ocorreu posteriormente à publicação da matéria."

Nesta terça (16), a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu a Alexandre de Moraes o arquivamento do inquérito em que o caso foi incluído, e que havia sido aberto em março pelo próprio STF.

Ministros ouvidos pelo BuzzFeed News acreditam que o pedido de Dodge tem como pano de fundo o temor de que a suposta pressão para Odebrecht citar o nome de Toffoli e a posterior entrega do material à Crusoé poderia levar à responsabilização – ou, nas palavras de um ministro, a até mesmo à prisão – de procuradores da Lava Jato em Curitiba, no âmbito do inquérito que investiga fake news e ofensas ao STF.

Essa impressão dos ministros é resultado da supresa deles com o documento protocolado por Dodge nesta terça.

Tanto entre procuradores quanto entre membros do STF é corrente a versão de que Dodge manteve comunicações informais com os ministros nos últimos dias, em especial antes de divulgar nota negando ter recebido da equipe da Lava Jato de Curitiba documento sobre o codinome de Toffoli na Odebrecht.

No Ministério Público Federal, muitos se perguntavam como era possível Dodge ter divulgado essa nota na sexta-feira — que caiu como uma luva para justificar a decisão de Alexandre de Moraes de censurar a Crusoé — e, hoje, pedir o arquivamento do inquérito.

Toda essa situação criou um novo front de batalha no Judiciário brasileiro.

No fim da tarde, Alexandre de Moraes rejeitou o pedido de Dodge:

O ministro Alexandre de Moraes rejeitou o pedido da PGR, Raquel Dodge, e manteve aberto o inquérito do STF que foi instaurado sob o pretexto de investigar detratores do Supremo e notícias falsas. O presidente da corte, Dias Toffoli, ainda prorrogou as investigações por 90 dias.

Até o pedido de hoje para arquivar o inquérito, Dodge mantinha boa relação com o grupo da Supremo do qual faz parte Dias Toffoli.

A relação, agora, chegou ao fim. Ministros alegam que Dodge apresentou comportamento muito errático e que ela não terá a chancela da Corte para tentar um novo mandato no Ministério Público Federal.

A ação de Dodge, por outro lado, melhora um pouco sua imagem junto aos procuradores, que vinha desgastada desde que ela não encampou reivindicações de melhorias salariais e tentou alterar o mecanismo de trabalho do MPF com a criação do que seus adversários apelidaram de procuradores biônicos.

Essa melhora, no entanto, não deve ser capaz de reverter o quadro de desgaste de Dodge junto à categoria.

Procuradores ouvidos pelo BuzzFeed News dizem que, se Dodge era contra as investigações, deveria ter feito sua jogada pelo arquivamento num momento bastante anterior.

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