Se o até então fiel escudeiro de Michel Temer no Congresso precisava de uma desculpa para tentar se descolar de um presidente considerado ruim ou péssimo por 73% dos brasileiros, segundo o último Datafolha, o senador e presidente do MDB, Romero Jucá, achou a perfeita: a entrada de venezuelanos em Roraima.
Num triplo empate técnico em seu Estado, Jucá está numericamente em terceiro na disputa pelo Senado, segundo Ibope divulgado na semana passada.
Crítico ao ingresso dos venezuelanos, Jucá deixou a liderança do governo Michel Temer alegando que o presidente não vinha adotando medidas que o senador considera necessárias para impedir o acesso dos cidadãos do país vizinho.
Com uma única jogada, Jucá conseguiu um duplo ganho eleitoral. Se descolou de Temer, considerado uma âncora para qualquer candidato que dispute um cargo eletivo, e ainda sintoniza o discurso com boa parte do eleitorado de Roraima, contrária à presença de venezuelanos no Estado.
Oficialmente, Jucá disse a jornalistas que não rompeu com o governo, mas nessa questão pontual, dos venezuelanos, é um adversário de Temer. E, assim sendo, não teria como criticar o presidente e ao mesmo tempo liderar a bancada governista.
A crise humanitária, acabou servindo como uma luva para os planos políticos de Jucá, que busca renovar seu mandato e ser um dos mais influentes do Senado.
Na Casa, inclusive, após o anúncio do rompimento, alguns brincavam dizendo que o afastamento de Temer nada mais é do que Jucá já se preparando para ser líder do próximo governo – seja ele qual for.
Na política, teve cargos importantes no governo de José Sarney e Fernando Collor. Foi líder de FHC, Lula, Dilma e de Temer.
No impeachment, foi um dos principais articuladores e ainda conseguiu transformar uma conversa gravada por um dos delatores da Lava Jato num bordão para quando se precisa livrar a cara de políticos enrolados na Justiça.
A famosa sentença dizendo que é preciso de um grande acordo nacional para se estancar a sangria, “com o Supremo [Tribunal Federal], com tudo”.