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"Eu fui para a linha frente no combate ao coronavírus. E acabei contaminado."

Helio Bacha, 70, não se diz arrependido. “Sou um epidemiologista. Quando vejo uma crise como essa, não posso pular fora.”

“Eu estava na linha de frente. Tenho 70 anos. Sou um epidemiologista, quando vejo uma crise como essa, não posso pular fora.”

Helio Bacha é consultor técnico da Sociedade Brasileira de Infectologia e médico de um dos principais hospitais de São Paulo. Entre seus pares, é considerado um dos maiores conhecedores das doenças infecciosas no Brasil. Sem temer o coronavírus frente à realidade de cuidar de seus pacientes, o médico – que devido à idade está num grupo de risco elevado, com taxa de mortalidade próxima de 20% – acabou contaminado com a Covid-19, a doença causada pelo coronavírus.

O infectologista conversou com o BuzzFeed News na tarde destas quarta-feira (1º), no sexto dia da doença. Estava com a voz firme e, não fosse o próprio médico falar de sua condição, não seria possível identificar nenhum sinal de gripe em sua fala.

“Do dia zero ao dia oito, após o aparecimento dos sintomas, não causa problema. O problema é o dia oito ao dia doze. Aí que complicações acontecem”, disse.

Em isolamento domiciliar, Bacha está em casa e está tendo seu tratamento feito por uma colega médica.

Segundo ele, as muitas comparações que se fazem da Covid-19 com gripes e resfriados são incorretas e não devem ser disseminadas.

“Não é uma gripe, é uma doença que evolui com características clínicas inteiramente diferente de outros resfriados. Não tem nada de semelhante. É uma doença nova”, disse.

Enquanto estava trabalhando no tratamento dos pacientes com a Covid-19, ele ficou sabendo por colegas que o presidente Jair Bolsonaro teria usado a rede nacional de rádio e televisão para defender o afrouxamento do isolamento social e comparou o coronavírus a uma “gripezinha”.

“Quando me falaram do discurso do presidente, que ele falou que o Brasil não podia parar, que ia morrer gente mas isso era normal, achei que fosse pegadinha. Foi um dia de muito trabalho no hospital e me pegou de surpresa”, disse.

Defensor das medidas de isolamento, Bacha diz que Bolsonaro, em diversas ocasiões – em discursos, participando de manifestações ou dando uma volta pelo comércio do Distrito Federal – deseducou a população e a colocou numa posição de risco.

“O presidente da República influencia as pessoas. Aqui no Brasil ficou um discurso negacionista muito forte puxado pela militância bolsonarista. Aquela coisa de 'eu morro pelo meu capitão'. Aquilo foi um desastre. Altamente deseducador. É um exemplo de como se deseducar. Ele passou do limite e teve de recuar”, disse, referindo-se ao último discurso do presidente em rede nacional quando chamou o coronavírus de “maior desafio da nossa geração”.

O infectologista ainda chamou a atenção para a necessidade de união entre os cidadãos e o governo para tentar reduzir a altura da curva de pessoas que serão infectadas pelo coronavírus.

“Cada um faz sua parte. É preciso lavar as mãos, manter 1,5 metro de distância uns dos outros e ficar em casa. O resto todo está nas mãos de um projeto de Estado. Individualmente ninguém se salva”, disse.

Enxergando um cenário de luta política entre setores da esquerda e do centro contra seguidores mais fiéis de Bolsonaro por conta da pandemia, Bacha comentou que o vírus não tem ideologia e que esse debate está errado.

“Isso não é ideológico. Burrice não é monopólio nem da direita nem da esquerda.”

Questionado sobre o isolamento vertical, proposto por Bolsonaro, em que somente pessoas dos grupos de risco deveriam se isolar, deixando que os demais retornassem para a vida normal, Bacha se disse contrário.

“Isolamento vertical é um termo inventado por alguém que não quer fazer isolamento. Não existe essa opção.”

De acordo com ele, a fórmula para achatar a curva de progressão da doença, além das medidas individuais já citadas, é manter o bloqueio e permitir temporariamente apenas o funcionamento das atividades essenciais, como a dos próprios hospitais e dos setores de abastecimento.

“Num momento como esse é preciso também de solidariedade”, disse.

Além de Bacha, há cerca de 1.400 profissionais de saúde com suspeita ou confirmação de coronavírus entre 12 dos maiores hospitais de São Paulo, de acordo com levantamento do G1 e da TV Globo.

Enfrentando a doença, e prestes a entrar em seu período mais severo, Bacha quer se recuperar e poder voltar ao trabalho para ajudar a salvar vidas durante a pandemia.

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