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Racha no partido de Bolsonaro leva à expulsão de secretária-geral do PSL em São Paulo

Saída de Letícia Catel, em disputa com o presidente do PSL, Gustavo Bebianno, deve desmontar diretório paulista do partido a duas semanas das eleições.

O PSL expulsou do cargo de secretária-geral do partido em São Paulo a empresária Letícia Catel, integrante do núcleo duro da campanha de Jair Bolsonaro à Presidência.

Letícia é próxima da família Bolsonaro e nos últimos anos possuía livre acesso ao presidenciável.

Letícia também foi destituída do diretório nacional e da Executiva Nacional da sigla, o que deve levar outros membros da ala paulista do partido a abandonarem seus postos.

Para além do trabalho político e de organização interna da sigla, Letícia mantém presença constante em redes sociais, onde defende de maneira ferrenha as bandeiras do bolsonarismo e, por vezes, posta fotos em que empunha armas – e falando que armas valem mais que feministas "mostrando os peitos na rua".

Foi ela quem protagonizou uma discussão com a jornalista Christina Lemos, da TV Record, após fotografar o celular da repórter acusando-a de perseguição ao candidato Bolsonaro.

Caros, eis o vídeo sem edição, gravado após entrevista com Bolsonaro, por Letícia Catel, Sec Geral do PSL/SP e colaboradora voluntária, após tentar fotografar mensagens de meu celular. A conta q trazia a versão editada foi apagada, inviabilizando a leitura do meu tweet inicial. https://t.co/n8qZlkMsUW

Ela também esteve recentemente no programa "Pânico", da Jovem Pan. Nele, ao comentar a tentativa de assassinato de Bolsonaro, disse que hoje é mais seguro vestir uma camisa do comunista Che Guevara do que apoiar o candidato do PSL.

Sua expulsão dos cargos no PSL, no entanto, está muito mais ligada às desavenças internas com o presidente em exercício do partido, Gustavo Bebianno, do que com suas postagens em redes sociais ou aparições na mídia.

Por um lado, Bebianno comanda com mão de ferro o partido. Fez a negociação das candidaturas e ameaça adversários, como revelou o BuzzFeed News. Também foi acusado pelo príncipe Luiz Philip de Orleans e Bragança, filiado ao partido, de agir "como um agiota", de acordo com a revista Crusoé.

Por outro lado, Letícia Catel, que vem de uma família com negócios no ramo da metalurgia, goza de boa situação financeira e, sem precisar de cargos político-partidários para sobreviver, abraçou como voluntária as bandeiras da direita e delas fez sua luta política nos últimos anos.

Essa situação lhe dá liberdade e não exige que ela bata continência a caciques partidários que controlam os recursos do PSL.

Isso, no entanto, acabou transformando-a numa espécie de para-raio dos insatisfeitos com a condução do partido por Bebianno e seu braço direito, o vice-presidente em exercício do PSL, Gulliem Lemos.

Sempre que insatisfações surgiam nos Estados, segundo pessoas próximas a Letícia, muitos recorriam a ela para reclamar das negociações.

Nessa toada, as desavenças com Bebianno não foram poucas.

Aliados de Letícia no partido, falando na condição de anonimato para evitar o clima de perseguição que está instaurado na legenda, citaram, por exemplo, um episódio em que a colega tentou criar um grupo em aplicativos de mensagens para unificar os diversos diretórios regionais do PSL.

A ideia era manter uma comunicação centralizada em que cada Estado pudesse saber o que acontecia no outro, quem era quem em cada localidade e ter informações sobre alianças e sobre como recursos eram gastos, por exemplo.

O projeto, no entanto, foi derrubado por Bebianno nos primeiros dias em que começou a funcionar. Como presidente em exercício do partido, ele quis manter discretas cada uma de suas tratativas nos diferentes Estados.

Outro caso se deu quando parte do PSL tentou expulsar a candidata a deputada federal Joice Hasselmann da sigla.

Bebianno queria que Letícia fosse nomeada como representante do Conselho de Ética para o serviço, algo que ela se negou a fazer e ainda contou a trama para Jair Bolsonaro. O presidenciável barrou a expulsão.

Mais recentemente, Letícia criticou o plano de transferência de Bolsonaro de Juiz de Fora (MG) para São Paulo após a tentativa de assassinato.

Bebianno queria levar o presidenciável ao hospital Sírio-Libanês já pensando até mesmo em seduzir o médico Roberto Kalil para ser um futuro cargo de ministro da Saúde no caso de uma vitória do candidato do PSL. Bolsonaro, que considera o Sírio o "hospital dos petistas", preferiu ir para o hospital Albert Einstein.

Ainda segundo pessoas que convivem com Letícia, ela também chamou a atenção da família Bolsonaro, de forma crítica, sobre a arrecadação de recursos que o ruralista Nabhan Garcia (que se autointitula futuro ministro da Agricultura) estava organizando via WhatsApp com empresários sob pretexto de viabilizar o deslocamento do candidato entre Minas e São Paulo.

Fase 2

Em meio à confusão no PSL e à tentativa de assassinato, Bebianno viu o que até então era seu maior poder dentro da estrutura da campanha – o controle da agenda de Bolsonaro – se esvair.

Nisso, imediatamente tomou duas ações. Passou a querer controlar a agenda do candidato a vice na chapa, general Mourão (PRTB).

A ação causou profunda irritação no presidente do PRTB, Levy Fidelix. A inimizade entre os dois tornou-se tamanha que pessoas da campanha dizem num encontro entre eles são altas as chances de chegarem às vias de fato.

Além disso, Bebianno assumiu outra função que lhe garantiria poder no núcleo duro do bolsonarismo: transformou-se numa espécie de porteiro do hospital Albert Einstein quando o assunto eram as visitas ao presidenciável.

Fora os familiares, era Bebianno quem decidia – e ainda o decide – quem pode ou não visitar Bolsonaro.

Chegou a barrar militantes e até mesmo um médico que no dia anterior estava com o Bolsonaro em sua sala de recuperação.

Quem não tivesse o aval de Bebianno nem mesmo na cafeteria do hospital conseguia chegar.

A "nova função" deve ter tomado o tempo do presidente em exercício do PSL, que é advogado e coordena a estratégia jurídica da campanha de Bolsonaro – o partido nem sequer enviou um advogado para atuar como assistente de acusação na investigação que apura a tentativa de assassinato do candidato.

Com a expulsão de Letícia de todos os cargos dentro do partido, pelo menos outros cinco integrantes do diretório paulista do PSL também devem deixar seus postos.

De acordo com um deles, ouvido pelo BuzzFeed News, apesar da frustração com a expulsão de Letícia Catel e da demonstração de poder do grupo de Bebianno, a ideia não é sair atirando.

Segundo ele, Letícia lhe disse que vai seguir como uma militante pró-Bolsonaro, o que ele e os demais integrantes que devem deixar o diretório também devem fazer.

“Não queremos prejudicar o projeto neste momento”, comentou.

Há no PSL quem defenda que o partido volte atrás e reconduza Letícia a seus cargos. Para isso, ela dependeria de Bebianno no plano nacional e do deputado Major Olímpio no caso paulista, uma vez que ele é o presidente do diretório regional. Mas, a depender do major, isso aparentemente não deve acontecer.

Quando a expulsão de Catel ainda era tratada como sigilo até mesmo para pessoas com certa importância no partido, foi Olímpio quem confirmou ao BuzzFeed News a destituição da militante dos cargos partidários.

Segundo ele, ela não fará falta e há outros mais preparados que Catel para o posto.

Outro lado

Procurada na manhã de hoje, antes da publicação desta reportagem, a assessoria do PSL não respondeu aos questionamentos da reportagem.

Também procurada nesta manhã, a ex-secretária-geral do PSL de São Paulo, Letícia Catel, não quis comentar a publicação.

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